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Colonização britânica contribuiu para 95% do atual conflito interno em Mianmar, afirma analista

© AP Photo / Esther HtusanSoldado de grupo rebelde se posiciona em um posto avançado no estado de Kachin. Mianmar, 20 de março de 2018
Soldado de grupo rebelde se posiciona em um posto avançado no estado de Kachin. Mianmar, 20 de março de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 17.09.2025
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que o conflito interno em Mianmar é esquecido pelo Ocidente por não envolver interesses geopolíticos de EUA e Europa, e que a guerra civil do país tem raízes no período colonial britânico.
Enquanto a ofensiva israelense na Faixa de Gaza e o conflito ucraniano dominam os noticiários ocidentais, a turbulência interna em Mianmar passa fora do radar da grande mídia, quase sem repercussão.
Esse esquecimento é político, como aponta, em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Gabriela Veloso, jornalista, mestranda em relações internacionais na PUC-Rio e pesquisadora de Sudeste Asiático e Oceania no Núcleo de Avaliação da Conjuntura da Escola de Guerra Naval.

"A cobertura da mídia internacional tende a refletir prioridades geopolíticas e econômicas das grandes potências, sobretudo ocidentais", explica Veloso.

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Ela acrescenta que falar de Mianmar é um desafio porque o conflito tem uma extensa gama de vieses, envolvendo mais de 135 grupos étnicos reconhecidos oficialmente, uma série de religiões, rebeliões e golpes consecutivos. Segundo a pesquisadora, isso dificulta as narrativas ocidentais "simplórias ou maniqueístas".
"E tem uma questão de dificuldade de acesso à informação. A gente tem informações relativamente limitadas sobre Mianmar. É difícil até conseguir em inglês, às vezes. E quando a gente consegue, a questão de checagem dos fatos também é um problema. Como é que a gente vai trabalhar com a credibilidade desses fatos? Como a gente vai conseguir verificar, se muitas vezes a gente não consegue nem acessar quem está cobrindo?", questiona.
Veloso afirma que Mianmar hoje é governado por uma junta militar que tem como agenda se legitimar internacionalmente e evitar manifestações internas contra si mesma. Paralelo a isso, há múltiplas agendas.
"A gente não tem uma ideia de um nacionalismo birmanês muito claro, assim, é difícil falar de uma agenda única. Você tem a agenda dos grupos da diáspora birmanesa, de lados políticos, redes transnacionais de resistência, a gente está falando de agendas múltiplas, mas a da junta seria se legitimar internacionalmente e seguir governando."
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Ela afirma que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a qual Mianmar passou a integrar em 1997, tem dificuldade de lidar com a questão porque um de seus pilares fundacionais é a não intervenção em questões internas de seus membros. "Ela [ASEAN] tem uma ideia de preservar a soberania dos Estados-membros", explica.
Thayná Fernandes, pesquisadora do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC) e doutoranda da Escola de Guerra Naval (EGN), destaca ao podcast Mundioka que as questões que levam ao conflito em Mianmar têm pelo menos 60 anos. Ela lembra que além de passar fora do radar dos conflitos que têm interesse imediato dos EUA e da Europa, como o de Gaza e da Ucrânia, Mianmar faz fronteira com China e Índia, o que tornaria espinhosa uma intervenção ocidental na região.

"Se os EUA quisessem intervir de maneira mais direta, seria um problema, por conta de a China estar ali do lado. Realmente, [Mianmar] faz fronteira com um país enorme, que tem uma divergência ideológica de abordagem internacional com os EUA."

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Fernandes afirma que o fato de ter sido uma colônia britânica "contribui para 95%" do que ocorre hoje em Mianmar. Ela explica que, quando os britânicos chegaram, Mianmar não era um Estado centralizado, e que sempre existiram diversas etnias naquele espaço. Ela afirma que os britânicos passaram a atuar pela tomada de território.
"Quando o Império Britânico chega, tem aquela tendência de estabelecer um centro de controle único, então a organização social passa a se estabelecer em uma tentativa de modelo ocidental. E aí eles escolheram algumas etnias que seriam mais fáceis de controlar e que conseguiriam trazer essa centralidade esperada", afirma a analista.
Uma das etnias foram os burma, o maior grupo ético de Mianmar, de onde vem o antigo nome do país, Birmânia.

"Tudo acabou fazendo parte de uma coisa só, que era um império britânico-indiano. Então, vai ter migração de indianos para Mianmar, de etnias de Mianmar para a Índia também, algumas vão ser utilizadas como mão de obra para diversas obras que foram estabelecidas", afirma a especialista.

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