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Conflito entre Congo e Ruanda: quais os interesses de EUA e Catar na paz?

© AP Photo / Berthier MugiranezaSoldados e refugiados congoleses
Soldados e refugiados congoleses - Sputnik Brasil, 1920, 12.12.2025
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O Mundioka explora o possível fim da guerra no Congo, os detalhes do acordo de paz de um conflito de 30 anos e por que países como Catar e EUA estão interessados em mediar a paz na região.
No dia 23 de julho de 2025, a República Democrática do Congo (RDC) assinou uma declaração de princípios que afirmava que acordos de paz e de cessar-fogo seriam assinados com o Movimento 23 de Março (M23), grupo ligado a Ruanda, em Doha, no Catar. No dia 27 de julho, o acordo de paz foi assinado entre as duas partes em Washington, EUA, sinalizando o possível fim de um conflito que perdurou por 30 anos.
Apesar desse tratado de paz, ofensivas do M23 se agravaram no início de dezembro, dias depois de um encontro dos líderes congolês e ruandês nos EUA, na presença do presidente norte-americano, Donald Trump.
No episódio desta sexta-feira (12) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas convidados comentam a retirada de tropas do M23, os itens tratados no acordo, a participação do Catar para o fim da guerra e o elo entre o M23 e Ruanda, acusada de armar o grupo militar rebelde.
A Sputnik ouviu Charly Kongo, defensor de direitos humanos, professor de francês e refugiado congolês. Charly conta que recebeu com cautela a notícia que o confronto em sua terra natal pode estar próximo de acabar. Ele lembra que não foi a primeira vez que tal anúncio ocorreu, dizendo que "já aconteceu várias vezes no passado" e que esse acordo atual "não promete um futuro bom".
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"Deixa um pouquinho com um pé atrás, como falei. Apesar que o desejo é que realmente a guerra acabe lá, para acabar com o sofrimento dos congoleses que moram naquela região", pontua Charly. Sobre a participação do Catar na mediação do conflito, o professor aponta a influência financeira que o país árabe tem tanto no Congo quanto em Ruanda. O Catar tem se vangloriado de sua mediação para paz, afirmando ter feito algo que nem a ONU, EUA ou a União Africana conseguiram resolver em 30 anos.
Para Charly, o acordo é um "fait de route", ou "passo intermediário" traduzido do francês, uma etapa antes de um acordo final entre as nações, e o diferencial do governo catariano seria justamente os altos investimentos feitos nos dois países africanos.

"O Catar investe mais que outros países nesta região: o aeroporto de Kigali foi construído, financiado em mais de 80% pelo Catar, por exemplo. Eles acabaram de assinar um contrato maior com ouro do Congo. O Catar tem esse desejo atual de ser o mediador dos conflitos, como a gente viu com a mediação que eles fizeram entre Israel e Hamas na guerra de Gaza."

O ativista é cético quanto a uma reintegração do M23 ao Congo, já que as duas partes, o governo e rebeldes, têm desconfiança mútua. Ele lembra também que o grupo conquistou mais locais logo depois do acordo em Doha.
"Na verdade, a guerra não acabou. Mesmo no momento que a gente está falando, tem ainda troca de tiros naquela parte do leste do Congo. Então, essa etapa de integração dos rebeldes na Força Armada do Congo é uma coisa que vai ser muito difícil, porque, primeiramente, os congoleses têm um medo de serem infiltrados pelos militares ruandeses", sublinha.
A Sputnik também ouviu José Ricardo Araújo, pesquisador de África Subsaariana do Núcleo da Avaliação da Conjuntura (Escola de Guerra Naval), sobre o potencial fim do conflito entre Congo e Ruanda.
O pesquisador aborda a complexidade da negociação do tratado de paz, ressaltando que se trata de um acordo de paz entre o Congo e o M23, mediado por Catar, e outro entre o Congo e Ruanda, mediado pelos Estados Unidos, ambos atuando juntos, mas em dimensões diferentes.
"Mas, ao mesmo tempo, existe uma complexidade muito grande em relação àquela região, em relação aos grupos beligerantes que estão ali, em relação às comunidades locais, às opiniões delas sobre o conflito, sobre a atuação de operação de paz, sobre a entrada de potências experiências externas", explica Araújo.
Ele cita as Forças Democráticas Aliadas (ADF), um grupo atuante na região ligado ao Daesh (organização extremista proibida na Rússia e em outros países), como um dos grupos que não foram considerados para as negociações de paz. Além dele, as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR), um grupo paramilitar, também não foram incluídas. Este grupo é acusado pelo governo ruandês de ser responsável pelo genocídio em Ruanda em 1994 com apoio do governo congolês.
"Ruanda acredita que ela tem tem, de certa forma, o dever de entrar nesse território da República Democrática do Congo para poder garantir a sua própria segurança nacional, neutralizando esse grupo."
Araújo também elenca os motivos para os Estados Unidos terem interesse no conflito africano: projeção norte-americana na África, aquisição de minérios, como coltan, cobalto e ouro, e disputa de mercados com a China.

"A China é um país que acaba ali tomando boa parte das empresas mineradoras da RDC. Se a gente olhar principalmente para o cobalto, por exemplo, 70% dele é minerado no Congo. Isso no setor de extração, que a gente fala que é o setor upstream. E aí quando a gente vai para o setor de processamento, que é quando esse minério é processado, o setor downstream, ele ocorre cerca de 80% mundialmente na China. Ou seja, existe o que o próprio [ex-presidente americano] Joe Biden já trouxe, um certo monopólio virtual da China em relação ao setor de cobalto da RDC. Então, a participação dos EUA e, no caso, do Trump, é estratégica."

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