Isto não significa que para a China tudo seja fácil e indolor, mas até a edição estadunidense duvida da capacidade norte-americana de desferir contra a economia chinesa um golpe que seja suficiente para fazer Xi Jinping capitular politicamente e cumprir as exigências de Donald Trump.
A raiz da próxima guerra comercial reside no desejo de Donald Trump e de alguma parte da elite política para mudar completamente o papel dos EUA na economia mundial.
O que causa pretensões?
De acordo com Danilov, esse segmento do "establishment" estadunidense não está satisfeito com a posição do país como "impressora de dinheiro global", graças à qual os EUA podem tapar os buracos orçamentários a curto prazo, manter um déficit colossal da balança comercial e fornecer importações baratas ilimitadas à sua população.
O esquema existente é muito propício para a chamada "aristocracia offshore", ou seja, famílias super-ricas que se consideram como cidadãos (ou até donos) do mundo, que usa a China na qualidade de "oficina global", tomando em consideração que a parte leonina das receitas fica, não nos EUA, mas em jurisdições offshore — por exemplo, no caso da venda de iPhones.
Enquanto isso, os EUA perdem postos de trabalho, enquanto a economia fica perdendo as competências necessárias para a concorrência internacional.
Em opinião da "aristocracia offshore", o mundo é dominado por aqueles que possuem a "propriedade intelectual", ou seja, as tecnologias.
Plano da equipe Trump
Assim, para realizar o lema de Trump "Make America Great Again", se deve fazer regressar as produções existentes para o território norte-americano e criar novas diretamente nos EUA e não nos outros países.
Isto é possível através de duas maneiras. Primeiro, fazer com que os trabalhadores e empresários estadunidenses trabalhem e invistam de modo mais eficiente, ou seja, criem mais produtos com custos inferiores aos dos seus concorrentes chineses e mexicanos.
Este cenário, evidentemente, já é pouco realizável. O segundo consiste no protecionismo que deve tornar todos os artigos chineses (ou até todos os estrangeiros) tão caros que isso garanta a competitividade dos produtos norte-americanos.
O efeito secundário desta variante é o golpe duro contra a economia chinesa orientada para as exportações, o que, em opinião de Washington, é uma grande e importante vantagem.
De acordo com as avaliações do jornal norte-americano, a equipe de Donald Trump ainda não tem um plano adequado de ataque contra a economia chinesa, embora já hoje em dia se possam identificar várias direções possíveis do golpe.
Mais uma arma antichinesa no arsenal de Trump podem ser as tarifas e cotas para os produtos chineses importados, que se planeja aplicar a um vasto leque de artigos chineses, inclusive o aço e as baterias solares.
É mesmo possível?
Entretanto, Danilov frisa que tais medidas poderiam ter dado certo uns 10 anos atrás, ou, possivelmente, ainda 5 anos atrás. Já hoje em dia até os otimistas da imprensa estadunidense estão céticos em relação a uma vitória do plano de Trump.
O problema é que o mercado chinês se tem tornado crucial para a maioria das companhias estadunidenses, inclusive para a Apple, Boeing e General Motors. Isto, por sua vez, significa que as medidas de resposta da China afetariam de modo sério as receitas destas empresas.
Outra questão crucial será o crescimento de preços para os consumidores norte-americanos, que vão perder o acesso às importações baratas.
Além disso, jornalistas norte-americanos que falaram com altos funcionários chineses afirmam que Pequim já possui um plano detalhado para uma guerra comercial com os EUA e uma vontade política forte para realizá-lo.
Contudo, a guerra comercial entre a China e os EUA é apenas uma questão de tempo, sublinha o autor. Mesmo agora já se pode prognosticar que todas as partes do conflito ficarão prejudicadas, enquanto o sistema de comércio existente, provavelmente, não sobreviverá a esta "batalha de titãs".
Porém, a China tem um "trunfo", isto é, o fato de Washington estar em conflito praticamente com todo o mundo, desde a Rússia até à União Europeia a até aos vizinhos dos EUA. Em consequência, todos os descontentes com a política dos EUA poderão criar seu próprio sistema de comércio global sem Washington e sem tomar em consideração seus interesses. Neste caso, nenhumas guerras comerciais de Trump os ajudarão, resume o autor.