https://noticiabrasil.net.br/20250711/interesse-dos-eua-em-energia-de-itaipu-pressiona-brasil-e-expoe-tensoes-geopoliticas-com-o-paraguai-41279966.html
Interesse dos EUA em energia de Itaipu pressiona Brasil e expõe tensões geopolíticas com o Paraguai
Interesse dos EUA em energia de Itaipu pressiona Brasil e expõe tensões geopolíticas com o Paraguai
Sputnik Brasil
O anúncio de que os Estados Unidos desejam comprar a energia excedente de Itaipu gerada pelo lado paraguaio reacendeu tensões históricas do Paraguai com o... 11.07.2025, Sputnik Brasil
2025-07-11T16:25-0300
2025-07-11T16:25-0300
2025-07-11T16:42-0300
notícias do brasil
américas
mauro vieira
donald trump
brasil
estados unidos
paraguai
sputnik brasil
unifesp
abin
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/07/0b/41278993_82:0:1805:969_1920x0_80_0_0_d19d70c1f3a2e55b3372ce405a3e2028.png
A iniciativa estadunidense, potencializada por demandas crescentes de data centers e sistemas de inteligência artificial, pode afetar não apenas a segurança energética brasileira, mas também comprometer projetos de integração regional e intensificar a influência de Washington em território sul-americano."A primeira proposta dos Estados Unidos é ter uma política externa para a região de maneira pragmática e indicar alguma empresa de inteligência artificial para se instalar na região e que ela se aproveite dessa energia", explica Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), à Sputnik Brasil.Para ela, esse movimento "amedronta muito o Brasil", uma vez que envolve a inserção de uma potência extrarregional em uma zona estratégica de fronteira — historicamente marcada por disputas bilaterais.Bressan lembra que o excedente de energia de Itaipu, administrado por um acordo binacional, tem sido destinado ao Brasil a um custo reduzido. "Se os Estados Unidos ficarem com esse excedente, é menos chance de o Brasil aproveitar uma energia limpa e renovável."Espionagem da AbinAlém do interesse norte-americano, o cenário atual é agravado pelas denúncias de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra órgãos paraguaios, supostamente iniciadas no governo de Jair Bolsonaro (PL) e mantidas durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).Para o professor Vinícius Rodrigues Vieira, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), trata-se de um grave obstáculo à confiança bilateral.Ele afirma que a Abin ainda funciona como "um Estado dentro do Estado" e que o episódio, mesmo sem evidências de anuência do governo Lula, gera ruídos prejudiciais à diplomacia brasileira, especialmente em um contexto em que a integração sul-americana deveria ser prioridade.Para piorar, esse desgaste ocorre em um momento de realinhamento do Paraguai com os Estados Unidos, favorecido pela afinidade política entre o presidente paraguaio Santiago Peña e o ex-presidente Donald Trump."Os Estados Unidos, nessa era Trump 2, estão buscando constranger qualquer ascensão de projetos regionais de autonomia", alerta o professor, que vê esse processo como parte de uma nova guerra fria global.A possível venda direta de energia paraguaia no livre mercado, prevista a partir de 2023 — com base nas renegociações do Anexo C do Tratado de Itaipu — pode dificultar ainda mais a posição brasileira. "Se o Paraguai vender sem contrapartida tecnológica, isso pode ser um tiro no pé não só da sociedade paraguaia, mas também dos países vizinhos."Ele alerta que, diferentemente da relação histórica de Itaipu — construída sob uma lógica de "hegemonia benevolente" —, a presença dos Estados Unidos configura uma relação extrativa, que pouco contribui para o desenvolvimento local.Bressan também destaca o risco para o consumidor brasileiro: "Essa situação de tensionamento pode vir, sim, a fazer uma pequena alteração no custo da energia e, por isso, o Brasil está se empenhando para manter prioridade na compra da energia do Paraguai."Quais foram os impactos da Guerra do Paraguai?Além das disputas atuais, os dois professores ressaltam o peso do passado. A guerra do Paraguai ainda ecoa como trauma regional, com o Brasil se recusando, por exemplo, a abrir seus arquivos sobre o conflito.Segundo Vieira, isso dificulta uma reconciliação simbólica entre os dois países e reforça a percepção paraguaia de que é preciso buscar alternativas geopolíticas para não se tornar refém dos vizinhos.A assimetria econômica também pesa. Como lembra Bressan, "a cidade de São Paulo tem um PIB [produto interno bruto] superior ao do Paraguai inteiro", o que acentua desconfianças sobre as reais intenções brasileiras dentro do Mercosul.Mesmo assim, ambos reforçam que o país vizinho tem autonomia. O desafio, segundo eles, é transformar essa soberania em estratégia de desenvolvimento, e não de dependência externa.
https://noticiabrasil.net.br/20250529/eua-podem-usar-terrorismo-na-triplice-fronteira-para-negociar-energia-de-itaipu-diz-analista-39841381.html
https://noticiabrasil.net.br/20250701/fui-vitima-de-fake-news-e-recebi-ameaca-de-morte-conta-especialista-em-china-espionado-pela-abin-40938828.html
https://noticiabrasil.net.br/20250404/presidente-do-paraguai-suspeita-de-espionagem-da-abin-reabre-velhas-feridas-criadas-pelo-brasil-39074621.html
brasil
estados unidos
paraguai
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2025
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
Energia de Itaipu na mira dos EUA: pressão tensiona relação Brasil x Paraguai
Sputnik Brasil
Energia de Itaipu na mira dos EUA: pressão tensiona relação Brasil x Paraguai. Brasil, 11 de julho de 2025
2025-07-11T16:25-0300
true
PT5M35S
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e9/07/0b/41278993_298:0:1590:969_1920x0_80_0_0_7d602f2492039561b35e8cf2f090f637.pngSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
américas, mauro vieira, donald trump, brasil, estados unidos, paraguai, sputnik brasil, unifesp, abin, itaipu, taxação, tarifas
américas, mauro vieira, donald trump, brasil, estados unidos, paraguai, sputnik brasil, unifesp, abin, itaipu, taxação, tarifas
Interesse dos EUA em energia de Itaipu pressiona Brasil e expõe tensões geopolíticas com o Paraguai
16:25 11.07.2025 (atualizado: 16:42 11.07.2025) Especiais
O anúncio de que os Estados Unidos desejam comprar a energia excedente de Itaipu gerada pelo lado paraguaio reacendeu tensões históricas do Paraguai com o Brasil.
A iniciativa estadunidense, potencializada por demandas crescentes de data centers e sistemas de inteligência artificial, pode afetar não apenas a
segurança energética brasileira, mas também comprometer projetos de integração regional e
intensificar a influência de Washington em território sul-americano.
"A primeira proposta dos Estados Unidos é ter uma política externa para a região de maneira pragmática e indicar alguma empresa de inteligência artificial para se instalar na região e que ela se aproveite dessa energia", explica Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), à Sputnik Brasil.
Para ela, esse movimento
"amedronta muito o Brasil", uma vez que envolve a
inserção de uma potência extrarregional em
uma zona estratégica de fronteira — historicamente marcada por disputas bilaterais.
Bressan lembra que o excedente de energia de Itaipu, administrado por um acordo binacional, tem sido destinado ao Brasil a um custo reduzido. "Se os Estados Unidos ficarem com esse excedente, é menos chance de o Brasil aproveitar uma energia limpa e renovável."
Além do interesse norte-americano, o cenário atual é agravado pelas
denúncias de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra órgãos paraguaios, supostamente iniciadas no governo de
Jair Bolsonaro (PL) e mantidas durante a gestão de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para o professor Vinícius Rodrigues Vieira, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), trata-se de um grave obstáculo à confiança bilateral.
"Infelizmente, até como herança da ditadura militar no Brasil, não temos uma relação de devido escrutínio sobre o nosso serviço secreto."
Ele afirma que a Abin ainda funciona como "um Estado dentro do Estado" e que o episódio, mesmo sem evidências de anuência do governo Lula, gera ruídos prejudiciais à diplomacia brasileira, especialmente em um contexto em que a integração sul-americana deveria ser prioridade.
Para piorar, esse desgaste ocorre em um momento de realinhamento do Paraguai com os Estados Unidos, favorecido pela afinidade política entre o presidente paraguaio Santiago Peña e o ex-presidente Donald Trump.
"Os Estados Unidos, nessa era Trump 2, estão buscando constranger qualquer ascensão de projetos regionais de autonomia", alerta o professor, que vê esse processo como parte de uma nova guerra fria global.
A possível
venda direta de energia paraguaia no livre mercado, prevista a partir de 2023 — com base nas renegociações do Anexo C do Tratado de Itaipu — pode dificultar ainda mais a posição brasileira. "Se o Paraguai vender sem contrapartida tecnológica, isso pode ser um tiro no pé não só da sociedade paraguaia, mas também dos países vizinhos."
Para os especialistas, o Brasil precisa agir. "Uma saída é tentar oferecer uma contrapartida, um novo pacto sobre Itaipu, que envolva desenvolvimento conjunto de novas tecnologias", diz o professor da FAAP.
Ele alerta que, diferentemente da relação histórica de Itaipu — construída sob uma lógica de
"hegemonia benevolente" —, a
presença dos Estados Unidos configura uma relação extrativa, que pouco contribui para o desenvolvimento local.
Bressan também destaca o risco para o consumidor brasileiro: "Essa situação de tensionamento pode vir, sim, a fazer uma pequena alteração no custo da energia e, por isso, o Brasil está se empenhando para manter prioridade na compra da energia do Paraguai."
Quais foram os impactos da Guerra do Paraguai?
Além das disputas atuais, os dois professores ressaltam o peso do passado. A guerra do Paraguai ainda ecoa como trauma regional, com o Brasil se recusando, por exemplo, a abrir seus arquivos sobre o conflito.
Segundo Vieira, isso dificulta uma
reconciliação simbólica entre os dois países e reforça a percepção paraguaia de que é preciso buscar alternativas geopolíticas para não se tornar refém dos vizinhos.
A assimetria econômica também pesa. Como lembra Bressan, "a cidade de São Paulo tem um PIB [produto interno bruto] superior ao do Paraguai inteiro", o que acentua desconfianças sobre as reais intenções brasileiras dentro do Mercosul.
Mesmo assim, ambos reforçam que o país vizinho tem autonomia. O desafio, segundo eles, é transformar essa soberania em estratégia de desenvolvimento, e não de dependência externa.
"Será que não é só a venda da commodity energia sem qualquer incorporação tecnológica? O que os Estados Unidos vão oferecer?", questiona Vieira. "Eles podem simplesmente construir um enclave sem qualquer reverberação em termos de desenvolvimento tecnológico para o Paraguai", completa.
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).