https://noticiabrasil.net.br/20250710/conflito-ira-israel-ninguem-acredita-em-paz-todo-mundo-esta-preparado-para-que-tudo-recomece-41249880.html
Conflito Irã-Israel: 'Ninguém acredita em paz, todo mundo está preparado para que tudo recomece'
Conflito Irã-Israel: 'Ninguém acredita em paz, todo mundo está preparado para que tudo recomece'
Sputnik Brasil
Na noite de 13 de junho, Israel lançou uma operação contra o Irã, acusando-o de implementar um programa nuclear militar "secreto". O Irã rejeitou as denúncias... 10.07.2025, Sputnik Brasil
2025-07-10T21:53-0300
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Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Ali Ramos Abdul Hakam, analista político e roteirista do canal História Islâmica, ofereceu uma leitura contundente sobre os desdobramentos da guerra entre Israel e Irã. Para ele, o conflito foi marcado por uma "grande pirotecnia" promovida pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o objetivo de se manter no poder. No entanto, a ofensiva acabou revelando mais fragilidades do que vitórias estratégicas para o governo israelense."O Irã segue com as mesmas capacidades misilísticas", afirmou Hakam, que considera que nenhum dos três objetivos centrais de Tel Aviv foi alcançado: nem o recuo do programa nuclear iraniano, nem a derrubada do governo, tampouco o colapso de sua estrutura militar. "Foi, assim, uma grande pirotecnia do Netanyahu para se manter no poder. Só que muito provavelmente ele não esperava uma resposta tão forte do Irã."O analista destaca que o ataque iraniano ao território israelense rompeu um tabu histórico e colocou em xeque a reputação do sistema de defesa de Israel. Segundo Hakam, mesmo com apoio logístico dos EUA, o sistema de defesa antiaérea Cúpula de Ferro, o sistema militar Estilingue de Davi e os mísseis antibalísticos Hetz não conseguiram impedir que "mais de 40 alvos fossem atingidos dentro de Israel", uma destruição sem precedentes na história do país.A guerra também escancarou o custo da dependência militar: "Israel gastou US$ 200 milhões [cerca de R$ 1,1 bilhão na cotação atual] por dia em mísseis", lembrou Hakam, citando dados do The Wall Street Journal. O custo total estimado do conflito ultrapassa os US$ 12 bilhões (cerca de R$ 65,5 bilhões na cotação atual). "Israel não só esgotou todas as suas defesas antiaéreas, como esgotou também as da OTAN."Escalada contida (por enquanto)Para Hakam, o cessar-fogo atual é apenas uma pausa técnica. A reconstrução das defesas e a rearticulação do apoio internacional são, segundo ele, os principais freios para um novo ataque israelense. Mas o analista alerta: "Assim que se reconstruir, creio eu que esse cessar-fogo vai pelos ares".A entrevista também abordou o papel de atores regionais, como a Turquia e a Arábia Saudita. Hakam avaliou que Ancara mantém uma postura pragmática, operando em diversas frentes — apoiando o grupo palestino Hamas ao mesmo tempo em que comercializa petróleo com Israel. Já os sauditas, na visão do analista, tendem à neutralidade para preservar sua própria estabilidade interna e evitar retaliações dos EUA ou dos houthis.Hakam considera que o chamado Eixo da Resistência está passando por um rearranjo, mas segue operante. Hezbollah, houthis e milícias aliadas continuam pressionando Israel e os interesses ocidentais na região. "Os houthis continuaram bombardeando Israel dia sim, dia também. E agora partiram para destruir navios europeus."Embora ambos os lados tentem reivindicar vitórias simbólicas, o saldo militar e político aponta para uma derrota sem precedentes para Israel, na avaliação do especialista. "Talvez a maior desde a guerra de 2006 no Líbano", disse Hakam.Um olhar de dentroÀ Sputnik Brasil, o pesquisador iraniano Jawad Heidari, doutor em ciências e comunicação social, compartilhou sua experiência enquanto morador da cidade de Qom, que fica a apenas 30 quilômetros de um dos alvos militares atacados pelas forças israelenses.Segundo Heidari, os dias que antecederam a ofensiva foram marcados por alarmes de segurança e rumores crescentes, mas a população não esperava um ataque de fato. "Achávamos que era só ameaça", afirmou. No entanto, ao longo de três ou quatro madrugadas, aviões de guerra sobrevoaram a região, confirmando o início das operações. A ação não mirou apenas estruturas militares: "Mais de mil pessoas foram mortas, incluindo 100 crianças e quase 100 mulheres", denunciou o entrevistado.Ao ser questionado sobre a reação popular, relatou um movimento de solidariedade interna e uma inusitada união nacional: "Até quem criticava o governo passou a apoiar a república islâmica. O Estado manteve postos de gasolina abertos, suspendeu pedágios e abriu mesquitas para abrigar a população". Heidari, no entanto, admitiu que "todo governo tem falhas" e que o Irã enfrenta graves dificuldades econômicas.O pesquisador também comentou a tentativa do governo israelense de separar o povo iraniano do governo. "Quando Netanyahu diz que não é contra o povo, por que bombardeou ambulâncias e hospitais?", indagou. Ele criticou o papel da mídia ocidental na cobertura da guerra, apontando a difusão de notícias falsas e a tentativa de isolar o Irã com o apoio de potências como EUA, França e Reino Unido. "A mídia dizia que o Irã começou. Mas quem atacou primeiro?"Sobre a convivência religiosa no país, Heidari foi enfático: "Judeus vivem normalmente no Irã. São nossos irmãos. A diferença está entre religião e sionismo, que é uma ideologia perigosa".Para ele, o cessar-fogo atual é apenas uma pausa estratégica: "Ninguém acredita em paz. Todo mundo está preparado para que tudo recomece". Ainda assim, termina com uma convicção: "O Irã só se defendeu. O inimigo achava que em 48 horas nos derrubaria. Mas resistimos. E isso é vitória".Cooperação suspensaNo dia 2 de julho, o Irã suspendeu a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), apontando como motivo a atuação da organização no conflito do país com Israel e com os Estados Unidos.Por trás da decisão está uma resolução da AIEA que afirmou não ser possível confirmar se o programa nuclear iraniano tem fins exclusivamente pacíficos. O documento abriu margem para que o tema fosse levado ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), como é previsto no estatuto da agência.A resolução foi aprovada em 12 de junho, um dia antes do ataque israelense que iniciou a crise entre os países. Para Teerã, é evidente que a AIEA escolheu um lado no conflito e tem responsabilidade nos ataques ao território iraniano.A preocupação com a politização da agência foi explicitada também pelo chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, que afirmou em coletiva de imprensa durante a Cúpula do BRICS que a liderança da AIEA, com seu diretor-geral, Rafael Grossi, deve ser responsabilizada pelo documento.
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Conflito Irã-Israel: 'Ninguém acredita em paz, todo mundo está preparado para que tudo recomece'
21:53 10.07.2025 (atualizado: 15:26 11.07.2025) Especiais
Na noite de 13 de junho, Israel lançou uma operação contra o Irã, acusando-o de implementar um programa nuclear militar "secreto". O Irã rejeitou as denúncias, respondendo com seus próprios ataques.
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Ali Ramos Abdul Hakam, analista político e roteirista do canal História Islâmica, ofereceu uma leitura contundente sobre os desdobramentos da guerra entre Israel e Irã. Para ele, o conflito foi marcado por uma "grande pirotecnia" promovida pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o objetivo de se manter no poder. No entanto, a ofensiva acabou revelando mais fragilidades do que vitórias estratégicas para o governo israelense.
"O Irã segue com as mesmas capacidades misilísticas", afirmou Hakam, que considera que nenhum dos três objetivos centrais de Tel Aviv foi alcançado: nem o recuo do programa nuclear iraniano, nem a derrubada do governo, tampouco o colapso de sua estrutura militar. "Foi, assim, uma grande pirotecnia do Netanyahu para se manter no poder. Só que muito provavelmente ele não esperava uma resposta tão forte do Irã."
O analista destaca que o ataque iraniano ao território israelense rompeu um tabu histórico e colocou em xeque a reputação do sistema de defesa de Israel. Segundo Hakam, mesmo com apoio logístico dos EUA, o sistema de defesa antiaérea Cúpula de Ferro, o sistema militar Estilingue de Davi e os mísseis antibalísticos Hetz não conseguiram impedir que "mais de 40 alvos fossem atingidos dentro de Israel", uma destruição sem precedentes na história do país.
A guerra também escancarou o custo da dependência militar: "Israel gastou US$ 200 milhões [cerca de R$ 1,1 bilhão na cotação atual] por dia em mísseis", lembrou Hakam, citando dados do The Wall Street Journal. O custo total estimado do conflito ultrapassa os US$ 12 bilhões (cerca de R$ 65,5 bilhões na cotação atual). "Israel não só esgotou todas as suas defesas antiaéreas, como esgotou também as da OTAN."
Escalada contida (por enquanto)
Para Hakam, o cessar-fogo atual é apenas uma pausa técnica. A reconstrução das defesas e a rearticulação do apoio internacional são, segundo ele, os principais freios para um novo ataque israelense. Mas o analista alerta: "Assim que se reconstruir, creio eu que esse cessar-fogo vai pelos ares".
A pressão interna sobre Netanyahu também alimenta o risco de novas ofensivas. "O cálculo do Netanyahu não é racional. É messiânico, extremado. Assim que ele sair do poder, ele vai preso."
A entrevista também abordou o papel de atores regionais, como a Turquia e a Arábia Saudita. Hakam avaliou que Ancara mantém uma postura pragmática, operando em diversas frentes — apoiando o grupo palestino Hamas ao mesmo tempo em que comercializa petróleo com Israel. Já os sauditas, na visão do analista, tendem à neutralidade para preservar sua própria estabilidade interna e evitar retaliações dos EUA ou dos houthis.
Hakam considera que o chamado Eixo da Resistência está passando por um rearranjo, mas segue operante. Hezbollah, houthis e milícias aliadas continuam pressionando Israel e os interesses ocidentais na região. "Os houthis continuaram bombardeando Israel dia sim, dia também. E agora partiram para destruir navios europeus."
Embora ambos os lados tentem reivindicar vitórias simbólicas, o saldo militar e político aponta para uma derrota sem precedentes para Israel, na avaliação do especialista. "Talvez a maior desde a guerra de 2006 no Líbano", disse Hakam.
À Sputnik Brasil, o pesquisador iraniano Jawad Heidari, doutor em ciências e comunicação social, compartilhou sua experiência enquanto morador da cidade de Qom, que fica a apenas 30 quilômetros de um dos alvos militares atacados pelas forças israelenses.
Segundo Heidari, os dias que antecederam a ofensiva foram marcados por alarmes de segurança e rumores crescentes, mas a população não esperava um ataque de fato.
"Achávamos que era só ameaça", afirmou. No entanto, ao longo de três ou quatro madrugadas, aviões de guerra sobrevoaram a região, confirmando o início das operações. A ação não mirou apenas estruturas militares: "Mais de mil pessoas foram mortas, incluindo 100 crianças e quase 100 mulheres", denunciou o entrevistado.
Heidari enfatizou que o medo individual foi superado por um senso coletivo de pertencimento à história e à fé. "Um iraniano não tem medo de guerra. O que temos de civilização o inimigo não tem. Nossa religião diz que quem defende a própria terra é martirizado", explicou, relacionando resistência e espiritualidade. O legado do Império Persa, segundo ele, continua sendo um pilar moral para a população, ao lado dos preceitos do xiismo.
Ao ser questionado sobre a reação popular, relatou um movimento de solidariedade interna e uma inusitada união nacional: "Até quem criticava o governo passou a apoiar a república islâmica. O Estado manteve postos de gasolina abertos, suspendeu pedágios e abriu mesquitas para abrigar a população". Heidari, no entanto, admitiu que "todo governo tem falhas" e que o Irã enfrenta graves dificuldades econômicas.
O pesquisador também comentou a tentativa do governo israelense de separar o povo iraniano do governo. "Quando Netanyahu diz que não é contra o povo, por que bombardeou ambulâncias e hospitais?", indagou. Ele criticou o papel da mídia ocidental na cobertura da guerra, apontando a difusão de notícias falsas e a tentativa de isolar o Irã com o apoio de potências como EUA, França e Reino Unido. "A mídia dizia que o Irã começou. Mas quem atacou primeiro?"
Sobre a convivência religiosa no país, Heidari foi enfático: "Judeus vivem normalmente no Irã. São nossos irmãos. A diferença está entre religião e sionismo, que é uma ideologia perigosa".
Para ele, o cessar-fogo atual é apenas uma pausa estratégica: "Ninguém acredita em paz. Todo mundo está preparado para que tudo recomece". Ainda assim, termina com uma convicção: "O Irã só se defendeu. O inimigo achava que em 48 horas nos derrubaria. Mas resistimos. E isso é vitória".
No dia 2 de julho,
o Irã suspendeu a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), apontando como motivo
a atuação da organização no conflito do país com Israel e com os Estados Unidos.
Por trás da decisão está uma
resolução da AIEA que afirmou não ser possível confirmar se o programa nuclear iraniano tem fins exclusivamente pacíficos. O documento
abriu margem para que o tema fosse levado ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), como é previsto no estatuto da agência.
A resolução foi aprovada em 12 de junho,
um dia antes do ataque israelense que iniciou a crise entre os países. Para Teerã, é evidente que a AIEA
escolheu um lado no conflito e tem responsabilidade nos ataques ao território iraniano.
A preocupação com a politização da agência foi explicitada também pelo chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, que afirmou em coletiva de imprensa durante a Cúpula do BRICS que a liderança da AIEA, com seu diretor-geral, Rafael Grossi, deve ser responsabilizada pelo documento.
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