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'Melhor lugar do mundo para ser criança e envelhecer' é na América Latina (FOTOS)

Como acabar com as mortes no campo e na floresta? Como resolver o conflito entre ruralistas e moradores que desejam limpar seus arredores de todas as indústrias? Este casal russo ficou por dentro do dilema e aportou para o debate na Sputnik Brasil.
Sputnik

Aleksandr Fedorov e Elena Srapyan deixaram vida na Rússia para pesquisar tribos indígenas nas bacias do Orinoco e do Amazonas. No momento, eles estão tentando entrar no Brasil para visitar os Pirahã e outras tribos; eles já passaram por aldeias dos yanomamis (na Venezuela), ashaninkas (Peru) e huaoranis (Equador). A experiência obtida já dá muito que contar (e mostrar). Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, eles compartilham seus pontos de vista sobre assuntos importantes ainda sem resolução, que continuam na agenda política e social do continente.

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Este assunto sempre preocupou: de quem é o Brasil? De quem é, se calhar, a América Latina toda? Quem manda na mata virgem, no pantanal e nos pampas? De quem é a terra?

O fotógrafo russo Aleksandr Fedorov ficou impressionado com a história do povo indígena huaorani, que mora no Equador. Esta tribo, de origem quéchua, teve a sua história profundamente marcada pela indústria petrolífera equatoriana. Petroleiros cooperaram com missionários equatorianos nas obras de criação de povoados situados longe das jazidas de hidrocarbonetos; isso não podia deixar de afetar a vida do povo. Além de quase perder a sua língua e a sua cultura, os huaoranis tiveram que enfrentar consequências da civilização tais como doenças.

Um representante da etnia huaorani consulta mapa do território

No entanto, o caso huaorani é bem interessante e polêmico do ponto de vista da violência. Durante sua estadia nos povoados huaoranis e no Equador, os fotógrafos russos souberam de uma história bastante incomum para o século da Internet das Coisas, energia nuclear e conquista espacial. O caso da matança do clã Tagaeri-Taromenani, realizada por membros da etnia huaorani, que levou ao caso penal de genocídio, em 2013. Duas meninas taromenanis sobreviveram ao massacre. Uma delas foi levada à cidade, já a outra permaneceu com os huaoranis. A tribo não permite que ela seja fotografada, mas Aleksandr conta que é perfeitamente integrada à comunidade indígena e é tratada com dignidade.

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Até hoje, há etnias na América Latina que colocam obstáculos de lanças nos caminhos da floresta, impossibilitando passagem de estranhos. Há etnias que fogem do contato com a civilização, há também as que se aproveitam do contato com a civilização e há as que possuem representação em órgãos legislativos, por exemplo, no Brasil.

Mas estas etnias estão localizadas em territórios repletos de ouro, petróleo e outros minérios importantes para países e indústrias privadas. Como proceder? Qual deve ser o papel do Estado na vida dos índios?

Duplos padrões e terceira via da moral

Para Aleksandr Fedorov e Elena Srapyan, existem duas opções generalizadas. "Ou você deixa os índios viverem dentro de suas fronteiras, sem controlar, ou você os insere no sistema estatal, no sistema legislativo, e aí você proíbe definitivamente que eles mantenham outras pessoas", diz Aleksandr.

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Aqui surge o dilema mais impenetrável: a cultura "civilizada", "contemporânea" e "ocidental" condena o homicídio (e faz bem). No entanto, existem povos que desconhecem esta proibição por viverem em uma sociedade pequena e fechada, onde todo visitante é considerado um invasor. E onde a rivalidade entre tribos é letal. "Você não pode trazer para o mundo contemporâneo pessoas que nunca tiveram contato [com a civilização], elas não poderão se adaptar", prossegue Fedorov, afirmando que existe um "duplo padrão" nisso: de um lado, os índios vivem em territórios e países politicamente divididos e geridos por regras e normas internacionalmente reconhecidas e generalizadas; de outro lado, os mesmos índios conservam leis locais, que não correspondem ao que costumamos chamar de "civilização".

Sendo assim, Aleksandr e Elena chegam ao tema de reservas indígenas. Para os huaoranis, no Equador, isso seria útil, acreditam:

"Por exemplo, a criação de uma autonomia huaorani poderia parar a prospecção de petróleo no parque Yasuní e ajudaria os huaoranis a gerir sua própria autonomia."

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Mas uma reserva deve ser fechada ou aberta? Para tentar resolver este problema, afirma Aleksandr, é preciso tentar compreender os índios. Se o Estado optar pelo isolamento completo, restringirá também a evolução natural e poderá violar os direitos humanos de uma parte dos seus habitantes ao cortar o caminho do progresso.

"Se você deixa os índios compreenderem que isso é importante, que a troca de conhecimentos, de experiências e a abertura podem, no fim das contas, conservar a sua cultura, pode ajudar os índios: todos vão saber quem são estas pessoas e sentir quais são os problemas delas. Já em uma reserva fechada, os índios não têm como saber que o mundo externo é perigoso para eles. O mundo nunca para. Deve-se conduzir à abertura, conceder autonomia, permitir a liberdade na tomada de decisões, sem afetar as mesmas. Deixar que eles se enganem, mas eles vão saber que são responsáveis pelo que fazem: eis o significado de autonomia", disse o fotógrafo.

Já Elena concretiza as vantagens da civilização:

"Há um ponto de vista muito popular e que consiste no seguinte: deixar comunidades na floresta, isolando-as para preservar a sua cultura. É um assunto polivalente, é certo que o contato com a civilização faz a cultura indígena desaparecer, mas não toda e não de vez. A vida dos índios, especialmente se tratando de uma comunidade isolada, é muito difícil: eles carecem de comida, eles têm uma rotina complicadíssima, a medicina depende de umas plantas medicinais, que não são muito diversas, muitas pessoas morrem de infecções, em trabalho de parto, de doenças cardíacas, de câncer etc. No entanto, plantas medicinais não podem curar muita coisa, no melhor dos casos, a pessoa ganha um tempo extra para chegar ao médico, por exemplo, após ter sido mordido por uma cobra. Se as pessoas querem entrar em contato e tornar a comunidade mais contemporânea, não temos direito nenhum de restringir."

Preconceito

No entanto, os viajantes se dão conta de que a criação de uma autonomia por si só não resolve o problema. Elena Srapyan lembra a história do conflito entre os yanomami brasileiros e os garimpeiros; a história mais recente do Brasil conhece também o Parque Xingu, onde várias etnias continuam a sua luta contra o projeto de mineração Belo Monte. Atualmente, a luta está no campo jurídico, com o projeto da hidrelétrica em suspensão.

O debate sobre a delimitação de territórios indígenas está em fase latente, apesar dos confrontos, reintegrações de posse e assassinatos constantes.

Situações semelhantes existem em outros países também, relatam os aventureiros russos, que também estavam, em janeiro, em Tabatinga, na Tríplice Fronteira.

"Há muitos mitos sobre índios", conta Aleksandr, e Elena continua: "Eles [os índios] são frequentemente alvos de ataques, principalmente por terem pouca proteção contra a agressão de pessoas interessadas em algo, como foi durante a época da escravidão no Brasil, como foi durante a febre da resina. No presente, a situação melhorou, mas confrontos continuam até hoje."

Mas afinal, como resolver esta situação? O estado das coisas sugere que a solução não agradará a todos. Elena confirma:

"Falando sobre possível solução, talvez valha a pena ir um pouco contra os interesses dos mineradores de ouro, das petroleiras e de outras pessoas e entidades que fazem mineração – se este minério não for crítico para o país."

Ela continua, voltando aos huaoranis equatorianos:

"Claro que eu acredito que os huaoranis devem ser protegidos dos mineradores de ouro, claro que eu considero que os huaoranis devem ter o direito de viver em seus territórios sem ser alvos de ataques dos petroleiros, sem ser vítimas de construções e rodovias. Por que o que é floresta? Floresta é caça, é vida e é a fonte de alimentação. Floresta é o item essencial na vida dos huaoranis."

Contudo, contam ambos, há lugares onde a infraestrutura está bastante desenvolvida: no Equador, por exemplo, um helicóptero militar pode ser chamado para levar um doente ou ferido ao hospital na zona urbana do país.

Crianças jogando futebol em uma aldeia indígena

Civilização ou aldeia indígena?

A Sputnik Brasil propôs também tentar responder onde é melhor viver: em uma comunidade indígena ou em uma área "civilizada". Aleksandr achou um jeito ambíguo: "Para os índios, é melhor a comunidade, para nós, a civilização."

Um grupo de ashaninkas viaja em uma embarcação

Ele concretizou ainda que "lá, a vida é muito boa, as pessoas são felizes, trabalhadoras, reúnem-se sempre e nunca deixam seus familiares. É o melhor lugar no mundo para ser criança e para envelhecer".

A viagem deles continua, e eles prometem postar mais fotos no Instagram e Telegram. A ideia final é organizar uma exposição fotográfica; o projeto, por enquanto, vive graças ao crowdfunding.

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