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Chantagem ou cooperação: soberania argentina pode estar à venda com aporte financeiro dos EUA
Chantagem ou cooperação: soberania argentina pode estar à venda com aporte financeiro dos EUA
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O presidente da Argentina, Javier Milei, visitou nesta terça-feira (14) a Casa Branca, pela primeira vez no governo de Donald Trump. Com a economia em... 14.10.2025, Sputnik Brasil
2025-10-14T20:45-0300
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Milei e Trump estiveram juntos também no mês passado, às margens da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Após a reunião entre os líderes, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, confirmou a negociação de um apoio financeiro de US$ 20 bilhões a Buenos Aires.Ele também revelou que os EUA comprariam títulos da dívida argentina caso a situação assim exigisse, e que a ajuda poderia incluir ainda um crédito direto por meio do Fundo de Estabilização Cambial.Já após o encontro desta terça, Bessent mencionou as eleições legislativas na Argentina e disse esperar que Milei siga implementando reformas em seu país. Já Trump preferiu ressaltar que, caso Milei não saia vitorioso, "não seremos generosos com a Argentina."A reunião na Casa Branca marcou a quarta vez que Milei e Trump se encontraram em menos de um ano. A proximidade, segundo especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, reafirma o alinhamento já explicitado em declarações, sobretudo pelo lado argentino.Em relação à dependência do crédito norte-americano, Matheus Pereira, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), afirma que esse é um traço histórico da economia argentina, e a importância de Washington nessa questão já é costumária.Entretanto, o que está sendo feito neste momento é uma linha de ação política que "reforça outros aspectos dessa dependência, para além da questão estritamente financeira".O especialista recorda que, em outros momentos da história, a Argentina teve governos mais alinhados aos Estados Unidos, como a gestão de Mauricio Macri (2015–2019) e Carlos Menem (1989–1999), mas "os níveis de submissão aos Estados Unidos" apresentados por Milei, ao seu ver, são "inéditos".Apostar alto na relação com os EUA terá consequências?Conforme o analista, a imprevisibilidade que o governo Trump apresenta até aqui, por si só, já é um fator de risco a ser levado em conta pelo lado argentino e pode atrapalhar Milei a fechar a conta no fim do mês.Se os acordos não forem executados, a tendência, segundo Pereira, é o retorno de um filme já visto antes pela população: fuga de capitais.Isso produzirá a necessidade de o governo impor restrições à saída de dólares e ao câmbio, e consequentemente desencadeará "o aumento da inflação, o aumento da pobreza, uma precarização geral das condições de vida do país", explica o internacionalista. "Esse filme já passou várias vezes ao longo da história argentina."Outro eventual prejuízo que poderia ocorrer a partir de um alinhamento muito estrito, sobretudo a depender das condições para chegar a um acordo, seria um isolacionismo da Argentina no cenário internacional, segundo explica Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).Argentina pode cortar relações com a China?Em entrevista ao canal Fox News no último sábado (11), Bessent disse que Milei é um grande aliado dos EUA e estava comprometido em expulsar a China da Argentina, "que está em toda a América Latina". A declaração foi dada logo após o secretário do Tesouro norte-americano confirmar o repasse de recursos a Buenos Aires.Embora narrativas desse tipo sejam ventiladas em vários momentos no cenário da política norte-americana, Pereira atesta que, se os Estados Unidos insistirem nessa condição, ela estará fadada ao fracasso."Não existe possibilidade de o governo Milei romper relações comerciais com os chineses. Se ele pudesse fazer algo dessa natureza, já teria feito", afirma o professor, ressaltando que a China é pauta de boa parte das exportações do país.Já Bressan ressalta que a Argentina ainda depende do swap cambial com a China, mas, ao mesmo tempo, enfrenta a pressão dos Estados Unidos para romper com esse acordo bilateral. Para ela, a postura dos Estados Unidos evidencia que a crise financeira na Argentina está sendo testada para reforçar a influência de Washington na América do Sul.Militares norte-americanos em território argentino: condição é possível?Javier Milei já teria autorizado a entrada de militares norte-americanos no país para exercícios conjuntos. Segundo especulações, a instalação de militares dos Estados Unidos na Argentina seria uma das condições para o aporte financeiro desejado por Bueno Aires.Entretanto, o decreto presidencial não é suficiente para permitir a entrada de tropas estrangeiras no país. Segundo a Constituição argentina, é necessário aval do Congresso.Como Milei não goza de maioria no Legislativo — seu governo vem sofrendo derrotas e pode perder ainda mais base de apoio nas eleições deste mês —, Pereira avalia que o presidente argentino não deverá conseguir implementar a medida.Bressan, por sua vez, ressalta que aceitar essa condição teria um custo alto para a população argentina e também para o governo Milei.Nesse sentido, na análise da especialista, um alinhamento direto com os Estados Unidos no campo militar fortaleceria a oposição doméstica e levaria a mais protestos nas ruas. Milei perderia até o apoio de partidos que hoje compõem sua base, o que seria um mau negócio internamente para o mandatário.
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américas, economia, javier milei, donald trump, scott bessent, argentina, estados unidos, china, onu, casa branca, casa rosada, empréstimos, soberania, exclusiva, eua, organização das nações unidas, nações unidas, assembleia geral das nações unidas, departamento do tesouro dos eua
Chantagem ou cooperação: soberania argentina pode estar à venda com aporte financeiro dos EUA
20:45 14.10.2025 (atualizado: 12:55 15.10.2025) Especiais
O presidente da Argentina, Javier Milei, visitou nesta terça-feira (14) a Casa Branca, pela primeira vez no governo de Donald Trump. Com a economia em frangalhos, o chefe da Casa Rosada segue em busca de aportes financeiros, mas as condições norte-americanas podem ter um alto custo, conforme especialistas.
Milei e Trump estiveram juntos também no mês passado, às margens da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Após a reunião entre os líderes, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, confirmou a negociação de um apoio financeiro de US$ 20 bilhões a Buenos Aires.
Ele também revelou que os EUA
comprariam títulos da dívida argentina caso a situação assim exigisse, e que a ajuda poderia incluir ainda um crédito direto por meio do Fundo de Estabilização Cambial.
Já após o
encontro desta terça, Bessent mencionou as eleições legislativas na Argentina e disse esperar que Milei siga implementando reformas em seu país. Já Trump preferiu ressaltar que, caso Milei não saia vitorioso, "
não seremos generosos com a Argentina."
A reunião na Casa Branca marcou a quarta vez que Milei e Trump se encontraram em menos de um ano. A proximidade, segundo especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, reafirma o alinhamento já explicitado em declarações, sobretudo pelo lado argentino.
Em relação à dependência do crédito norte-americano, Matheus Pereira, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), afirma que esse é um traço histórico da economia argentina, e a importância de Washington nessa questão já é costumária.
Entretanto, o que está sendo feito neste momento é uma
linha de ação política que
"reforça outros aspectos dessa dependência, para além da questão estritamente financeira".
O especialista recorda que, em outros momentos da história, a Argentina teve governos mais alinhados aos Estados Unidos, como a gestão de Mauricio Macri (2015–2019) e Carlos Menem (1989–1999), mas "os níveis de submissão aos Estados Unidos" apresentados por Milei, ao seu ver, são "inéditos".
Apostar alto na relação com os EUA terá consequências?
Conforme o analista, a imprevisibilidade que o governo Trump apresenta até aqui, por si só, já é um fator de risco a ser levado em conta pelo lado argentino e pode atrapalhar Milei a fechar a conta no fim do mês.
Se os acordos não forem executados, a tendência, segundo Pereira, é o retorno de um
filme já visto antes pela população: fuga de capitais.
Isso produzirá a necessidade de o governo impor restrições à saída de dólares e ao câmbio, e consequentemente desencadeará "o aumento da inflação, o aumento da pobreza, uma precarização geral das condições de vida do país", explica o internacionalista. "Esse filme já passou várias vezes ao longo da história argentina."
Outro eventual prejuízo que poderia ocorrer a partir de um alinhamento muito estrito, sobretudo a depender das condições para chegar a um acordo, seria um isolacionismo da Argentina no cenário internacional, segundo explica Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
"Quando a Argentina se isola ou se alinha muito diretamente com os Estados Unidos, com um governo tão controverso, de Trump, a gente pode imaginar o quê? Que a Argentina vai sofrer um isolamento e até um constrangimento internacional, ou seja, não vai vir uma retaliação direta contra a Argentina, mas um constrangimento em que eles vão ter dificuldades, por exemplo, de novos parceiros econômicos e comerciais."
Argentina pode cortar relações com a China?
Em entrevista ao
canal Fox News no último sábado (11), Bessent disse que Milei é um
grande aliado dos EUA e estava
comprometido em expulsar a China da Argentina, "que está em toda a América Latina". A declaração foi dada logo após o secretário do Tesouro norte-americano confirmar o repasse de recursos a Buenos Aires.
Embora narrativas desse tipo sejam
ventiladas em vários momentos no cenário da política norte-americana, Pereira atesta que, se os Estados Unidos insistirem nessa condição, ela estará fadada ao fracasso.
"Não existe possibilidade de o governo Milei romper relações comerciais com os chineses. Se ele pudesse fazer algo dessa natureza, já teria feito", afirma o professor, ressaltando que a China é pauta de boa parte das exportações do país.
Já Bressan ressalta que a Argentina ainda depende do swap cambial com a China, mas, ao mesmo tempo, enfrenta a pressão dos Estados Unidos para romper com esse acordo bilateral. Para ela, a postura dos Estados Unidos evidencia que a crise financeira na Argentina está sendo testada para reforçar a influência de Washington na América do Sul.
"Isso é visto como uma violação da soberania econômica. O país, portanto, estaria sendo forçado a escolher um parceiro comercial ou financeiro em detrimento de outro, para obter auxílio, minando, claro, a sua autonomia, a sua soberania", explica a especialista.
Militares norte-americanos em território argentino: condição é possível?
Javier Milei
já teria autorizado a entrada de militares norte-americanos no país para exercícios conjuntos. Segundo especulações, a instalação de militares dos Estados Unidos na Argentina seria uma das condições para o aporte financeiro desejado por Bueno Aires.
Entretanto, o decreto presidencial não é suficiente para permitir a entrada de tropas estrangeiras no país. Segundo a Constituição argentina, é necessário aval do Congresso.
Como Milei não goza de maioria no Legislativo — seu
governo vem sofrendo derrotas e pode perder ainda mais base de apoio nas eleições deste mês —, Pereira avalia que o presidente argentino não deverá conseguir implementar a medida.
Bressan, por sua vez, ressalta que aceitar essa condição teria um custo alto para a população argentina e também para o governo Milei.
"Para grande parte da população e da oposição política, a presença militar americana seria vista como uma entrega de soberania e um retorno às políticas da esfera de influência. Ou seja, isso alimenta narrativas de que o país está sendo forçado a se curvar aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos para resolver sua crise financeira."
Nesse sentido, na análise da especialista, um alinhamento direto com os Estados Unidos no campo militar fortaleceria a oposição doméstica e levaria a mais protestos nas ruas. Milei perderia até o apoio de partidos que hoje compõem sua base, o que seria um mau negócio internamente para o mandatário.
"A venda da soberania seria um ponto central, já que, no seu desespero por dólares, por tentar acalmar essa crise econômica que volta à Argentina com tudo, a oposição vai acusá-lo de trocar a soberania nacional por dinheiro dos Estados Unidos", finaliza.
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