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Análise: missão sul-coreana em Alcântara expõe como os EUA atrasam o programa espacial brasileiro

© AP Photo / Eraldo PeresMilitares da Força Aérea Brasileira caminham após uma visita à torre de lançamento do Centro de Lançamento de Satélites da base militar de Alcântara, no estado do Maranhão. Brasil, 14 de setembro de 2018
Militares da Força Aérea Brasileira caminham após uma visita à torre de lançamento do Centro de Lançamento de Satélites da base militar de Alcântara, no estado do Maranhão. Brasil, 14 de setembro de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 17.12.2025
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À Sputnik Brasil, analista aponta que o lançamento do primeiro foguete comercial em Alcântara, celebrado como um marco pelo governo, na verdade ilustra como o acordo firmado com os EUA para o uso da base limita o desenvolvimento tecnológico do país no setor.
O Brasil se prepara para lançar seu primeiro foguete comercial a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), base militar localizada no Maranhão. Intitulada operação Spaceward, a missão é coordenada apela Força Aérea Brasileira (FAB) e tem como objetivo colocar em órbita o foguete Hanbit-Nano, desenvolvido pela empresa sul-coreana Innospace. A janela de lançamento foi programada para o período de 17 a 22 de dezembro.
O Centro Espacial de Alcântara (CEA) é um espaçoporto da Agência Espacial Brasileira em Alcântara (MA). A base é operada pelo Comando da Aeronáutica da Força Aérea Brasileira - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2025
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Inicialmente, o lançamento estava previsto para esta quarta-feira (17), mas foi adiado pela Innospace por questões técnicas. A empresa informou que uma nova tentativa de lançamento será feita na sexta-feira (19), respeitando o prazo da janela estabelecida.
Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), a missão "marca a inserção do país no mercado global de lançamentos orbitais e reforça o papel estratégico de Alcântara no cenário internacional".
A verdade, no entanto, pode ser outra. Em entrevista à Sputnik Brasil, a professora de relações internacionais no Instituto de Estudos Estratégicos (Inest), da Universidade Federal Fluminense (UFF), Raquel dos Santos afirma que, apesar de celebrada pelo governo, a operação reflete a incapacidade brasileira de lançar mísseis da base de Alcântara.
Para ter um programa espacial completo, um país deve ser dotado de três capacidades básicas:
construir seus próprios lançadores;
construir seus próprios satélites;
ter uma infraestrutura de solo.

"O Brasil não detém a capacidade de lançamento de satélites, o que o Brasil detém é uma infraestrutura de solo, que é o Centro de Lançamento de Alcântara, que pode ser cedido para um outro país, para que esse outro país, que de fato detém a capacidade de lançamento, o faça."

Além do centro de lançamento, o Brasil também possui relativa capacidade de construção de satélites, mas o avanço do país esbarra na capacidade de avançar na tecnologia de lançadores, que o país não possui.
Desde a década de 1990 o Brasil ambiciona entrar no mercado internacional de lançamentos. Por um lado, o país possui a base de Alcântara que, por ser próxima da linha do Equador, já era um local estratégico e favorável para realizar lançamentos ao espaço.
No entanto, ainda restavam inseguranças jurídicas para que empresas utilizassem o centro de lançamento. Se por um lado elas foram resolvidas com o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) firmado entre os Estados Unidos e o Brasil e ratificado em 2019 durante a presidência de Jair Bolsonaro, por outro, ele atrasa o desenvolvimento de uma tecnologia nacional.
Ocorre que muita da tecnologia especial é de uso dual, isto é, servem tanto para fins civis quanto militares. Isto faz com que sua circulação seja extremamente restrita, o que causa justamente a insegurança jurídica superada pelo AST.
Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Brasil, 1º de outubro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 08.10.2024
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E como a maior parte dos satélites têm componentes oriundos dos Estados Unidos, a Casa Branca restringe nos acordos comerciais, onde e quando poderão ser utilizados. Dessa forma, se alguma empresa quer lançar um instrumento do tipo, precisa de autorização de Washington.
Da mesma forma, para que o lançamento ocorra no Brasil e o país ingresse no mercado, o país também precisa ter um acordo com a Casa Branca. Pelos termos do acordo, todos lançamentos de Alcântara não podem avançar a indústria nacional, proibindo ao Brasil receber qualquer tipo de aprendizado o e transferência de tecnologia.

"Os países que detêm essa tecnologia não fornecem esse tipo de tecnologia para países que não a detêm. Por quê? No caso dos veículos lançadores de satélites em específico, eles no seu uso civil servem para o lançamento de satélites, mas no seu uso militar podem ser adaptados para se transformarem em mísseis de médio e longo alcance."

Há décadas os Estados Unidos criam entraves para o avanço do Brasil no desenvolvimento dessa tecnologia, resume Santos. "Por isso fica essa ideia de que, na verdade, a gente alugou ou cedeu a base para os Estados Unidos porque tudo passa por um olhar criterioso do Departamento de Estado."
No caso da Operação Spaceward, para lançar do Brasil a Innospace assegurou ao Estados Unidos que o Brasil não copiará sua tecnologia. Para a especialista, sem a utilização de recursos do tipo no próprio programa espacial brasileiro, o processo se torna estéril. "Desenvolvimento que não avança."
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O programa CBERS

Na outra ponta da cooperação espacial, Santos destaca o Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), que desde 1999 realizou o lançamento de seis satélites.
Desenvolvido de maneira conjunta entre Brasília e Pequim, os instrumentos espaciais do CBERS são utilizados para sensoriamento remoto de áreas ambientais e agrícolas. Diferente do que ocorre em Alcântara, no projeto sino-brasileiro o Brasil participa ativamente do desenvolvimento tecnológico e operação espacial dos satélites.

"É um programa muito importante com fornecimento de imagens gratuitas para os países africanos, e que vem se perdendo, muito por conta da questão político-orçamentária. O governo Lula entra com a promessa de reativação desse programa, mas tem enfrentado muitas dificuldades."

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