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Amazônia deve discutir agenda de defesa regional diante de ameaças externas, diz especialista

© Foto / Força Aérea BrasileiraBarco semissubmersível com drogas é achado pela primeira vez na Amazônia
Barco semissubmersível com drogas é achado pela primeira vez na Amazônia - Sputnik Brasil, 1920, 21.08.2025
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Além de abrigar a maior diversidade ambiental do mundo, a Floresta Amazônica esconde um tesouro que atrai cada vez mais a cobiça internacional: os minerais estratégicos cruciais ao desenvolvimento de novas tecnologias, como inteligência artificial e veículos elétricos. Mas como proteger a região de tentativas de interferência?
Do Brasil à Venezuela, da Colômbia ao Equador, do Suriname ao Peru e da Guiana à Bolívia, a Floresta Amazônica atravessa oito países da América do Sul e cada vez mais exige esforços conjuntos para além da preservação ambiental. Diante disso, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) realiza a V Cúpula dos Chefes de Estado, na próxima sexta-feira (22) em Bogotá, na Colômbia. O encontro acontece ainda em meio aos fortes discursos de presidentes como o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o venezuelano Nicolás Maduro contra interferências externas na região.
A Amazônia atrai cada vez mais interesse internacional por abrigar importantes minerais estratégicos que são cruciais para o desenvolvimento tecnológico. O doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do curso no Centro Universitário Internacional Uninter, Guilherme Frizzera, diz à Sputnik Brasil que é urgente incluir na agenda de discussões entre os países a pauta da defesa.

"A Amazônia já é palco de disputas que vão além da questão ambiental: narcotráfico, tráfico de armas, mineração ilegal e fronteiras vulneráveis. Ao mesmo tempo, os minerais estratégicos da região, fundamentais para tecnologias emergentes, tendem a intensificar a competição global. Isso desloca a questão amazônica de um campo restrito ao meio ambiente para outro, em que segurança e soberania também estão em jogo. Não se trata de militarizar a floresta, mas de criar mecanismos de cooperação que protejam recursos, fronteiras e populações, antecipando riscos que tendem a crescer com a valorização estratégica da região", resume.

O especialista pontua que a forte atuação do narcotráfico na Amazônia, próximo a áreas produtoras de drogas como a cocaína, ainda pode servir como justificativa para operações militares externas.
"Para reduzir esse risco, os países da região precisam fortalecer mecanismos de cooperação em segurança e defesa, com capacidade de monitorar fronteiras, combater redes ilícitas e proteger recursos estratégicos", acrescenta, ao lembrar que um desses foros de discussão regional é justamente a OTCA.
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É viável criar uma política comum de defesa entre os 8 países da Amazônia?

Para o especialista, esse é um processo que pode ser implementado, mas é crucial "evitar ambições excessivas ou disputas ideológicas". E diante do desmantelamento de entidades como o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que contavam com a participação de todos os países amazônicos, restou apenas a OTCA.

"O vazio deixado por esse processo fez com que a cooperação ficasse limitada a arranjos ad hoc entre forças armadas que já possuíam relações históricas, algo útil para operações pontuais, mas insuficiente para a formulação de uma política regional. A OTCA, por sua dimensão mais restrita e foco territorial claro, pode oferecer uma oportunidade de retomada dessa integração em bases mais realistas", afirma.

O analista internacional considera ainda que os desafios na região não podem ser enfrentados de forma isolada, a exemplo do enfrentamento a tentativas de interferência externa para implementar uma agenda comum.
"Nesse sentido, a viabilidade está menos em reconstruir uma arquitetura ambiciosa, como foi o CDS, e mais em estabelecer normas de confiança, protocolos de cooperação em fronteiras e mecanismos de coordenação que permitam operações conjuntas e a proteção compartilhada de recursos estratégicos".

Brasil pode liderar a cooperação estratégica militar na Amazônia?

Com quase 62% da área total da Amazônia, o Brasil, que também possui o maior peso econômico e militar na América do Sul, reúne as condições necessárias para liderar uma estratégia de proteção comum da região, enfatiza Frizzera. Outro ponto que contribuiria com o processo, segundo o especialista, é a posição geográfica brasileira no Atlântico Sul e também as fronteiras com praticamente todos os países amazônicos, com exceção do Equador.
"Essa centralidade cria responsabilidades adicionais: se o Brasil não ocupar esse espaço, dificilmente outro país terá capacidade de articular uma agenda regional de defesa. Liderar, contudo, não significa impor, mas construir confiança e propor mecanismos de cooperação que preservem a soberania de cada Estado, ao mesmo tempo em que consolidem uma posição comum para enfrentar ameaças transnacionais e reduzir riscos de ingerência externa", resume.
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Exploração ilegal de recursos naturais na Amazônia

Mineração ilegal em reservas indígenas, que subiram mais de 1.200% em 35 anos, conforme dados do governo; e extração irregular de madeira, com alta de 19% somente em 2024. Essa atuação ilegal na exploração dos recursos naturais, segundo Frizzera, é hoje o principal problema da região, que está conectado com redes de atuação transnacional.
"Essa exploração cria condições para que as demais ameaças também se manifestem. O narcotráfico, que se mistura ao garimpo e ao contrabando de armas, pode servir de justificativa externa para operações de 'combate aos cartéis', como já foi sinalizado pelo governo [Donald] Trump. A presença crescente de minerais críticos fundamentais para a era da inteligência artificial torna o território alvo de espionagem e de pressões diplomáticas e comerciais. E a ausência de mecanismos regionais sólidos de coordenação abre espaço para que potências externas exerçam influência política sobre governos locais, explorando divisões e fragilidades", explica.
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Comando militar conjunto

Apesar de tantos problemas, o especialista frisa que criar um comando militar conjunto entre os oito países ainda está longe de se tornar realidade justamente por conta das "diferenças de capacidades e níveis de confiança" entre os membros da OTCA. O que é possível, segundo ele, são sistemas de cooperação eficientes em inteligência e segurança.
"Através de centros de monitoramento compartilhados, protocolos de operação coordenados em fronteiras e exercícios conjuntos focados na proteção de povos indígenas e recursos estratégicos, é possível criar um quadro de interoperabilidade gradual. Essa abordagem permite conciliar soberania e colaboração, protegendo territórios, populações indígenas, recursos minerais e florestais, ao mesmo tempo em que reduz a vulnerabilidade da região à exploração externa e a pressões geopolíticas", finaliza.
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