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Análise: chegou a hora de o Brasil pensar em um programa robusto de mísseis?

© Marinha do Brasil/DivulgaçãoMomento do lançamento do míssil a bordo da fragata Independência
Momento do lançamento do míssil a bordo da fragata Independência - Sputnik Brasil, 1920, 13.12.2024
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O lançamento do Oreshnik, fruto do investimento de uma década da Rússia em tecnologia de mísseis, mandou um claro recado dissuasório para os países ocidentais. O Brasil, por sua vez, tem como base da defesa nacional uma estratégia que leva em consideração a assimetria tecnológica com o inimigo. Seria a hora de pensar um programa robusto de mísseis?
Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil acreditam que o país deve se concentrar em fortalecer sua base industrial de defesa, mas precisa superar um grande problema: a falta de continuidade dos projetos.
Segundo o comandante Robinson Farinazzo, especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, vários projetos militares já morreram no meio do caminho, inclusive a Avibras, que "tem 60 anos e a gente está deixando morrer".

"Se a gente tivesse dado continuidade a essa família de mísseis que a gente tinha nos anos 1970, onde a gente estaria hoje? Mas não, os projetos morreram, e começa tudo do zero. Por que a Rússia tem uma indústria de blindados poderosos e eficientes? Porque eles estão fabricando blindados desde os anos 1930", analisa.

Em relação ao questionamento inicial, sobre o Brasil ter um programa forte de mísseis, o especialista avalia positivamente a iniciativa, julgando ser essa a melhor alternativa "em termos de custo, benefício, versatilidade, flexibilidade e poder dissuasório".
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O grande desafio, conforme Farinazzo, seria a elite política e econômica brasileira entender que o Brasil carece de poder dissuasório e que tais projetos seriam de suma importância no âmbito geopolítico e econômico.

"O Brasil quer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU como membro permanente, quer que ampliem o Conselho de Segurança e quer fazer parte dele. Mas como, se a gente não tem ficha para colocar na mesa, que são forças armadas poderosas?", diz, acrescentando que sem uma soberania tecnológica em defesa "você não é uma voz ouvida no mundo".

'Brasil precisa entender quais são suas vulnerabilidades'

Para José Augusto Zague, pesquisador do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), países que buscam autonomia estratégica têm que ter uma definição clara de suas necessidades para supri-las.
No caso, o analista define o Brasil como um país que ainda não entendeu as suas vulnerabilidades, logo uma indústria de defesa brasileira não surgiu a partir desse cálculo.

"Para saber quais são as vulnerabilidades de um país, é necessário que isso esteja em um plano nacional de defesa ou na estratégia nacional de defesa", comenta o analista.

De acordo com Zague, o Brasil, no âmbito da indústria global de defesa, está inserido naquilo que ele chama de "modelo da tecnologia militar globalizada", no qual "todas as indústrias de defesa […] têm algum tipo de dependência […], que é um modelo liderado pelos Estados Unidos, [modelo] que tem também nos países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]".

"O Brasil tem pouquíssima participação como fornecedor de algum tipo de componente ou parte. Isso reflete […] a falta de vocação", acrescenta.

Já a defesa da Rússia corre por fora desse modelo da "tecnologia militar globalizada". "Os russos procuraram ter autonomia estratégica, [e hoje] produzem praticamente tudo aquilo de que eles precisam". A China segue o mesmo caminho.
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Diante desse contexto, o analista expressa que o Brasil enfrenta problemas de definição que compreendem desde suas ameaças ao balizamento da defesa, que, no âmbito dos mísseis, pode até esbarrar em acordos internacionais.
O Brasil é, desde 1995, signatário do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR, na sigla em inglês), definido como uma associação informal criada como um esforço multilateral para o combate à proliferação de mísseis e outros sistemas capazes de lançar armas de destruição em massa, sejam elas químicas, biológicas ou nucleares.
Entretanto, o mais determinante para o Brasil é "acabar com essa disfuncionalidade da sua base industrial de defesa, pensando em uma vocação que possa fazer com que o Brasil responda às suas necessidades".
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