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Acordos da Comissão Rússia-Venezuela criam uma arquitetura paralela em meio às sanções
Acordos da Comissão Rússia-Venezuela criam uma arquitetura paralela em meio às sanções
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"Em tempos difíceis, revelam-se os verdadeiros amigos", disse a vice-presidente executiva da Venezuela, Delcy Rodríguez, na 19ª reunião da Comissão... 02.12.2025, Sputnik Brasil
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Os resultados da reunião falam por si: 19 acordos concretos assinados e o anúncio de 42 novas iniciativas de cooperação distribuídas em dez setores. Esta comissão, a primeira a se reunir desde a assinatura do tratado de parceria estratégica e cooperação abrangente em maio do mesmo ano, serve como plataforma técnica para transformar os princípios desse marco geral em projetos tangíveis.César José Ramos Cedeño, doutor em Ciências Políticas, disse à Sputnik que essa relação gerou, desde o seu início, um acúmulo histórico de mais de 300 acordos bilaterais de cooperação.Um espaço geoestratégico compartilhadoUma das principais conclusões do recente encontro é que apenas três dos 19 acordos estão estritamente relacionados ao petróleo. Para Cedeño, isso não é uma coincidência, mas sim um sintoma da evolução madura da aliança.Em um contexto em que ambos os países operam sob a pressão de sanções ocidentais, a CIAN atua como força motriz para a construção de uma arquitetura paralela que lhes permita contornar essas restrições.De sua perspectiva, com base na trajetória da relação, as áreas de maior interesse comum e sinergia são tecnologia e finanças, seguidas de perto por defesa e segurança.Da perspectiva russa, a visão é igualmente estratégica: "A Rússia se propôs a consolidar a Venezuela como um polo de conectividade tecnológica e segura na região".Essa prioridade se materializou no recente Fórum Empresarial Rússia-Venezuela: Aliados Estratégicos. Segundo o especialista, esse evento foi "uma clara demonstração da importância que a Rússia atribui à cooperação científica e tecnológica com a Venezuela para avançar rumo à resiliência sistêmica", utilizando tecnologias que permitam "criar capacidades nacionais para inovar, automatizar e transformar processos".Defesa e modernização técnicaUm dos acordos mais sensíveis diz respeito à "modernização técnica" das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB). Ramos Cedeño destaca que isso vai além da simples aquisição de equipamentos."Com a 'modernização técnica' das FANB, possibilita-se um aprofundamento sustentado de sua interoperabilidade e resiliência a sanções", observa ele, detalhando que isso inclui "pacotes abrangentes para manutenção, treinamento, peças de reposição e atualizações de plataformas", e até mesmo a transferência de doutrina.O objetivo final, aponta ele, é avançar em direção a sistemas integrados, como um possível "escudo cibernético" nacional e a interconexão de sistemas de alerta antecipado, formando um "eixo estratégico de segurança" para a dissuasão regional.Para Cedeño, os efeitos para o hemisfério da consolidação da Rússia como o principal aliado de Caracas na área de defesa são profundos e multifacetados: "Isso permitirá gerar gradualmente os equilíbrios de segurança necessários no Hemisfério Ocidental, especialmente em termos de acesso, vigilância e negação de área no Caribe e no norte da América do Sul."Uma alternativa ao OcidenteEntre os acordos tecnológicos, destacam-se os projetos farmacêuticos e a adoção do sistema de navegação por satélite russo GLONASS, apresentado como um passo rumo à soberania tecnológica, oferecendo uma alternativa ao GPS americano.O especialista insiste que a verdadeira soberania não se conquista apenas pela transferência de produtos acabados, mas sim pela internalização do conhecimento: "Para avançar rumo à plena soberania tecnológica, não basta simplesmente receber a tecnologia; precisamos desenvolver a capacidade de absorvê-la, adaptá-la, inovar e reproduzi-la de forma independente."Em resumo, ele descreve o resultado como uma "soberania compartilhada", onde a Venezuela ganha espaço para manobrar em relação ao Ocidente.Desdolarização e conectividade físicaDiante do bloqueio financeiro, o especialista identifica um objetivo central nos mecanismos da CIAN: "Construir uma arquitetura financeira, comercial e logística paralela (um 'bypass') que permita a ambos os países mitigar, contornar e resistir à pressão das sanções ocidentais.""Ao estabelecer mecanismos de pagamento alternativos, a Rússia e a Venezuela, como aliadas estratégicas, estão promovendo a descolonização financeira", argumenta ele. O uso de rublos e bolívares (e potencialmente moedas digitais) visa criar um circuito imune às sanções.O segundo pilar é a arquitetura comercial e logística, projetada para reconfigurar as cadeias de suprimentos. "Os projetos de conectividade aérea e marítima são a infraestrutura física necessária para sustentar o desvio financeiro", enfatiza o analista, "pois é inútil poder pagar se bens, serviços, capital e talentos não puderem circular".O valor fundamental dessa arquitetura, segundo sua análise, transcende o aspecto bilateral: "Seu verdadeiro valor reside na capacidade de oferecer um modelo de resiliência econômica a outros países sob sanções ou que desejam reduzir sua dependência de instituições financeiras ocidentais".
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Acordos da Comissão Rússia-Venezuela criam uma arquitetura paralela em meio às sanções
"Em tempos difíceis, revelam-se os verdadeiros amigos", disse a vice-presidente executiva da Venezuela, Delcy Rodríguez, na 19ª reunião da Comissão Intergovernamental de Alto Nível (CIAN) com a Rússia, um encontro híbrido realizado em novembro de 2025 que estabeleceu um marco na parceria estratégica bilateral.
"Podemos dizer que o que existe hoje entre a Rússia e a Venezuela é uma irmandade que se consolida e se fortalece cada vez mais por meio de nossos presidentes, nossos povos e nossas equipes", explicou.
Os resultados da reunião falam por si: 19 acordos concretos assinados e o anúncio de 42 novas iniciativas de cooperação distribuídas em dez setores. Esta comissão, a primeira a se reunir desde a assinatura do tratado de parceria estratégica e cooperação abrangente em maio do mesmo ano, serve como plataforma técnica para transformar os princípios desse marco geral em projetos tangíveis.
César José Ramos Cedeño, doutor em Ciências Políticas, disse à Sputnik que essa relação gerou, desde o seu início, um acúmulo histórico de mais de 300 acordos bilaterais de cooperação.
Um espaço geoestratégico compartilhado
Uma das principais conclusões do recente encontro é que apenas três dos 19 acordos estão estritamente relacionados ao petróleo. Para Cedeño, isso não é uma coincidência, mas sim um sintoma da evolução madura da aliança.
"O interesse comum não se mede mais em barris de petróleo, mas na construção de um espaço geoestratégico e econômico compartilhado e resiliente."
Em um contexto em que ambos os países operam sob a pressão de sanções ocidentais, a CIAN atua como força motriz para a construção de uma arquitetura paralela que lhes permita contornar essas restrições.
De sua perspectiva, com base na trajetória da relação, as áreas de maior interesse comum e sinergia são tecnologia e finanças, seguidas de perto por defesa e segurança.
"Para a Venezuela, alcançar a soberania tecnológica e financeira é uma questão de sobrevivência do Estado. Confiar em seus próprios sistemas bancários, de comunicação e de gestão de dados é a única maneira de contornar estruturalmente o bloqueio financeiro e as sanções tecnológicas ocidentais."
Da perspectiva russa, a visão é igualmente estratégica:
"A Rússia se propôs a consolidar a Venezuela como um polo de conectividade tecnológica e segura na região".
Essa prioridade se materializou no recente Fórum Empresarial Rússia-Venezuela: Aliados Estratégicos. Segundo o especialista, esse evento foi "uma clara demonstração da importância que a Rússia atribui à cooperação científica e tecnológica com a Venezuela para avançar rumo à resiliência sistêmica", utilizando tecnologias que permitam "criar capacidades nacionais para inovar, automatizar e transformar processos".
Defesa e modernização técnica
Um dos acordos mais sensíveis diz respeito à "modernização técnica" das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB). Ramos Cedeño destaca que isso vai além da simples aquisição de equipamentos.
"Com a 'modernização técnica' das FANB, possibilita-se um aprofundamento sustentado de sua interoperabilidade e resiliência a sanções", observa ele, detalhando que isso inclui "pacotes abrangentes para manutenção, treinamento, peças de reposição e atualizações de plataformas", e até mesmo a transferência de doutrina.
O objetivo final, aponta ele, é avançar em direção a sistemas integrados, como um possível "escudo cibernético" nacional e a interconexão de sistemas de alerta antecipado, formando um "eixo estratégico de segurança" para a dissuasão regional.
Para Cedeño, os efeitos para o hemisfério da consolidação
da Rússia como o principal aliado de Caracas na área de defesa são profundos e multifacetados:
"Isso permitirá gerar gradualmente os equilíbrios de segurança necessários no Hemisfério Ocidental, especialmente em termos de acesso, vigilância e negação de área no Caribe e no norte da América do Sul."Uma alternativa ao Ocidente
Entre os acordos tecnológicos, destacam-se os projetos farmacêuticos e a adoção do sistema de navegação por satélite russo GLONASS, apresentado como um passo rumo à soberania tecnológica, oferecendo uma alternativa ao GPS americano.
"Os acordos tecnológicos [...] podem fortalecer certas capacidades locais e dar à Venezuela uma alternativa à dependência das potências ocidentais."
O especialista insiste que a verdadeira soberania não se conquista apenas pela transferência de produtos acabados, mas sim pela internalização do conhecimento: "Para avançar rumo à plena soberania tecnológica, não basta simplesmente receber a tecnologia; precisamos desenvolver a capacidade de absorvê-la, adaptá-la, inovar e reproduzi-la de forma independente."
Em resumo, ele descreve o resultado como uma "soberania compartilhada", onde a Venezuela ganha espaço para manobrar em relação ao Ocidente.
Desdolarização e conectividade física
Diante do bloqueio financeiro, o especialista identifica um objetivo central nos mecanismos da CIAN: "Construir uma arquitetura financeira, comercial e logística paralela (um 'bypass') que permita a ambos os países mitigar, contornar e resistir à pressão das sanções ocidentais."
"Ao estabelecer mecanismos de pagamento alternativos, a Rússia e a Venezuela, como aliadas estratégicas, estão promovendo a descolonização financeira", argumenta ele. O uso de rublos e bolívares (e potencialmente moedas digitais) visa criar um circuito imune às sanções.
O segundo pilar é a arquitetura comercial e logística, projetada para reconfigurar as cadeias de suprimentos. "Os projetos de conectividade aérea e marítima são a infraestrutura física necessária para sustentar o desvio financeiro", enfatiza o analista, "pois é inútil poder pagar se bens, serviços, capital e talentos não puderem circular".
O valor fundamental dessa arquitetura, segundo sua análise, transcende o aspecto bilateral: "Seu verdadeiro valor reside na capacidade de oferecer um modelo de resiliência econômica a outros países sob sanções ou que desejam reduzir sua dependência de instituições financeiras ocidentais".
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