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Inabilidade diplomática fez EUA perderem poder de pressionar América Latina, diz analista

© AP Photo / Rebecca BlackwellVendedor com bandeiras "Fora Trump" durante protesto que condena a intervenção dos EUA na América Latina, na Cidade do México. México, 16 de junho de 2017
Vendedor com bandeiras Fora Trump durante protesto que condena a intervenção dos EUA na América Latina, na Cidade do México. México, 16 de junho de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 25.09.2025
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À Sputnik Brasil, especialista aponta que a região pode aproveitar o atual momento de distanciamento de Washington para rearticular a cooperação latino-americana, e diz que Brasil, México, Colômbia e Chile poderiam formar um eixo gravitacional para atrair outros países.
A administração do presidente estadunidense, Donald Trump, adotou uma postura ofensiva em relação à América Latina sob a alegação de combate ao narcotráfico, enviando contingente militar para a região, bombardeando embarcações venezuelanas e anunciando o cancelamento da certificação da Colômbia como "aliada na luta contra as drogas".
Em paralelo, Trump pressionou Brasília impondo tarifas de 50% aos produtos brasileiros, acusando o país de não ser mais uma nação democrática e ordenando o fim do julgamento dos envolvidos no 8 de Janeiro.
Nenhuma das medidas, no entanto, trouxe o efeito de encurralamento esperado: em meio às provocações dos EUA, a Venezuela firmou um acordo de cooperação com a Rússia, que abrange, entre outras áreas, parceria tecnológica, energética e militar; o presidente colombiano, Gustavo Petro, reagiu à retirada da certificação sinalizando uma mudança na relação com Washington, inclusive na parceria militar; e o Brasil não se curvou às exigências norte-americanas, concluindo o julgamento e abrindo novos mercados para compensar o tarifaço.
À Sputnik Brasil, Héctor Saint-Pierre, especialista em segurança internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que os EUA perderam a capacidade de pressionar a América Latina porque perderam a habilidade diplomática na região.

"A diplomacia norte-americana nunca foi brilhante, sempre foi uma diplomacia das canhoneiras, de imposição. Mas, neste momento, o gap entre os países do Sul Global e os EUA é menor do que na época em que se falava do Terceiro Mundo e do Primeiro Mundo", explica.

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Ele acrescenta que novas tecnologias e fluxos econômicos e comerciais internacionais conferiram aos países latino-americanos "certa possibilidade de mobilização, liberdade e ação estratégica".
Saint-Pierre afirma que os EUA decidiram concentrar sua atenção na América Latina para conter a expansão da influência chinesa e porque "Trump compreendeu a situação real das tensões internacionais", com a negação da Rússia à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) por meio da Ucrânia e o preparo militar de China, Irã e Coreia do Norte — quatro países que ele aponta formarem o "quadrilátero" que os EUA consideram o inimigo da próxima guerra.

"Ele [Trump] decide se retirar das frentes, concentrar seu esforço nos EUA e se preparar para aquela guerra que supõe que atualmente não tem condições de vencer. […] Nesse recolhimento, o círculo estratégico imediato é a América Latina, que ele precisa controlar."

O especialista enfatiza que o objetivo de Washington é manter "sua fortaleza no que considera seu quintal, que seria o continente americano", que também é rico em recursos naturais e em terras raras. E o meio mais utilizado, há séculos, pelos EUA para intervenções na região foram invasões e, nas décadas mais recentes, golpes de Estado, que "inundaram países latino-americanos nos anos 1950, 1960 e 1970".

"E aí está a principal debilidade da América Latina, que é a autonomia militar. Os militares têm autonomia, não há um controle político da defesa nem do seu instrumento específico, que são os militares. Então os militares são os que decidem seu alinhamento estratégico global."

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Segundo Saint-Pierre, os militares latino-americanos não apenas fazem uso do treinamento e do arsenal bélico norte-americano, como são alinhados à doutrina militar dos EUA.
"Então uma das formas que os EUA têm de pressionar é ameaçando com essa autonomia militar. O que teria acontecido no Brasil se no 8 de Janeiro, em lugar de Biden, estivesse o Trump [na Casa Branca]? Possivelmente o golpe teria acontecido. Isso é um expediente que está sendo usado em várias partes do mundo e que pode ser utilizado aqui. No caso da Colômbia, eu acho que o risco de Petro é justamente esse. Até que ponto ele tem o controle de suas Forças Armadas?"
Entretanto ele afirma que o momento atual, no qual os EUA têm conferido um tratamento cruel a seus aliados, diminui o valor que Washington pode ter como um ator político regional e abre uma oportunidade para os países da região ampliarem sua liberdade estratégica e cooperação.
"Os países da região, os Estados nacionais da América Latina, neste momento têm condições de procurar rearticular a cooperação de países sul-americanos para fortalecer-se quanto a uma posição política comum."
Para o analista, México, Colômbia, Chile e Brasil poderiam formar um eixo gravitacional para atrair outros países da região, "não para um enfrentamento aos EUA, mas em busca de sua autonomia e liberdade de ação estratégica".

"Não é colocar-se contra os EUA ou a favor da China, não é operar nessa polaridade que está se formando [no mundo], e, sim, aproveitar essa tensão internacional para procurar a posição da América Latina com autonomia, a criação de um novo fórum em que se unam a multipolaridade e a multilateralidade que está emergindo como uma nova alternativa para o mundo."

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