https://noticiabrasil.net.br/20250512/analise-eua-usam-bases-no-brasil-para-criar-factoide-e-provocar-o-pais-por-papel-no-brics-video-39498205.html
Análise: EUA usam bases no Brasil para criar factoide e provocar o país por papel no BRICS (VÍDEO)
Análise: EUA usam bases no Brasil para criar factoide e provocar o país por papel no BRICS (VÍDEO)
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que o plano defendido por diplomatas norte-americanos que dá aos EUA direito ao uso de bases brasileiras é... 12.05.2025, Sputnik Brasil
2025-05-12T17:47-0300
2025-05-12T17:47-0300
2025-05-12T19:06-0300
notícias do brasil
brasil
rússia
américas
donald trump
jair bolsonaro
américa latina
china
brics
constituição de 1988
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/05/0c/39498971_0:28:600:366_1920x0_80_0_0_9581008613125f87a0aa0fbf76defccf.jpg
Diplomatas estadunidenses ligados ao Partido Republicano, do presidente Donald Trump, vêm articulando em reuniões informais com interlocutores brasileiros o uso irrestrito da base do Aeroporto de Fernando de Noronha e da Base Aérea de Natal, no Rio Grande do Norte.De acordo com o portal DefesaNet, especializado em cobertura de assuntos militares, o argumento usado para defender o plano é o chamado "direito histórico de retorno operacional" por investimentos feitos pelos EUA durante a Guerra Fria.O argumento é calcado em três pilares: primeiro, aponta aportes financeiros e técnico-operacionais fornecidos pelos EUA durante a construção das estruturas. O segundo aponta que ativos militares financiados em outros países podem ser reativados com base em acordos tácitos ou no princípio de reciprocidade hemisférica, principalmente em contexto de ameaça global.O terceiro ponto envolve elementos contratuais. Apesar de ter sido rompido em 1977, o Acordo de Assistência Militar Brasil-EUA segue sendo usado como argumento em think tanks norte-americanos formuladores de políticas, como o RAND Corporation, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) e o The Heritage Foundation, como referência à chamada "tradição de interoperabilidade hemisférica".Ademais, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) — firmado em 2019, sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, criado para viabilizar o uso da base de Alcântara — é frequentemente citado como precedente político e diplomático para novas modalidades de acesso militar dos EUA a instalações sensíveis sob controle brasileiro.Nos bastidores, interlocutores do Ministério da Defesa frisam que o atual plano norte-americano é inconstitucional, já que a Constituição de 1988 veta o uso de instalações militares por forças estrangeiras, sem a autorização prévia do Congresso Nacional.Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), afirma à Sputnik Brasil que a solicitação de bases pelos diplomatas norte-americanos não tem nenhum objetivo real ou concreto, visto que nem os Estados Unidos nem o Brasil não estão em guerra e, portanto, não há necessidade operacional. "Trata-se de uma provocação política feita pelo governo Trump", avalia.Dessa forma, Gonçalves vê semelhança com as demandas norte-americanas contra a Groenlândia, o Canadá e o Panamá. "É uma provocação política", diz o especialista, "em virtude do fato de sermos um país fundador do BRICS"."Até agora, não houve nenhuma menção oficial à posição dos militares ante essa suposta consulta. Mas é de se esperar que haja rejeição", espera Gonçalves.O professor da UERJ lembra à reportagem que Trump vem reagindo à presença da China na América Latina na esperança de afastar Pequim da região, vista pelos Estados Unidos como seu "quintal". Mas para fazer isso, afirma o especialista, necessita de outra abordagem, "superando a China naquilo que ela faz"."A China tem trocado intensamente com a América Latina, tem realizado investimentos em infraestrutura, setor crucial para o desenvolvimento econômico e social. Uma coisa que os EUA nunca fizeram", observa Gonçalves.No recorte interno, ele aponta que a oposição, em seu alinhamento com Trump, terá de escolher como vai se posicionar em relação ao tema. Se eles defendem a soberania do Brasil, de maneira nenhuma poderão admitir essa fala "imperial", argumenta Gonçalves.Questionado a respeito de quais mecanismos ou parceiros o Brasil poderia recorrer contra os avanços norte-americanos, Gonçalves afirma que não há outra resposta "senão fortalecendo os seus laços com os demais integrantes do BRICS".Dentro da tradição diplomática brasileira, é justamente isso que o Brasil vem fazendo nas últimas décadas, como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS, e do qual hoje a ex-presidente Dilma Rousseff é figura máxima."É uma política de desconcentração do poder mundial e de criação de oportunidades para o desenvolvimento da periferia que a ordem internacional anterior, aquela de Bretton Woods, aquela baseada no Banco Mundial e no FMI [Fundo Monetário Internacional], ela nunca fez isso." Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), avalia à Sputnik Brasil que o uso estadunidense do arquipélago de Fernando de Noronha aparenta ser "mais uma jogada política da ultradireita brasileira" em um momento de fraqueza interna."Trata-se de um jogo da política entre a ultradireita no Brasil e o governo, uma tentativa de arregimentar suas bases, que têm uma idolatria com os Estados Unidos."Rodrigues destaca ainda que a proposta norte-americana não só é inconstitucional, como o argumento dos investimentos históricos é "esdrúxulo", uma vez que o contrato para uso das instalações foi firmado na época do governo de Getúlio Vargas e se extinguiu com o fim da Segunda Guerra Mundial.Ele frisa que tampouco os Estados Unidos teriam muito a ganhar com a ocupação de Fernando de Noronha. Seu principal parceiro estratégico, o Reino Unido, possui um "colar de bases" no Atlântico Sul, desde a ilha de Santa Helena, na altura de Angola, às Malvinas. "Essa linha já é historicamente controlada pelos britânicos."Dessa forma, essa discussão é muito mais uma "tentativa da ultradireita brasileira de criar um factoide".
brasil
américa latina
china
groenlândia
canadá
panamá
estados unidos
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2025
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/05/0c/39498971_38:0:563:394_1920x0_80_0_0_bdcdaff1e26168901cddc51b75900854.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
brasil, rússia, américas, donald trump, jair bolsonaro, américa latina, china, brics, constituição de 1988, congresso nacional, centro de estudos estratégicos e internacionais (csis), provocação, política, big stick, groenlândia, canadá, panamá, exclusiva, estados unidos, canal do panamá
brasil, rússia, américas, donald trump, jair bolsonaro, américa latina, china, brics, constituição de 1988, congresso nacional, centro de estudos estratégicos e internacionais (csis), provocação, política, big stick, groenlândia, canadá, panamá, exclusiva, estados unidos, canal do panamá
Análise: EUA usam bases no Brasil para criar factoide e provocar o país por papel no BRICS (VÍDEO)
17:47 12.05.2025 (atualizado: 19:06 12.05.2025) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que o plano defendido por diplomatas norte-americanos que dá aos EUA direito ao uso de bases brasileiras é uma manobra radical contra o governo e uma provocação política ao Brasil pela relação com parceiros do BRICS, em especial, a China.
Diplomatas estadunidenses ligados ao Partido Republicano, do presidente
Donald Trump, vêm articulando em reuniões informais com interlocutores brasileiros o
uso irrestrito da base do Aeroporto de Fernando de Noronha e da Base Aérea de Natal, no Rio Grande do Norte.
De acordo com o portal DefesaNet, especializado em cobertura de assuntos militares, o argumento
usado para defender o plano é o chamado
"direito histórico de retorno operacional" por investimentos feitos pelos EUA durante a Guerra Fria.
O argumento é calcado em três pilares: primeiro, aponta aportes financeiros e técnico-operacionais fornecidos pelos EUA durante a construção das estruturas. O segundo aponta que ativos militares financiados em outros países podem ser reativados com base em acordos tácitos ou no princípio de reciprocidade hemisférica, principalmente em contexto de ameaça global.
O terceiro ponto envolve elementos contratuais. Apesar de ter sido rompido em 1977, o Acordo de Assistência Militar Brasil-EUA segue sendo usado como argumento em think tanks norte-americanos formuladores de políticas, como o RAND Corporation, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) e o The Heritage Foundation, como referência à chamada "tradição de interoperabilidade hemisférica".
Ademais, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) — firmado em 2019,
sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, criado para
viabilizar o uso da base de Alcântara — é frequentemente citado como precedente político e diplomático para novas modalidades de acesso militar dos EUA a
instalações sensíveis sob controle brasileiro.
Nos bastidores, interlocutores do Ministério da Defesa frisam que o atual plano norte-americano é inconstitucional, já que a Constituição de 1988 veta o uso de instalações militares por forças estrangeiras, sem a autorização prévia do Congresso Nacional.
Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), afirma à
Sputnik Brasil que a
solicitação de bases pelos diplomatas norte-americanos não tem nenhum objetivo real ou concreto, visto que nem os Estados Unidos nem o Brasil não estão em guerra e, portanto, não há necessidade operacional.
"Trata-se de uma provocação política feita pelo governo Trump", avalia.
"Pelo fato de o Brasil ter uma relação especial com Rússia e China, países que formam o núcleo do BRICS, Trump pretende criar um constrangimento externo e interno para o Brasil com essa solicitação descabida", afirma Gonçalves.
Dessa forma, Gonçalves vê semelhança com as
demandas norte-americanas contra a Groenlândia, o Canadá e o Panamá. "É uma provocação política", diz o especialista, "em virtude do fato de sermos um país fundador do BRICS".
"Até agora, não houve nenhuma menção oficial à posição dos militares ante essa suposta consulta. Mas é de se esperar que haja rejeição", espera Gonçalves.
O professor da UERJ lembra à reportagem que Trump vem reagindo à presença da China na América Latina na esperança de afastar Pequim da região, vista pelos Estados Unidos como seu "quintal". Mas para fazer isso, afirma o especialista, necessita de outra abordagem, "superando a China naquilo que ela faz".
"A China tem trocado intensamente com a América Latina, tem realizado investimentos em infraestrutura, setor crucial para o desenvolvimento econômico e social. Uma coisa que os EUA nunca fizeram", observa Gonçalves.
No recorte interno, ele aponta que a oposição, em seu alinhamento com Trump, terá de escolher como vai se posicionar em relação ao tema. Se eles defendem a soberania do Brasil, de maneira nenhuma poderão admitir essa fala "imperial", argumenta Gonçalves.
"Como se aliar a um Estado, a um presidente que se pronuncia nesses termos?"
Questionado a respeito de quais mecanismos ou parceiros o Brasil poderia recorrer contra os avanços norte-americanos, Gonçalves afirma que não há outra resposta "senão fortalecendo os seus laços com os demais integrantes do BRICS".
Dentro da tradição diplomática brasileira, é justamente isso que o Brasil vem fazendo nas últimas décadas, como a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como Banco do BRICS, e do qual hoje a ex-presidente Dilma Rousseff é figura máxima.
"É uma política de desconcentração do poder mundial e de criação de oportunidades para o desenvolvimento da periferia que a ordem internacional anterior, aquela de Bretton Woods, aquela baseada no Banco Mundial e no FMI [Fundo Monetário Internacional], ela nunca fez isso."
"Ela sempre foi uma ordem econômica internacional que favorecia o enriquecimento dos ricos e o empobrecimento dos pobres."
Thiago Rodrigues, professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), avalia à Sputnik Brasil que o uso estadunidense do arquipélago de Fernando de Noronha aparenta ser "mais uma jogada política da ultradireita brasileira" em um momento de fraqueza interna.
"Trata-se de um jogo da política entre a ultradireita no Brasil e o governo, uma tentativa de arregimentar suas bases, que têm uma idolatria com os Estados Unidos."
Rodrigues destaca ainda que a proposta norte-americana não só é inconstitucional, como o argumento dos investimentos históricos é "esdrúxulo", uma vez que o contrato para uso das instalações foi firmado na época do governo de Getúlio Vargas e se extinguiu com o fim da Segunda Guerra Mundial.
"Não houve contrato, como o do canal do Panamá, de utilização por décadas. Então esse argumento de direitos históricos é esdrúxulo, não faz o menor sentido."
Ele frisa que tampouco os Estados Unidos teriam muito a ganhar com a ocupação de Fernando de Noronha. Seu principal parceiro estratégico, o Reino Unido, possui um "colar de bases" no Atlântico Sul, desde a ilha de Santa Helena, na altura de Angola, às Malvinas. "Essa linha já é historicamente controlada pelos britânicos."
Dessa forma, essa discussão é muito mais uma "tentativa da ultradireita brasileira de criar um factoide".
"Criar um problema, gerar um problema, para fazer com que o governo brasileiro diga que é um absurdo, e então a ultradireita poder dizer que o governo brasileiro é anti-americano."
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).