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Indústria brasileira: apesar de 'horizonte negativo', BRICS pode ajudar na retomada do setor

© Foto / Reprodução / Carol Garcia / GOVBAComplexo acrílico da empresa de indústria química BASF em Camaçari (BA)
Complexo acrílico da empresa de indústria química BASF em Camaçari (BA) - Sputnik Brasil, 1920, 02.06.2025
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Com um modelo de industrialização baseado na substituição de importações e criado ainda na Era Vargas, há mais de 50 anos, o Brasil tem muito a aprender e evoluir com os parceiros do BRICS, segundo analistas ouvidos nesta segunda-feira (2) pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
Para os entrevistados, o Brasil precisa de um projeto de Estado que busque a neoindustrialização com preocupação ambiental, inclusão e desenvolvimento de longo prazo:
Vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP) e autor do livro "A ilusão neoliberal da indústria", Haroldo Silva comenta que um dos grandes saltos para a indústria brasileira em articulação com as economias do BRICS envolve contratos e parcerias que incluam transferência de tecnologia:

"O Brasil pode fornecer os alimentos e as proteínas necessários e suficientes à China e à Índia, países extremamente populosos. E ao mesmo tempo pode exigir, em contrapartida, a transferência de tecnologia para placas solares, para vários segmentos da indústria na área, por exemplo, de tecnologia da informação, de transmissão de dados, que os chineses dominam bastante", disse ele.

Do ponto de vista bélico, ele mencionou a Rússia e sua tecnologia militar.
"Embora sejamos um país bastante pacífico, é importante que estejamos preparados para dissuadir qualquer tipo de intervenção internacional. Temos a Amazônia, temos a Margem Equatorial, com bastante petróleo."
No longo prazo, essas trocas podem ser altamente promissoras para a construção de centros de desenvolvimento de tecnologia com inteligência artificial, exemplificou ele.
"Temos energia, inclusive energia solar, que pode, de uma forma ou de outra, ser uma vantagem comparativa para nós."
Para o professor de geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ) Pablo Ibanez, o Brasil pode e deve aproveitar bastante o BRICS, sobretudo no âmbito do fórum comercial, que oferece inúmeras reuniões e trocas com empresários de diferentes mercados.
Ele destacou as indústrias de defesa, de óleo e gás e naval como grandes diferenciais do Brasil que precisam de uma retomada: "Poderiam ser bastante aproveitadas dentro desse contexto".
O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado "banco do BRICS", segundo Ibanez, também pode ser um instrumento potente nesse sentido.

"Todos os setores estão ligados. A transição energética, a economia verde, eu acho que teriam no banco uma possibilidade muito clara para poder utilizar recursos, para poder fazer grandes projetos, e projetos importantes […]. O banco tem uma clara visão em relação a isso, contrária à que a gente está assistindo aqui na nossa vizinhança próxima, que é uma agenda negacionista, uma agenda mais voltada a petróleo. Mas o banco teria esse papel muito fundamental."

Ambos os analistas, no entanto, lamentaram que o Brasil careça de um projeto de longo prazo, que seja de Estado, e não de governo:

"Não podemos pensar somente na eleição de 2026 e em outras eleições adiante. A gente tem que pensar com um propósito mais amplo. E, certamente, a ideologia que dominou o Brasil, que foi o neoliberalismo, não vai nos ajudar, porque a gente vai precisar de uma articulação do Estado e da iniciativa privada para romper esse marasmo", disse o economista.

Ele sublinhou que ter uma indústria forte é questão, inclusive, de saúde pública e de soberania, ao lembrar do período da pandemia de COVID-19, com a falta de respiradores no país, que eram majoritariamente importados.

"A gente fala de commodities, por exemplo, minério de ferro, soja etc. Isso fica mais tranquilo de ser administrado, porque não é todo lugar no mundo que tem soja — não importa o preço dela, você tem determinados lugares que tem —, e o Brasil tem essa vantagem competitiva. No caso de produtos industriais, é diferente. Ou você tem um conjunto de elementos que lhe dão vantagem ou você não tem competitividade."

Entraves e desafios internos

Para o economista e o professor de geopolítica, o principal obstáculo para a retomada da indústria brasileira atualmente chama-se taxa de juros: "Extremamente nefasta para a indústria em especial". Uma taxa de juros real (descontada a inflação) da ordem de 10% é proibitiva para a indústria, além do Custo Brasil, elencou o especialista.
"Temos claramente uma desvantagem entre as empresas brasileiras que concorrem internacionalmente e aquelas outras empresas aqui instaladas. Segundo o Boston Consulting Group, a diferença dessas duas variáveis chega a R$ 1,7 trilhão."
Essa situação de juros altos é influenciada sobretudo pelo mercado financeiro, que domina os meios de comunicação e alguns setores da política brasileira, na opinião do economista:

"E aí, claro, vão defender os seus interesses e vão dizer que a inflação é perigosa, o risco fiscal é perigoso, portanto a gente precisa aumentar juros. Parece ser muito simples essa resposta, [mas] […] a solução para um país como o Brasil, certamente, vai muito além da taxa de juros elevada", opinou.

Ibanez também ressaltou que o país está engessado em um modelo baseado na questão fiscal:

"No tal tripé macroeconômico, e isso vem impedindo bastante um debate mais amplo do que deveria ser um desenvolvimento nacional e de qual seria o papel da indústria nisso tudo", avaliou.

Ao enfatizar que industrialização envolve investimento em ciência, tecnologia, inovação e comércio exterior, ele reforçou a afirmação do outro entrevistado:
"Indústria exige dinheiro pesado e dinheiro a longo prazo, e um dinheiro a longo prazo com o maior juro real do planeta é impraticável."
Com as cadeias produtivas cada vez mais integradas e a industrialização chinesa, responsável por 40% das exportações do mundo inteiro, conseguir um espaço maior na indústria, no contexto global, torna-se cada vez mais desafiador.
E, no caso brasileiro, o panorama interno é outro obstáculo relevante, segundo Ibanez:

"O horizonte que a gente está vivenciando hoje é um horizonte muito negativo para isso, porque é um Congresso Nacional e uma liderança dos grandes partidos brasileiros que estão simplesmente apoiados em projetos completamente fora do escopo da industrialização."

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