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Análise: financiamento nuclear do BRICS liderado pelo Brasil pode reequilibrar acesso a tecnologias

© Foto / Rosatom Ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, discursa no Fórum Internacional de Especialistas do BRICS em Medicina Nuclear, em Moscou, Rússia, 20 de julho de 2023.
Ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, discursa no Fórum Internacional de Especialistas do BRICS em Medicina Nuclear, em Moscou, Rússia, 20 de julho de 2023.  - Sputnik Brasil, 1920, 30.12.2025
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Especialistas afirmam que desafios para o Brasil não serão apenas o financiamento, mas a regulação e construção de um projeto energético que sustente o desenvolvimento nuclear no país.
A Associação Brasileira para o Desenvolvimento De Atividades Nucleares (ABDAN) foi convidada a assumir a liderança do novo Grupo de Trabalho de Financiamento para Projetos Nucleares no âmbito do BRICS, estrutura idealizada para formular diretrizes e instrumentos financeiros voltados à expansão segura e sustentável da energia nuclear entre os países membros.
Além disso, analisar práticas regulatórias e modelos já consolidados de financiamento nuclear e preparar recomendações técnicas para auxiliar bancos de desenvolvimento, agências e instituições financeiras internacionais que estejam interessadas em investir neste setor.
O desenvolvimento nuclear em países com pouca tradição no campo é visto com desconfiança por países com acesso a armamentos nucleares, com estes temendo que outros países tenham a possibilidade de ter um arsenal nuclear.
Contudo, as tecnologias nucleares possuem múltiplas aplicações pacíficas além da produção de dispositivos atômicos, como geração de energia, medicina, agricultura e pesquisa científica. Portanto, o regime de não proliferação nuclear causou uma desigualdade tecnológica em países em desenvolvimento, como o Brasil.
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A Sputnik Brasil entrevistou Celso Cunha, presidente da ABDAN, para saber como foi a escolha para liderar esse grupo de trabalho. Segundo Cunha, a escolha foi a partir da iniciativa brasileira em propor um trabalho direcionado a questões de planejamento financeiro. Ele frisa que o grupo de trabalho é um fórum de empresas que estão nos países do BRICS+, criado há dois anos durante uma reunião na Rússia, em Moscou.
Cunha conta que a expectativa é que o grupo de trabalho inicie os trabalhos em março de 2026, com a ABDAN coordenando as empresas participantes e definindo o foco dessa coordenação.
"Se ela vai envolver somente articulação técnica, formulação técnica, se vai ter a formulação política, vai ter interlocução com instituições financeiras e todas as outras frentes", explica o presidente. "Então, isso ainda não está estabelecido, a partir do momento que se estabeleça o plano de trabalho, e ele seja aprovado, nós vamos poder estar atuando."
Sobre como a associação pode exercer essa liderança na prática, Cunha diz que a ABDAN buscará coesão entre os membros do grupo de trabalho, agregando conhecimentos do programa nuclear brasileiro e políticas desenvolvidas no Brasil com outros países, destacando o uso de tecnologia nuclear para produzir hidrogênio e sua importância na transição energética.

"Acredito firmemente que o grande elemento, como estamos falando do BRICS +, é a gente fomentar a tecnologia nuclear e criar políticas que possam fomentar a tecnologia nuclear".

Para Astrid Cazalbon, doutoranda em relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Segurança Energética (GESENE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a iniciativa de cooperação e financiamento nuclear no âmbito do BRICS deve ser compreendida dentro de uma transformação mais ampla da ordem internacional.
Segundo ela, o equilíbrio entre as potências nucleares já vem se alterando em função das pressões ambientais, da transição energética e das mudanças geopolíticas em curso, e a plataforma de energia nuclear do BRICS surge como uma forma de contestação à ordem historicamente dominada pelas potências nucleares ocidentais.
Cazalbon lembra que a Declaração de Kazan, de 2024, reafirma o compromisso do BRICS com a construção de uma ordem mundial mais justa e equilibrada, baseada na cooperação, no desenvolvimento sustentável e na reforma das instituições globais, de modo a representar melhor os interesses dos países emergentes.
"Nesse sentido, iniciativas de cooperação e financiamento nuclear podem reduzir parcialmente assimetrias ao permitir que países que historicamente tiveram acesso limitado às tecnologias nucleares desenvolvam seus próprios setores, sobretudo no uso civil e em aplicações energéticas e não energéticas", explica.
Na avaliação da pesquisadora, esse movimento não implica necessariamente uma mudança direta no equilíbrio das potências nucleares militares, mas sim um reequilíbrio no acesso a capacidades tecnológicas e energéticas estratégicas. O acesso à energia nuclear, à diversificação de matrizes e a tecnologias críticas pode se traduzir em maior capacidade de geração de riqueza e de construção de poder nacional, desde que inserido em uma estratégia de longo prazo.

"Para países como o Brasil, os desafios permanecem não apenas no acesso ao financiamento, mas também na regulação e na construção de um projeto energético e tecnológico autônomo de longo prazo, razão pela qual a atuação do país — inclusive por meio da ABDAN — é fundamental para avançar nesse processo."

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