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Resiliência do Sul Global a tarifas dos EUA sinaliza que 'antigo centro' está em queda

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Dólar rasgado (imagem referencial) - Sputnik Brasil, 1920, 17.11.2025
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À Sputnik Brasil, especialistas afirmam que o baixo impacto político das tarifas dos EUA revela que Washington perdeu a capacidade de ditar os rumos da economia mundial. Em seu lugar, o BRICS surge como uma âncora, atraindo países com relações mais horizontais.
Um relatório divulgado recentemente pela consultora de risco Verisk Maplecroft apontou que a maioria das economias emergentes, incluindo Brasil, Índia e China, se mostrou capaz de resistir à pressão tarifária da Casa Branca, colocando em xeque a estratégia político-comercial do presidente estadunidense, Donald Trump.
O relatório aponta que o cenário do comércio internacional se tornou mais multipolar e menos vulnerável a pressões unilaterais. Os dados indicam que os maiores mercados emergentes do mundo estão em melhor posição do que o estimado, e as medidas tarifárias dos Estados Unidos podem não ter mais a mesma influência que tinham antes.

Em abril deste ano, Donald Trump anunciou o "Dia da Libertação", no qual foram impostas tarifas de importação sobre todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos. A partir de uma base mínima de 10%, as tarifas-base chegaram a 50%, no caso do Lesoto, além de valores adicionais individualizados, como foi o caso brasileiro e o chinês.

À Sputnik Brasil, o jurista, editor da Autonomia Literária e analista geopolítico, Hugo Albuquerque, avalia que uma política tarifária da ordem imposta por Washington tende a ser ineficiente, porque "quem compra é porque precisa, e quem vende também".

Quem vende pode ter uma urgência maior do que quem está comprando, diz, "mas isso não muda o fato de que países compradores, em geral ricos, também têm necessidades. E as tarifas atingem as duas pontas dessa conversa".

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Um dos motivos da resiliência brasileira frente às tarifas norte-americanas, diz o analista, é o grande mercado interno do país, que absorve o aumento da oferta e possibilita contornar esse tipo de situação. "Inclusive o Brasil poderia estar em uma situação um pouco melhor, em termos econômicos, se investisse mais em infraestrutura e industrialização."
Pelo mesmo caminho vai Diego Pautasso, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que afirma à Sputnik Brasil que o país dos anos 1960 e 1970 não resistiria a uma guerra comercial desse nível com os Estados Unidos devido à dependência comercial que existia à época.
Em contraponto, hoje o mercado norte-americano representa em torno de 10% das exportações brasileiras, percentual muito menos robusto que o mercado interno e mais fraco que o das relações comerciais com outros países.
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Além disso, internamente o país conseguiu amortecer os impactos econômicos que as tarifas podem trazer, como perda de empregos e queda na produtividade. Nesta segunda-feira (17), o Boletim Focus, compilado de estimativas do mercado privado coletadas pelo Banco Central, apontou estabilidade econômica no país, com previsão de encerrar o ano com PIB em alta de 2,16% e inflação dentro da meta pela primeira vez em 2025.
"A capacidade de o governo brasileiro criar medidas compensatórias à perda do mercado americano é muito maior do que era há 50 anos."
Para ambos os analistas, entretanto, há um fundamento geopolítico que permitiu não só ao Brasil, mas a outras nações do mundo, resistir conjuntamente ao tarifaço norte-americano: a ascensão da multipolaridade, na qual nações do Sul Global possuem mais voz e espaços de manobra.
Segundo Pautasso, o desejo pelo fortalecimento do Sul Global é antigo, sendo expressado em diversos momentos, como a Conferência de Bandung, em 1955; a criação do Movimento dos Países Não Alinhados (MNA), em 1961; e o grupo G77, em 1964.
"O que mudou agora é que os países do BRICS funcionam como âncora, pois são países com grandes mercados, com capacidade tecnológica em diversos setores e de realizar investimentos. Isso passou a representar, para os países menores, uma oportunidade muito mais robusta de alcançar acesso a investimentos, a tecnologias e a um comércio em um nível maior de horizontalidade."
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Isso se torna evidente quando se olha como a participação do Brasil, da China e da Índia aumentou na balança comercial africana, enquanto a fatia dos Estados Unidos e da Europa diminuiu.
"No caso da China, as exportações para os EUA representavam por volta de 20% algumas décadas atrás, e hoje representam cerca de 12%. Isso, sem sombra de dúvida, explica a menor capacidade de coação no campo comercial dos EUA na atualidade."
No fundo, ao tentar coagir de maneira "truculenta" o resto do mundo à sua política comercial, Washington revela a perda de poder do "antigo centro sistêmico", formado pela tríade EUA, Europa e Japão.

"Perderam participação relativa no PIB mundial, perderam a centralidade como polo comercial e também perderam peso como promotor de investimentos no Sul Global. […] Ao invés de ser uma demonstração de força, é uma demonstração de fraqueza, de incapacidade de exercer liderança."

Para o jurista Hugo Albuquerque, ainda que o BRICS hoje crie um espaço de circulação de capitais alternativo à estrutura vigente, é preciso aprofundar ainda mais a atuação do grupo.

"É preciso criar, ampliar mecanismos entre os países [do BRICS], como a formação de um fundo monetário próprio, uma moeda comum. É preciso andar mais rápido na direção de um mecanismo de trocas."

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