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'Ativo estratégico': sucesso do A-29 Super Tucano entre vizinhos fortalece integração sul-americana

© AP Photo / Hussein MallaDuas aeronaves do modelo A-29 Super Tucano na base aérea de Hamat. Líbano, 31 de outubro de 2017
Duas aeronaves do modelo A-29 Super Tucano na base aérea de Hamat. Líbano, 31 de outubro de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 18.06.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas apontam que o avião de monitoramento produzido pela Embraer é "extremamente adaptado para a América do Sul", tem boa capacidade para o combate ao narcotráfico e serve como elemento de conexão do Brasil com países vizinhos.
A Força Aérea do Paraguai está concluindo a aquisição de caças A-29 Super Tucano, modelo produzido pela Embraer. A compra faz parte de um processo de modernização da frota do país, que busca fortalecer o monitoramento de seu espaço aéreo, sobretudo em regiões fronteiriças.
Com a aquisição, o Paraguai passa a fazer parte do seleto grupo de países da América Latina e do Caribe que optaram por fortalecer suas capacidades defensivas com tecnologia brasileira.
À Sputnik Brasil, Pedro Paulo Rezende, especialista em assuntos militares, afirma que uma das vantagens do A-29 Super Tucano é o fato de ser um avião "talhado" para as necessidades sul-americanas, sobretudo para o combate ao narcotráfico, que é a principal ameaça da região.

"É um avião adequado para o policiamento do espaço aéreo, é um avião barato de comprar e barato de operar. São essas razões que levaram a Força Aérea do Paraguai a comprar o avião", explica.

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Ele destaca que o A-29 Super Tucano é um "avião com radar extremamente efetivo" e "extremamente adaptado para a América do Sul", que é usado por Colômbia, Equador e Paraguai, e que já foi adquirido também por México, Índia e Grécia.
No entanto, Rezende afirma que apenas a aquisição do avião não é suficiente para combater o narcotráfico. Segundo ele, os países sul-americanos infelizmente "não coordenam as atividades do combate ao narcotráfico", implementando um esforço disperso, já que a maioria deles não tem "os meios de detecção que permitam realmente uma cooperação efetiva".

"Esse é o grande problema. Por exemplo, só Brasil, Venezuela, Chile e Argentina possuem um sistema de controle de voo efetivo. O Peru não tem, e outros países da América do Sul também não têm. O Equador não tem, a Colômbia não tem, a Bolívia não tem. Então é preciso ter um controle efetivo do tráfego aéreo para poder combater o narcotráfico."

Em contrapartida, ele destaca que o sistema brasileiro, com o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA) e o Embraer 145 AEW, é "considerado modelo pelo mundo".
Para Rezende, o uso do A-29 Super Tucano contribui para a integração sul-americana na área de defesa, mas pouco, por conta da falta de sistemas de vigilância na região.
"Se os países da América do Sul comprassem mais [aviões do modelo] Embraer 145 de alerta antecipado e investissem mais nos seus sistemas de detecção de solo, aí sim. A gente poderia montar um sistema sul-americano de defesa aérea. A bem da verdade, existe até reclamação, porque o Embraer 145 de gerenciamento remoto, que é o R-99, consegue monitorar todas as comunicações de toda a América do Sul. Quando ele voa nas fronteiras dos países sul-americanos, existe muita suspeita e muita reclamação", afirma o especialista.
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João Gabriel Burmann, professor da UniRitter e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), afirma à Sputnik Brasil que a compra do A-29 Super Tucano mostra como a Embraer é "um ativo estratégico" não apenas para a Base Industrial de Defesa (BID), mas para a base industrial do país como um todo.
Ele considera que a integração sul-americana e uma maior aproximação dos nossos vizinhos pode ser fundamental para alavancar a indústria de defesa brasileira, que lida com sistemas de defesa de média complexidade.

"Então acho que se a gente continuar ampliando relações com Colômbia, Bolívia, Chile, Paraguai, ou até mesmo com países da América Latina, como é o caso do A29, que é empregado pelo Panamá, pela República Dominicana, acho que é um bom caminho para que o Brasil aposte na sua Base Industrial de Defesa", afirma.

Nesse contexto, Burmann acrescenta que o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a aquisição foi muito importante. Ele aponta que o custo estimado de US$ 100 milhões (cerca de R$ 550 milhões) foi financiado pelo banco.
"Já que a empresa é brasileira, então o BNDES fez o financiamento dessa compra para o Paraguai. Então a empresa recebe agora do BNDES, e depois o governo brasileiro recebe do Paraguai. Então acho que a existência desses bancos de fomento, que possam servir como instrumento de política externa, e também de aproximação dos nossos vizinhos, é muito importante na nossa estratégia de desenvolvimento da base industrial e de aproximação e integração sul-americana."
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Ele afirma que o A-29 Super Tucano é um instrumento de integração regional latino-americana em certo sentido, por já ser empregado em países da região.

"Com certeza é um aspecto de diplomacia, de aproximação que o Brasil pode utilizar na região, e ainda existe uma possibilidade de fazer essa ampliação."

Ele não considera que, no momento atual, o Brasil tenha "bases institucionais e relações políticas fortes o suficiente para gerar o projeto comum de uma aeronave", como já existiu anteriormente na União de Nações Sul-Americanas (Unasul), por conta do momento político e econômico que a região atravessa.
"Mas é importante que o A29 sirva como esse elemento de aproximação de integração e de conexão do Brasil com os seus vizinhos sul-americanos especialmente, mas latino-americanos no âmbito da América Central também", afirma.
Burmann cita como exemplo de articulação o Seminário de Integração dos Exércitos Sul-Americanos, que foi uma iniciativa que aconteceu no Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx), em Brasília, no âmbito do Estado-Maior, e congregou vários exércitos da região para fazer a discussão de ameaças comuns, de preocupações securitárias comuns.

"Ter uma iniciativa semelhante no âmbito das demais forças, inclusive no âmbito da Marinha, […] seria muito interessante de a gente ver essa iniciativa sendo replicada. Então acho que o combate ao narcotráfico e a diplomacia militar podem, sim, ser um elemento de aprofundamento da integração regional sul-americana", conclui o especialista.

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