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'Cortina de fumaça': prisão de empresário armênio ocorre em momento político frágil do premiê do país

© Sputnik / Acessar o banco de imagensPrimeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, em sessão no parlamento do país, em 14 de setembro de 2022
Primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, em sessão no parlamento do país, em 14 de setembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 20.06.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista explica relação do governo de Nikol Pashinyan com a Igreja Apostólica Armênia, assim como ligação do povo do país com a religião.
O empresário russo de origem armênia Samvel Karapetyan foi preso na última quinta-feira (19) sob acusações de apelar publicamente à tomada de poder na Armênia. O tribunal de Yerevan tomou a decisão após o bilionário defender a Igreja Apostólica Armênia, vista pelo governo do primeiro-ministro Nikol Pashinyan como opositora.
Segundo Armen Feroyan, advogado de Karapetyan, o chefe do grupo empresarial Tashir, que fornece energia a 1 milhão de pessoas na Armênia, deve ficar detido por dois meses, ação classificada pela defesa como "absurda". Ainda de acordo com Feroyan, mais de 50 pessoas foram presas pela Justiça armênia.
A Igreja Armênia em Moscou, por sua vez, definiu a prisão como uma "vergonha" e parte da guerra em curso do primeiro-ministro contra a igreja, que usa o medo e a repressão para silenciar as vozes discordantes.
Diante da briga de Pashinyan com a Igreja Armênia, personificada na figura de Karapetyan, a Sputnik Brasil entrevistou a cientista social e mestre em antropologia pela Universidade de São Paulo (USP) Mariana Boujikian, que destacou que o rompimento da igreja com o premiê veio após a derrota no conflito com o Azerbaijão por Nagorno-Karabakh.

"A Igreja Armênia faz muitas críticas ao fato de o governo de Pashinyan ter desistido, ter aberto mão, de Nagorno-Karabakh. Houve uma mudança no tom de Pashinyan, de entregar de vez essa região, de parar de pedir o retorno dos armênios étnicos para esse enclave, que agora é totalmente do Azerbaijão."

As críticas da Igreja Armênia se baseiam em uma luta para que os armênios étnicos voltem para a região. Segundo a cientista social, essa bandeira dos religiosos incomoda profundamente o primeiro-ministro.

"Pashinyan começou a ter umas falas até bastante chucras, umas falas bastante violentas, agressivas, em relação a membros da igreja que romperam completamente."

A entrevistada, autora do livro "Memórias de um genocídio" (2013), afirma que o governo Pashinyan tende a afastar a Igreja Armênia das discussões políticas, desprezando o valor que a religião tem para o povo, "muito vinculado à fé".

"As lideranças religiosas sempre tiveram um papel muito importante na unificação do povo armênio, em manter essa coesão social da população armênia — não importa se é a população que está em Yerevan, em Beirute, em Jerusalém, em São Paulo, ela está unificada por essa questão religiosa."

Primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan - Sputnik Brasil, 1920, 20.06.2025
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Prisão de Karapetyan é parte da ampla campanha da Armênia contra a Igreja?

Igreja é bombardeada de polêmicas sem confirmações

O desencontro entre igreja e Estado virou uma disputa midiática, com a tentativa de destruição da imagem do líder da Igreja Apostólica Armênia, Karekin II, acusado sem provas de ter uma filha, o que iria contra os dogmas da religião. Pashinyan estaria tentando "silenciar" e "abafar" críticas com polêmicas, de acordo com Boujikian.

"É quase uma cortina de fumaça para transformar [as discussões] em uma polêmica e jogar a atenção do público para esse debate interno da vida pessoal dos líderes da igreja, de alguma maneira desviando a atenção do conteúdo da fala deles."

Pashinyan enfrenta forte crítica do povo armênio após a derrota no conflito por Nagorno-Karabakh. Com a popularidade em queda e eleições em menos de um ano, o primeiro-ministro luta para recuperar o apreço dos eleitores.
A especialista, no entanto, não acredita que uma possível campanha de desmoralização da Igreja Armênia e de seus fiéis, como Karapetyan, vai reverberar da maneira que o governo do primeiro-ministro espera.

"Acho que pode ser um sinal de fragilidade interna da Armênia, que pode ser aproveitado neste momento de instabilidade na região."

Quem é Samvel Karapetyan?

Samvel Karapetyan é um empresário de 59 anos, pai de três filhos, nascido na região armênia da União Soviética. Em 1999, ele fundou a Tashir, um conglomerado de empresas que atua em diversas áreas, incluindo eletricidade, e que emprega mais de 30 mil pessoas. Hoje a fortuna dele é estimada em US$ 3,2 bilhões (R$ 17,6 bilhões).
Além do sucesso no mundo dos negócios, Karapetyan é conhecido pelas ações de filantropia. O empresário ajudou na construção da Catedral de São Gregório e fundou mais de 30 centros médicos e educacionais, incluindo o centro de oncologia na capital da Armênia, Yerevan.
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