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Crise econômica: Berlim paga o preço por 'seguir cegamente' governo Biden na crise ucraniana

© AP Photo / Brendan SmialowskiO então presidente dos EUA, Joe Biden, e o então chanceler alemão, Olaf Scholz, durante a cúpula do G7 na Alemanha, em 26 de junho de 2022
O então presidente dos EUA, Joe Biden, e o então chanceler alemão, Olaf Scholz, durante a cúpula do G7 na Alemanha, em 26 de junho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2025
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Alemanha vive crise econômica séria e sem perspectiva de saída a curto prazo, diz especialista à Sputnik Brasil. Entenda o cenário.
A economia da Alemanha em 2025 deve crescer algo em torno de 0,2% a 1,3%. Efetivamente, conforme Williams Gonçalves, professor de relações internacionais aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), essa recuperação é compensatória.
Mundioka #727  - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2025
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Por que a economia da Alemanha está na berlinda?
Segundo o especialista, Berlim atravessa um extenso processo de crise, para o qual diferentes fatores contribuíram. Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, ele ressalta dois.
Um desses elementos é a concorrência com Pequim. A Alemanha, historicamente, tem sua economia baseada na exportação de bens industrializados, produtos de alto valor agregado e tecnológico. Entretanto, o lugar de potência na comercialização dessas mercadorias foi perdido.

"Embora os produtos alemães, sobretudo os automóveis, tenham uma importância grande, sejam reconhecidos como produtos de qualidade, o fato é que, do ponto de vista tecnológico, os alemães foram ultrapassados."

Neste sentido, a "irrupção da economia chinesa como principal economia do mundo" teve uma grande importância na defasagem dos alemães.
Ainda no cenário automobilístico, Robson Cunha Rael, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), destaca uma mudança nas relações entre China e Alemanha: Pequim era a principal compradora de automóveis de Berlim, mas o cenário se inverteu.
"Com o tempo, a China não apenas passou a importar menos carros alemães, mas a indústria automobilística chinesa passou a ganhar da Alemanha na exportação para outros países."
O outro fator apontado pelos analistas é o fato de a Alemanha ter rompido o comércio e sancionado a Rússia, deixando de comprar petróleo e gás de Moscou e, consequentemente, aumentando os custos internos de energia.
"A escolha feita pelos alemães de seguir cegamente a orientação dada pelo governo Joe Biden, isso teve efeitos desastrosos para a economia alemã", salienta Gonçalves.
O presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda) e o chanceler alemão, Olaf Scholz, caminham no Palácio de Meseberg, em 28 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 23.09.2024
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'Otimismo é coisa do passado': ​​atividade econômica na Alemanha e na França segue em declínio
A mudança nas relações também foi efeito da mudança no governo alemão. Enquanto foi chanceler, Angela Merkel priorizou a reaproximação dos laços comerciais com a Rússia, e durante seu mandato foram construídos os gasodutos Nord Stream 1 e 2, e a Alemanha se beneficiou bastante com a energia barata proveniente da Rússia.
"Quando iniciou a crise entre Rússia e Ucrânia em 2014, a Alemanha buscou uma mediação, inclusive alcançando acordos, como os de Minsk, assinados no Formato Normandia [agrupamento composto por Alemanha, França, Ucrânia e Rússia]", recorda Rael.
Só no governo de Olaf Scholz, a partir de fevereiro de 2022, Berlim adotou o pacote de sanções da União Europeia (UE), acompanhando a decisão norte-americana sobre o conflito.
As consequências foram diretas no cenário industrial alemão. Com a energia mais cara, os alemães passaram a importar, com maior custo, gás liquefeito dos Estados Unidos e do Catar, impactando diretamente a indústria.
"A produção industrial ficou muito cara, a ponto de muitas indústrias não conseguirem respirar nesse ambiente empresarial. Algumas mais fortes, inclusive, se transferiram para os Estados Unidos, e outras pura e simplesmente fecharam as portas", explica Gonçalves.

"Vale dizer que isso interessava aos Estados Unidos. Os americanos trabalham com uma doutrina geopolítica na qual Rússia e Alemanha não podem se unir de modo algum", complementa.

Para o especialista, a continuidade de Merkel não faria da economia alemã um "mar de rosas", mas talvez criasse mais condições para resistir. "Essa questão da energia foi um míssil que atingiu a economia alemã, mas por responsabilidade das autoridades alemãs."

Liderança na União Europeia está ameaçada?

Apesar de a crise prejudicar a projeção internacional, a Alemanha segue sendo a principal economia da União Europeia. A despeito do momento alemão, segundo os analistas, é pouco provável que haja uma perda da liderança.
"A União Europeia, de maneira geral, já enfrentou outras crises, como a da Grécia, a do Brexit, a dos imigrantes, a da COVID-19, também agora a da Ucrânia, e em nenhuma delas a França conseguiu assumir o papel de liderança", diz Rael sobre as posições no bloco.
Manifestante vestido de morte em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, na Alemanha, segura foice com a palavra Governo durante um ato público de agricultores, em 22 de março de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 11.04.2024
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Entretanto, a crise fiscal ameaça investimentos da maior economia da UE no bloco. Friedrich Merz, atual chanceler, já rejeitou o incremento do orçamento proposto pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Segundo Merz, o bloco precisa ser mais eficiente nos gastos existentes.
Entretanto, caso a eficiência não seja alcançada, projetos em áreas como defesa e transição energética ficarão ameaçadas.

"A energia já está mais cara e, na área da defesa, a modernização das forças europeias demanda muitos recursos, o que gera protestos por parte de populações civis, principalmente quando o aumento de gastos militares ocorre em conjunto com a redução dos gastos destinados ao Estado de bem-estar social", afirmou Rael.

Ao fim e ao cabo, diante de um cenário de crise, ainda é a economia mais importante da União Europeia e o Estado mais populoso do bloco. Logo, "a crise da Alemanha é uma crise da Europa", diz Gonçalves.
O analista atenta, ainda, que a crise não rebaixa a Alemanha para um status secundário, mas reduz sua força.

"A União Europeia funciona com as verbas de cada país. Então, quando a economia mais importante, mais forte, entra em crise e rebaixa a sua produção, isso afeta o conjunto."

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