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Análise: ligação entre Lula e Trump é início de processo que precisa de 'sinais concretos' dos EUA

© Foto / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert / CC BY 2.0O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante telefonema no Palácio da Alvorada (foto de arquivo)
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante telefonema no Palácio da Alvorada (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 06.10.2025
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Parece que os tempos de chateação dos Estados Unidos, em especial de Donald Trump, para com o Brasil estão contados. É que, mais cedo, os líderes brasileiro e norte-americano falaram por telefone. Segundo fontes, a ligação foi amistosa e teve um tom direto sobre tarifaço, situação em Gaza e convites para eventos tendo como finalidade o diálogo.
A recente ligação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump foi, segundo analistas, um marco simbólico na tentativa de restaurar o diálogo bilateral entre Brasil e Estados Unidos.
Para o professor Roberto Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), esse telefonema é um passo importante, mas ainda exige ações concretas para resolver pendências.
De acordo com Menezes, a retomada das conversas entre os líderes foi um passo positivo especialmente porque o Brasil, desde o início, não impôs nenhuma "interdição" ou "condicionalidade" para que o diálogo ocorresse.

"Isso veio a partir dos Estados Unidos, que passaram a utilizar tarifas como instrumento de chantagem contra o Brasil, porque elas não têm base na realidade, uma vez que os Estados Unidos têm superávit com o Brasil", afirmou o especialista.

O governo brasileiro, desde o anúncio das tarifas, adotou uma série de medidas estratégicas para mitigar os impactos, coordenando ações com diferentes setores da economia, como a indústria, e proporcionando apoio emergencial aos mais afetados, como o de pescado e o de açaí.
"O governo brasileiro não descuidou em nenhum minuto, em nenhum momento ele descuidou do tamanho, enfim, do problema", ressaltou Menezes.
Contudo, o professor lembra que o impacto das tarifas ainda é um desafio significativo, e não só para o Brasil. "Os efeitos do tarifaço do Trump […] acabam afetando os setores da economia nos Estados Unidos", explicou.
Esse choque de realidade já causou reações internas nos EUA, devido à inflação, o que torna a questão ainda mais complexa. Nesse sentido, Menezes acredita que o telefonema de hoje é apenas o começo de um processo que precisa ser seguido de "medidas efetivas, de sinais concretos vindos dos Estados Unidos".
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Menezes também abordou a investigação comercial aberta pelos Estados Unidos contra o Brasil, um processo que pode fundamentar futuras decisões sobre as tarifas.
"Nós vamos ter um documento em breve — tudo leva a crer que em novembro, dezembro —, e que vai mostrar se o Brasil é um parceiro justo ou injusto — como eles usam o termo em inglês, se é um fair trade", afirmou o professor, explicando que a investigação está centrada na alegação de que o Brasil teria adotado medidas protecionistas prejudiciais aos interesses americanos.
A expectativa, segundo o especialista, é que os Estados Unidos revelem uma mudança de postura nas investigações e nas tarifas.
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Para Jahde de Almeida Lopez, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o impacto da reaproximação entre os dois líderes vai além do gesto simbólico.
"Carrega um peso principalmente político, relacionado não só às tensões internacionais e comerciais, mas também à atuação de uma extrema-direita que está cada vez mais conectada internacionalmente", analisa.
Segundo Lopez, o gesto de Trump, ao retomar o contato com Lula, é calculado e está longe de representar uma relação de igual para igual.
"Trump retoma o contato sempre que lhe convém, sendo, acima de tudo, a parte do diálogo que busca estabelecer os termos da conversa", afirma. O movimento é lido como uma manobra estratégica, que ignora a histórica assimetria de poder entre os países e reforça a postura tradicional dos Estados Unidos de conduzir as conversas conforme seus próprios interesses.
Questionada sobre a possibilidade de os EUA atenderem aos pedidos de Lula — como a retirada da sobretaxa de 40% sobre os produtos brasileiros e a revisão de medidas restritivas contra autoridades do país —, Lopez adota um tom realista. "Esperar concessões substantivas por parte dos Estados Unidos sem contrapartidas significativas é um ato de ingenuidade diplomática", alerta.
Para ela, o estilo de Trump torna qualquer previsão difícil. "Ele governa os Estados Unidos pautado na imprevisibilidade, sem uma linha de atuação predefinida ou a manutenção de posições consistentes", pontua. Ainda assim, a especialista destaca que o protecionismo agressivo, tanto na economia quanto na política migratória, continua sendo um traço marcante do presidente republicano.
Outro ponto que lança sombras sobre o suposto avanço nas relações bilaterais é a escolha de Marco Rubio como interlocutor por parte dos EUA. De acordo com Lopez, a indicação "não é neutra nem positiva". Senador pelo estado da Flórida, Rubio é conhecido por seu alinhamento à direita latino-americana, por sua proximidade com a família Bolsonaro e por críticas públicas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
"O histórico de oposição de Rubio a governos progressistas na América Latina indica que eventuais conversas ou um encontro presidencial entre Lula e Trump seriam pautados mais por uma gestão de crise do que por uma parceria estratégica real", cravou.
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