- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Tarifaço de Trump no contexto atual do BRICS provoca dano irreversível para os EUA, diz analista

© AP Photo / Evan VucciO presidente dos EUA, Donald Trump, segura uma ordem executiva assinada durante um evento para anunciar novas tarifas, no Roseiral da Casa Branca. Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025
O presidente dos EUA, Donald Trump, segura uma ordem executiva assinada durante um evento para anunciar novas tarifas, no Roseiral da Casa Branca. Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2025
Nos siga no
Especiais
A política de tarifas imposta pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, acelerou a "corrosão da autoridade moral" do país como nação líder do Ocidente, afirma o pesquisador do Núcleo de Estudos dos Países BRICS (NuBRICS), da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lier Pires Ferreira, em entrevista à Sputnik Brasil, no podcast Mundioka.
Ao lembrar que Trump já havia implementado essa estratégia em seu primeiro governo, entre 2017 e 2021, ele enfatizou que naquela época o BRICS não era a potência que é hoje. A medida atual representa um dano irreparável, avaliou.

"Quando uma potência como os Estados Unidos começa a adotar medidas unilaterais visando a […] objetivos meramente egoísticos, ela deixa de ser uma potência confiável para o mundo e fundamentalmente para os seus parceiros. E esse é um dano que me parece irreversível no contexto do governo Donald Trump."

Mundioka #620 - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2025
Mundioka
O que o BRICS ganha com o tarifaço de Trump?
O geógrafo e especialista em estudos estratégicos internacionais Diego Pautasso também conversou sobre o assunto com o Mundioka. Assim como seu colega da UFF, ele sinalizou a perda da hegemonia econômica, tecnológica e política dos EUA como o calcanhar de aquiles da política de Trump, ao impor seus interesses através do dólar e de uma agenda financeira global que ele já não tem.

"Em pouco mais de 25 anos, esse cenário mudou rapidamente […]. O que acontece agora, no século XXI, é que temos países gigantes, sobretudo a China, mas também a Rússia, o Brasil, a Índia e o Sul Global, que crescem em velocidade maior que a da média mundial; mercados dinâmicos. No caso da China, o maior parceiro comercial de quase 150 países, tem um papel de financiamento de obras pelo mundo que é mais importante do que o do FMI [Fundo Monetário Internacional] e o do Banco Mundial."

Os Estados Unidos há muito deixaram de ser uma potência confiável, afirmou Ferreira, chegando a um ponto em que até mesmo a Arábia Saudita, aliada estratégica de longa data dos EUA, além de parceira comercial, vem diversificando suas parcerias.

"Ela [Arábia Saudita] continua participando cada vez mais organicamente dos encontros do BRICS, inclusive deverá estar presente aqui no Brasil nos próximos dias 6 e 7 de julho [quando ocorre a 17ª Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro]. [...] mesmo os aliados mais próximos dos Estados Unidos, seja na Europa, na América do Norte ou no Oriente Médio, já começam a buscar alternativas estratégicas, porque percebem esse caráter pouco confiável dos EUA", disse Ferreira.

Além disso, lembrou o especialista da UFF, as declarações e movimentações de Trump atiçaram os sentimentos nacionalistas de alguns países, como Canadá, Panamá e México, parceiros estratégicos dos EUA que se viram ameaçados pelas declarações do republicano.
No caso do México, o presidente estadunidense afirmou que o golfo do México deveria se chamar golfo da América, forçando a mudança em plataformas como Google, e ameaçou o país com manobras militares para lidar com o narcotráfico. Já o Panamá enfrentou ameaças de ter seu canal tomado, e o Canadá, de se tornar o 51º estado norte-americano.
Agronegócio brasileiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 06.05.2025
Notícias do Brasil
Análise: guerra tarifária cria oportunidade para o agro brasileiro alavancar reindustrialização
Pautasso, que também é diretor de pesquisas do Centro de Estudos Avançados Brasil-China e autor de livros como "China e Rússia no pós-Guerra Fria", endossou a afirmação de Ferreira ao avaliar que as políticas de Trump abriram brecha para países como a China estabelecerem e aprofundarem relações logo após o tarifaço.
Um exemplo disso foram as viagens de Xi Jinping ao Vietnã, à Tailândia e a países do Sudeste Asiático após a enxurrada de taxas ser apresentada.
Na opinião do geógrafo, o presidente dos EUA governa o país como chefe de uma empresa que toma decisões sem levar em consideração os funcionários:

"Um gestor no mínimo limitado para uma grande corporação, mas ainda mais limitado para um sistema internacional absolutamente complexo e para uma posição de que os Estados Unidos gozavam desde a Segunda Guerra Mundial, que é de grande centralidade."

Pautasso salientou que não faltam exemplos de novas alternativas, antes improváveis, frente ao unilateralismo estadunidense. Um dos mais recentes, elencou, é o ingresso da Colômbia, um país historicamente sob o guarda-chuva diplomático de Washington, na Iniciativa Cinturão e Rota:

"É uma decisão que revela o interesse dos países de diversificar seu comércio, reduzir a dependência dos Estados Unidos, e abre uma brecha enorme para a China, para o Brasil, para os outros membros do BRICS no sentido do fortalecimento das relações no âmbito Sul-Sul."

Um sistema de pagamentos alternativo criado e liderado pelo BRICS, que também parecia improvável há alguns anos, tem sido cada vez mais acolhido para escapar da hegemonia e do poder coercitivo do dólar, de acordo com os entrevistados.

“Nos encontros do BRICS cada vez mais se discute ou a criação de uma unidade de medida, de uma unidade de conta para o comércio internacional, ou, eventualmente, de uma cesta de moedas. […] obviamente que a eventual substituição ou alternativa ao dólar, ela não é nem rápida nem trivial. Existem muitas contradições em jogo. Por outro lado, a necessidade e os movimentos de desdolarização e criação de alternativas têm sido múltiplas e cada vez mais importantes", ponderou Pautasso.

Vários países têm feito acordos de comércio em moedas locais, argumentou ele, como Rússia e China.

"O Brasil já firmou acordos também nessa direção, e acredito que a própria ampliação do BRICS com países que têm grandes reservas de petróleo […] visa, por um lado, ampliar a concertação política no âmbito Sul-Sul para a produção dessa alternativa e, por outro lado, fortalecer o lastro material para essas novas unidades de medida."

Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала