https://noticiabrasil.net.br/20251006/propagandismo-pode-atrapalhar-competitividade-dos-eua-diante-da-china-afirma-especialista-43967770.html
'Propagandismo' pode atrapalhar competitividade dos EUA diante da China, afirma especialista
'Propagandismo' pode atrapalhar competitividade dos EUA diante da China, afirma especialista
Sputnik Brasil
Governo de Donald Trump anunciou uma taxa de US$ 100 mil para a emissão de vistos H-1B, destinados a trabalhadores estrangeiros altamente qualificados... 06.10.2025, Sputnik Brasil
2025-10-06T20:00-0300
2025-10-06T20:00-0300
2025-10-10T14:58-0300
panorama internacional
ásia e oceania
mundo
américas
donald trump
china
estados unidos
brasil
mundioka
exclusiva
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/0c/03/37585591_0:0:2817:1586_1920x0_80_0_0_4c8eeac2c7154eda74af190bfcc31527.jpg
A China e os Estados Unidos travam, nos últimos anos, uma disputa pela liderança da corrida tecnológica mundial. Por trás do desenvolvimento de chips mais poderosos e novos sistemas operacionais, existem trabalhadores altamente qualificados, de diferentes nacionalidades, atuando pelas empresas dos dois países.O governo do presidente Donald Trump, porém, parece querer dificultar a contratação de mão de obra qualificada estrangeira. O republicano anunciou no fim de setembro o aumento da taxa do visto H-1B, reservado aos trabalhadores altamente qualificados de outros países, passando de US$ 215 (R$ 1.141) para US$ 100 mil (R$ 531.050).A China, por outro lado, divulgou em agosto a criação do visto K, que permite que pessoas qualificadas entrem no país de graça, mesmo sem proposta de emprego, e busquem colocação profissional e intercâmbios em áreas como educação, cultura e ciência e tecnologia.Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o professor de história da Universidade Federal Fluminense (UFF) Roberto Moneto classifica o aumento do visto H1-B como uma ação propagandista do governo Trump, em uma suposta tentativa de proteger os empregos locais.Moneto afirma que ainda é cedo para fazer qualquer tipo de projeção ou avaliação sobre os impactos do aumento do preço dos vistos nos Estados Unidos, mas reflete que essa barreira financeira pode ser um diferencial na disputa tecnológica e financeira com a China.Para o professor da UFF, é estranha a forma como Trump cria barreiras para a entrada de estrangeiros qualificados no país, indo de encontro com a bandeira defendida pelos grandes CEOs das big techs, que amplamente apoiaram a candidatura do republicano, mas dependem dessa mão de obra global.Moneto reforça que essa ação de Trump é uma maneira de fortalecer o discurso de que os imigrantes são um problema para os Estados Unidos. Se as ações começaram contra os estrangeiros sem documentação no território norte-americano, o próximo passo é a caça aos documentados.O especialista acredita que o efeito prático dessa nova abordagem é que esses funcionários altamente qualificados vão buscar novos empregadores na China, levando também o conhecimento adquirido após anos nas empresas norte-americanas.China usa tecnologia e estudos como arma diplomáticaSe, antes, países como Canadá, Estados Unidos e Portugal eram destinos clássicos dos estudantes brasileiros, hoje o cenário ganha um novo personagem. Do outro lado do mundo, a China, por meio de bolsas de estudo, tenta atrair jovens de países da América Latina, como o Brasil, mas também da África e da Ásia.Ingrid Torquato, pesquisadora da rede Observa China e doutoranda em relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Fudan, em Xangai, é um exemplo da nova abordagem chinesa. A internacionalista aprendeu mandarim na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2011, por meio do Instituto Confúcio. Quatro anos depois, foi hora de ir para a China.Torquato destaca que a China costumava ter uma relação de colaboração científica com o Ocidente, em especial América do Norte e Europa. Mas, desde o primeiro governo Trump, com as restrições impostas às pesquisas chinesas, Pequim buscou intensificar as colaborações com o Sul Global.A entrevistada explica que não há uma pressão para esses estudantes se manterem na China. Inclusive, uma das ideias por trás dessas bolsas é que os jovens estrangeiros transportem por todo o mundo os conhecimentos sobre a cultura chinesa.A doutoranda acredita que algumas barreiras ainda afastam os estudantes brasileiros das universidades chinesas, como a distância, o idioma e a diferença de fuso, além de entendimentos errôneos sobre o governo chinês."[Há] Um medo, uma possível questão — que vai no imaginário, que a gente vê no Brasil, sobre a China —, que é a questão de liberdade para fazer ciência, para pesquisar ou criticar, ou não, a China; quando a gente está aqui, na verdade, a gente vê que não é bem assim. Então tem pesquisadores, estudantes e professores aqui que têm trabalhado, que têm estudado aqui, com críticas ou não, enfim, que têm total liberdade para fazer seus trabalhos mundo afora e que conseguem, aqui também, adquirir esse conhecimento."Torquato acredita que o maior número de estudantes estrangeiros na China, em especial aqueles que têm origem no Sul Global, vai poder contribuir com os diferentes investimentos feitos por Pequim ao redor do mundo, como o corredor bioceânico que ligará o Atlântico ao Pacífico por via férrea, cortando Brasil e Peru.
https://noticiabrasil.net.br/20251006/enquanto-os-eua-esnobam-mao-de-obra-qualificada-a-china-abraca-43891591.html
https://noticiabrasil.net.br/20251003/china-pressiona-eua-a-suspenderem-restricoes-comerciais-em-troca-de-investimento-diz-midia-43889960.html
china
estados unidos
brasil
sul global
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2025
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/0c/03/37585591_129:0:2817:2016_1920x0_80_0_0_d86a5ffab32deb733bee89d1352ccf86.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
ásia e oceania, mundo, américas, donald trump, china, estados unidos, brasil, mundioka, exclusiva, sul global, eua, podcast, visto, estudantes, mão de obra
ásia e oceania, mundo, américas, donald trump, china, estados unidos, brasil, mundioka, exclusiva, sul global, eua, podcast, visto, estudantes, mão de obra
'Propagandismo' pode atrapalhar competitividade dos EUA diante da China, afirma especialista
20:00 06.10.2025 (atualizado: 14:58 10.10.2025) Especiais
Governo de Donald Trump anunciou uma taxa de US$ 100 mil para a emissão de vistos H-1B, destinados a trabalhadores estrangeiros altamente qualificados. Enquanto isso, Pequim criou o visto K, permitindo que profissionais de ponta tenham livre acesso ao país mesmo sem proposta de emprego.
A China e os Estados Unidos travam, nos últimos anos, uma disputa pela
liderança da corrida tecnológica mundial. Por trás do desenvolvimento de
chips mais poderosos e novos sistemas operacionais, existem trabalhadores altamente qualificados, de diferentes nacionalidades, atuando pelas empresas dos dois países.
O governo do presidente Donald Trump, porém, parece querer dificultar a contratação de mão de obra qualificada estrangeira. O republicano anunciou no fim de setembro o
aumento da taxa do visto H-1B, reservado aos trabalhadores altamente qualificados de outros países,
passando de US$ 215 (R$ 1.141) para US$ 100 mil (R$ 531.050).
A China, por outro lado, divulgou em agosto a criação do visto K, que permite que pessoas qualificadas entrem no país de graça, mesmo sem proposta de emprego, e busquem colocação profissional e intercâmbios em áreas como educação, cultura e ciência e tecnologia.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o professor de história da Universidade Federal Fluminense (UFF) Roberto Moneto classifica o aumento do visto H1-B como uma ação propagandista do governo Trump, em uma suposta tentativa de proteger os empregos locais.
"Me parece muito mais uma tentativa de propaganda mesmo, supostamente em defesa dos trabalhadores estadunidenses, e de mostrar que vai qualificar trabalhadores para esses postos e que esses postos devem ser direcionados para os trabalhadores estadunidenses."
Moneto afirma que ainda é cedo para fazer qualquer tipo de projeção ou avaliação sobre os impactos do aumento do preço dos vistos nos Estados Unidos, mas reflete que essa barreira financeira pode ser um diferencial na disputa tecnológica e financeira com a China.
"Esses trabalhadores são, em grande medida, responsáveis por essas startups e pelo setor de tecnologia. Então, em um mundo onde a competitividade entre as empresas transnacionais é muito grande, as empresas transnacionais sediadas nos Estados Unidos, que abrem mão desses trabalhadores ou que não poderão ter esses trabalhadores em função de uma medida do governo, elas fatalmente encontrarão dificuldade no desenvolvimento dos seus projetos."
Para o professor da UFF, é estranha a forma como Trump cria barreiras para a entrada de estrangeiros qualificados no país, indo de encontro com a bandeira defendida pelos grandes CEOs das
big techs, que amplamente apoiaram a candidatura do republicano, mas
dependem dessa mão de obra global.
Moneto reforça que essa ação de Trump é uma maneira de
fortalecer o discurso de que os imigrantes são um problema para os Estados Unidos. Se as ações começaram contra os
estrangeiros sem documentação no território norte-americano, o próximo passo é a caça aos documentados.
"Um dos aspectos [dessa proibição] é a criação dessa perspectiva de securitização, ou seja, de identificar ou de construir uma narrativa na qual determinados grupos sociais são uma ameaça à segurança nacional — nesse caso, os imigrantes. E, para essa narrativa ficar completa, me parece que o governo Trump está avançando, não só sobre imigrantes não documentados, mas também sobre os documentados, incluindo imigrantes que ocupam cargos de trabalho bastante qualificados e bem-pagos."
O especialista acredita que o efeito prático dessa nova abordagem é que esses funcionários altamente qualificados vão buscar novos empregadores na China, levando também o conhecimento adquirido após anos nas empresas norte-americanas.
"O desenvolvimento, a qualidade de vida na China, tem crescido bastante, os salários são bem altos; e nos Estados Unidos, o que a gente observa é um governo errático e que causa bastante insegurança, não só nos imigrantes, mas também nos cidadãos estadunidenses em determinadas áreas — inclusive causa insegurança em setores da economia, como o próprio setor de tecnologia. Então não acho que seja improvável a gente ver esse cenário [de mudança para a China], não, muito pelo contrário."
China usa tecnologia e estudos como arma diplomática
Se, antes, países como Canadá, Estados Unidos e Portugal eram destinos clássicos dos estudantes brasileiros, hoje o cenário ganha um novo personagem. Do outro lado do mundo, a China, por meio de bolsas de estudo, tenta atrair jovens de países da América Latina, como o Brasil, mas também da África e da Ásia.
Ingrid Torquato, pesquisadora da rede Observa China e doutoranda em relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Fudan, em Xangai, é um exemplo da nova abordagem chinesa. A internacionalista aprendeu mandarim na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2011, por meio do Instituto Confúcio. Quatro anos depois, foi hora de ir para a China.
Torquato destaca que a China costumava ter uma relação de colaboração científica com o Ocidente, em especial América do Norte e Europa. Mas, desde o primeiro governo Trump, com as restrições impostas às pesquisas chinesas, Pequim buscou intensificar as colaborações com o Sul Global.
"O Brasil mesmo tem o projeto CBERS [Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres] desde a década de 1980, então não é um movimento que a gente pode dizer novo, mas a gente reconhece que tem uma mudança de foco da China do Ocidente, da América do Norte e da Europa, para o Sul Global, tanto nesses mecanismos científicos quanto culturais."
A entrevistada explica que não há uma pressão para esses estudantes se manterem na China. Inclusive, uma das ideias por trás dessas bolsas é que os jovens estrangeiros transportem por todo o mundo os conhecimentos sobre a cultura chinesa.
"Vejo muitos colegas que voltaram para o Brasil após fazer mestrado, depois de fazer cursos de idiomas, e que agora são bastante requisitados pelas próprias empresas chinesas, ou têm oportunidades agora no Brasil ou em outros países, por ter essa janela de abertura de conhecimento aqui e ter essa expertise de China."
A doutoranda acredita que algumas barreiras ainda afastam os estudantes brasileiros das universidades chinesas, como a distância, o idioma e a diferença de fuso, além de entendimentos errôneos sobre o governo chinês.
"[Há] Um medo, uma possível questão — que vai no imaginário, que a gente vê no Brasil, sobre a China —, que é a questão de liberdade para fazer ciência, para pesquisar ou criticar, ou não, a China; quando a gente está aqui, na verdade, a gente vê que não é bem assim. Então tem pesquisadores, estudantes e professores aqui que têm trabalhado, que têm estudado aqui, com críticas ou não, enfim, que têm total liberdade para fazer seus trabalhos mundo afora e que conseguem, aqui também, adquirir esse conhecimento."
Torquato acredita que o maior número de estudantes estrangeiros na China, em especial aqueles que têm origem no Sul Global, vai poder contribuir com os diferentes investimentos feitos por Pequim ao redor do mundo, como o
corredor bioceânico que ligará o Atlântico ao Pacífico por via férrea, cortando Brasil e Peru.
"Vejo isso como uma maior porta de entrada do Sul Global na China, para ter esse conhecimento e, depois, obviamente, conseguir aplicar ou, talvez, ter uma melhor absorção desses investimentos de infraestrutura que a China tem feito na América Latina. Uma melhor absorção, eu digo, após uma vivência por aqui, depois de um trabalho, você tem profissionais do Sul Global com uma vivência chinesa, com contratos na China, com trabalhos na China, podendo atuar nessas áreas de infraestrutura em que a China tem investido."
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!
Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.
Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).