Pesquisadores definem fronteiras do 1º Estado-sociedade na península ibérica (FOTOS)
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Uma recente pesquisa acadêmica identificou as fronteiras econômicas e políticas que delinearam El Argar, a primeira estrutura estatal na península ibérica, há aproximadamente 4.000 anos.
Conduzida por acadêmicos da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e do Instituto Max Planck de Antropologia Social, a pesquisa que identificou as fronteiras de El Argar, foi publicada no Journal of Archaeological Method and Theory e utilizou uma análise inovadora da produção e circulação de cerâmica na província de Múrcia.
El Argar, reconhecida como a primeira estrutura estatal na península ibérica, manteve relacionamentos complexos com comunidades vizinhas da Idade do Bronze, como La Mancha e Valência, que tinham sistemas sociais menos centralizados. Essas interações foram caracterizadas por uma rede de trocas que influenciaram práticas econômicas e hierarquias sociais na região.
A metodologia utilizou uma abordagem que combinava pesquisas arqueológicas, análises petrográficas e sistemas de informações geográficas (GIS, na sigla em inglês), e permitiu reconstruir as interações entre esses grupos durante a Idade do Bronze Inicial (2200-1550 a.C.), permitindo traçar a dinâmica das fronteiras e sua influência nas configurações sociais da época.
© Foto / Journal of Archaeological Method and TheoryMapa da área investigada e de todos os assentamentos estudados

Mapa da área investigada e de todos os assentamentos estudados
A análise revelou padrões claros de interação entre El Argar e suas comunidades vizinhas, destacando zonas ativas de troca e negociação. Adrià Moreno Gil, pesquisador do Instituto Max Planck e principal autor do estudo, observou que os vasos de cerâmica refletiam as redes econômicas e políticas da época.
O estudo focou na produção de cerâmica na bacia do rio Segura, onde as cerâmicas argáricas eram predominantemente encontradas nos assentamentos do sul, indicando uma rede de distribuição regional controlada por El Argar. Em contraste, a parte norte do território exibia pequenas oficinas de cerâmica utilizando argilas locais, sugerindo sistemas econômicos distintos entre as comunidades.
© Foto / ASOME-UABCálice de cerâmica, emblemático da fase de expansão de El Argar (E), de J.A. Soldevilla pela ASOME-UAB; e cerâmica das comunidades periféricas de El Argar, encontrada no Cerro de la Campana (Yecla)

Cálice de cerâmica, emblemático da fase de expansão de El Argar (E), de J.A. Soldevilla pela ASOME-UAB; e cerâmica das comunidades periféricas de El Argar, encontrada no Cerro de la Campana (Yecla)
© Foto / ASOME-UAB
Essa disparidade na produção e distribuição de cerâmica destaca a existência de relações assimétricas entre os grupos ibéricos do sudeste. O domínio de El Argar se estendeu além de recursos estratégicos como metais para itens cotidianos como cerâmica, reforçando um sistema centro-periferia que favorecia a sociedade argárica.
Para a coautora do estudo, Carla Garrido García, a análise de cerâmica é crucial para entender as trocas econômicas e relações sociais em contextos pré-históricos, permitindo ainda estabelecer um novo método para estudar outras culturas contemporâneas, como a cultura Únetice na Europa Central e a civilização minoica em Creta.