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Análise: com o protecionismo em ascensão, o pacto Mercosul-UE não é mais tão vantajoso para o Brasil
Análise: com o protecionismo em ascensão, o pacto Mercosul-UE não é mais tão vantajoso para o Brasil
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que mais interessante que firmar um acordo com a UE, seria o Mercosul diversificar sua pauta de exportações... 10.04.2025, Sputnik Brasil
2025-04-10T19:08-0300
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Firmado em dezembro do ano passado, após mais de duas décadas de negociações, o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) ainda não foi ratificado, levantando dúvidas se um dia sairá de fato do papel.Enquanto o pacto tramita, o Mercosul costura um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), bloco composto por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, e negocia um tratado com o Japão, sob a liderança do Brasil. Ademais, o bloco sul-americano mantém, desde 2018, um memorando de cooperação com a União Econômica Eurasiática (UEE).Um elemento que reacendeu a esperança de que o acordo Mercosul-UE saia do papel é a nova agenda econômica externa dos EUA, pautada por uma guerra comercial implementada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que usa tarifas como arma.Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se a guerra tarifária liderada por Trump pode fazer com que o acordo com o Mercosul se torne mais atraente para a UE, como uma alternativa aos EUA, e seja finalmente ratificado, ou se o pacto entre os blocos vai se tornar uma lenda.O entrave da questão agrícolaCorival Alves do Carmo, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica que a política agrícola comum da UE sempre foi protecionista e composta por uma série de subsídios. Ele afirma que a Europa não tem como abrir mão dessa política, porque ela é um dos fundamentos do próprio processo de integração europeia.No recorte do Brasil, Alves afirma que há um pressuposto de que o acordo seria um processo benéfico para o país, "o que não é necessariamente verdade"."Estamos supondo que a integração com a Europa vai gerar crescimento, mas não é o caso necessariamente. […] Querendo ou não, hoje você tem toda essa discussão sobre o comércio e o papel do comércio internacional que a agenda norte-americana está colocando de novo [em evidência]", afirma.Alves observa que, antes, a liberalização era considerada sempre a política mais correta, mas agora a discussão em torno da agenda protecionista estadunidense colocou novamente a questão do livre comércio em xeque, expondo suas consequências eventualmente negativas.Somado a isso, ele afirma que se o Brasil avançar na retomada do processo de industrialização e em políticas de desenvolvimento, "a vigência do acordo Mercosul-UE seria um entrave a esse processo".Brasil deveria priorizar acordos com outros países e blocos fora a UE?Para Alves, acordos como os que vêm sendo negociados com a EFTA e o Japão são secundários e, considerando que o principal setor exportador brasileiro é o agrícola, o agronegócio, "esses acordos têm um papel secundário".Segundo ele, mais interessante para o Mercosul seria diversificar a pauta de exportações, independentemente de se estabelecer novos acordos de livre comércio. "Isso aprofundaria as possibilidades do desenvolvimento e do crescimento econômico na região."Alves afirma que o acordo não é uma alavanca para promover o crescimento regional de parceiros do Mercosul, mas uma vantagem política, já que o Brasil tem a vantagem de ser um player no comércio global. Ademais, ele avalia que o Brasil tem dificuldade em negociações bilaterais fora do continente sul-americano, por isso tem preferências por fóruns multilaterais.Marcelo Balloti Monteiro, professor visitante no curso de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC), também afirma ser reticente quanto aos benefícios que o acordo Mercosul-UE pode trazer para o setor industrial do Brasil, que ele afirma sofrer com um processo de desindustrialização, que pode ser agravado com o pacto. Por isso, ele afirma que, no todo, não vê o acordo com bons olhos.Monteiro destaca ainda que não é apenas a França o principal entrave ao acordo, mas também a Irlanda."Ambos os países possuem o setor agropecuário extremamente protegido e subsidiado, e a entrada em vigor desse acordo poderia colocar em perigo esse setor, dadas as vantagens comparativas que os países do Mercosul possuem frente aos seus competidores europeus. E lá, diferentemente de cá, os protestos que o setor faz são levados em consideração pela classe política", afirma o especialista.Porém, Monteiro avalia que a guerra comercial de Trump, com a imposição de tarifas sobre importados, "tem feito com que os demais players do comércio internacional busquem alternativas e novos parceiros comerciais, que nesse contexto são mais do que necessários". Dessa forma, ele avalia que as negociações do Mercosul com a EFTA e o Japão são essenciais.Entretanto, ele afirma que negociações de acordos comerciais são complexas e demandam tempo, embora "não necessariamente 20 anos, como tem sido o acordo Mercosul e União Europeia"."Acredito que o mais importante a ser salientado é que a guerra tarifária dos Estados Unidos vai levar todos os países a buscarem alternativas aos produtos norte-americanos e, nesse contexto, talvez a maior vencedora seja a China."Monteiro é cético quanto à possibilidade do acordo de impulsionar o multilateralismo como alternativa ao mundo bipolar. Ele frisa que a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era assinar o acordo durante a presidência do Brasil no bloco, assumida ao longo do segundo semestre de 2023."O multilateralismo está sofrendo um golpe duro após a reeleição de Donald Trump. E aí precisamos pensar em multilateralismo no âmbito mais amplo do termo. Os EUA estão esvaziando a maioria das instituições multilaterais que foram criadas por eles mesmo no pós-Segunda Guerra Mundial. Em termos restritos ao comércio internacional, a OMC não vem funcionando bem há tempos. Portanto, não vejo que a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia sirva para incentivar o multilateralismo. Acredito que a guerra tarifária terá mais relevância para buscas de novas parcerias do que uma eventual assinatura do acordo entre os dois blocos", conclui o analista.
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américas, europa, economia, donald trump, estados unidos, japão, brasil, mercosul, associação europeia de livre comércio (efta), sputnik brasil, acordo de livre comércio entre união europeia e mercosul, união europeia, omc, multilateralismo, exclusiva, luiz inácio lula da silva
Análise: com o protecionismo em ascensão, o pacto Mercosul-UE não é mais tão vantajoso para o Brasil
19:08 10.04.2025 (atualizado: 20:07 10.04.2025) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que mais interessante que firmar um acordo com a UE, seria o Mercosul diversificar sua pauta de exportações, e se mostram céticos quanto ao potencial do pacto para promover o desenvolvimento regional sul-americano e o multilateralismo.
Firmado em dezembro do ano passado, após mais de duas décadas de negociações, o
acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) ainda não foi ratificado,
levantando dúvidas se um dia sairá de fato do papel.
Enquanto o pacto tramita, o Mercosul costura um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), bloco composto por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, e negocia um tratado com o Japão, sob a liderança do Brasil. Ademais, o bloco sul-americano mantém, desde 2018, um memorando de cooperação com a União Econômica Eurasiática (UEE).
Um elemento que reacendeu a esperança de que o acordo Mercosul-UE saia do papel é a nova agenda econômica externa dos EUA, pautada por uma guerra comercial implementada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que usa tarifas como arma.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se a guerra tarifária liderada por Trump pode fazer com que o acordo com o Mercosul se torne mais atraente para a UE, como uma alternativa aos EUA, e seja finalmente ratificado, ou se o pacto entre os blocos vai se tornar uma lenda.
O entrave da questão agrícola
Corival Alves do Carmo, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica que a política agrícola comum da UE sempre foi protecionista e composta por uma série de subsídios. Ele afirma que a Europa não tem como abrir mão dessa política, porque ela é um dos fundamentos do próprio processo de integração europeia.
"No caso particular, a França é o principal país que se beneficia da política agrícola comum. A agricultura europeia, a questão da produção de açúcar, a questão da pecuária, nada disso tem condições de competir com a produção brasileira sem os subsídios, sem as políticas protecionistas. Portanto, se você efetivar o acordo, vai ter um desafio para a produção interna", explica.
No recorte do Brasil, Alves afirma que há um pressuposto de que o acordo seria um processo benéfico para o país, "o que não é necessariamente verdade".
"Estamos supondo que a integração com a Europa vai gerar crescimento, mas não é o caso necessariamente. […] Querendo ou não, hoje você tem toda essa discussão sobre o comércio e o papel do comércio internacional que a agenda norte-americana está colocando de novo [em evidência]", afirma.
Alves observa que, antes, a liberalização era considerada sempre a política mais correta, mas agora a discussão em torno da agenda protecionista estadunidense colocou novamente a questão do livre comércio em xeque, expondo suas consequências eventualmente negativas.
"É possível também que o acordo entre em vigor e, na prática, ele não tenha efetividade, porque o cenário mundial muda por uma tendência maior ao protecionismo. Então, só vai haver clareza sobre o que vai se passar no acordo entre o Mercosul e a União Europeia na medida em que fique claro quais vão ser as tendências dentro do comércio internacional em geral."
Somado a isso, ele afirma que se o Brasil avançar na retomada do processo de industrialização e em políticas de desenvolvimento, "a vigência do acordo Mercosul-UE seria um entrave a esse processo".
Brasil deveria priorizar acordos com outros países e blocos fora a UE?
Para Alves, acordos como os que vêm sendo negociados com a EFTA e o Japão são secundários e, considerando que o principal setor exportador brasileiro é o agrícola, o agronegócio, "esses acordos têm um papel secundário".
"Pensando do ponto de vista dos interesses brasileiros, o mais interessante seria você abrir mercados para a produção industrial para ter maior diversidade na sua pauta de exportações. E a lógica desses acordos comerciais nos últimos tempos não tem sido essa, é muito mais para abrir para o setor agrícola."
Segundo ele, mais interessante para o Mercosul seria diversificar a pauta de exportações, independentemente de se estabelecer novos acordos de livre comércio. "Isso aprofundaria as possibilidades do desenvolvimento e do crescimento econômico na região."
Alves afirma que o acordo não é uma alavanca para promover o
crescimento regional de parceiros do Mercosul, mas uma vantagem política, já que o Brasil tem a vantagem de ser um player no comércio global. Ademais, ele avalia que
o Brasil tem dificuldade em negociações bilaterais fora do continente sul-americano, por isso tem preferências por fóruns multilaterais.
"Então, o acordo Mercosul-União Europeia reforça essa tendência ao multilateralismo. A questão é que o multilateralismo que vai interessar agora, diante da guerra tarifária gerada pelo governo Trump, não é exatamente esse. É preciso ser um multilateralismo mais global."
Marcelo Balloti Monteiro, professor visitante no curso de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC), também afirma ser reticente quanto aos benefícios que o acordo Mercosul-UE pode trazer para o setor industrial do Brasil, que ele afirma sofrer com um processo de desindustrialização, que pode ser agravado com o pacto. Por isso, ele afirma que, no todo, não vê o acordo com bons olhos.
Monteiro destaca ainda que não é apenas a França o principal entrave ao acordo, mas também a Irlanda.
"Ambos os países possuem o setor agropecuário extremamente protegido e subsidiado, e a entrada em vigor desse acordo poderia colocar em perigo esse setor, dadas as vantagens comparativas que os países do Mercosul possuem frente aos seus competidores europeus. E lá, diferentemente de cá, os protestos que o setor faz são levados em consideração pela classe política", afirma o especialista.
Porém, Monteiro avalia que a guerra comercial de Trump, com a imposição de tarifas sobre importados, "tem feito com que os demais players do comércio internacional busquem alternativas e novos parceiros comerciais, que nesse contexto são mais do que necessários". Dessa forma, ele avalia que as negociações do Mercosul com a EFTA e o Japão são essenciais.
"Mais do que isso: ampliar os mercados poderia no médio e longo prazo reduzir a dependência dos EUA, que têm se mostrado, desde a primeira eleição de Donald Trump, um parceiro menos confiável, com atitudes cada vez mais erráticas e imprevisíveis."
Entretanto, ele afirma que negociações de acordos comerciais são complexas e demandam tempo, embora "não necessariamente 20 anos, como tem sido o acordo Mercosul e União Europeia".
"Acredito que o mais importante a ser salientado é que a guerra tarifária dos Estados Unidos vai levar todos os países a buscarem alternativas aos produtos norte-americanos e, nesse contexto, talvez a maior vencedora seja a China."
Monteiro é cético quanto à
possibilidade do acordo de impulsionar o multilateralismo como alternativa ao mundo bipolar. Ele frisa que a intenção do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva era assinar o acordo durante a presidência do Brasil no bloco, assumida ao longo do segundo semestre de 2023.
"O multilateralismo está sofrendo um golpe duro após a reeleição de Donald Trump. E aí precisamos pensar em multilateralismo no âmbito mais amplo do termo. Os EUA estão esvaziando a maioria das instituições multilaterais que foram criadas por eles mesmo no pós-Segunda Guerra Mundial. Em termos restritos ao comércio internacional, a OMC não vem funcionando bem há tempos. Portanto, não vejo que a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia sirva para incentivar o multilateralismo. Acredito que a guerra tarifária terá mais relevância para buscas de novas parcerias do que uma eventual assinatura do acordo entre os dois blocos", conclui o analista.
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