Desta vez, no âmbito do Fórum de Investimentos da Rússia na cidade olímpica de Sochi, os altos representantes da organização organizaram uma discussão plenária "Diplomacia econômica vista por empresários", com o fim de analisar e incentivar um diálogo de negócios com outros países, tanto com os vizinhos quanto com os parceiros mais distantes, apesar de tais dificuldades como sanções.
Um dos destaques do debate foi o provável desenvolvimento da chamada União Eurasiática, projeto que abrange a União Econômica Eurasiática (UEE) criada em 2014, bem como ulterior estreitamento dos laços políticos entre os países do espaço pós-soviético. Na sequência do evento, a Sputnik Brasil fez questão de falar com o presidente do Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia, Konstantin Kolpakov, para descobrir mais sobre o assunto.
Vale assinalar que o diplomata destaca o fato dele ser o representante da sua entidade, ou seja, da comunidade de jovens funcionários do Ministério do Exterior russo, e sua analise não representa de fato a postura oficial da chancelaria do país, mas reflete uma visão comum dos especialistas deste grupo.
Sputnik Brasil: Em sua opinião, hoje em dia quais são as principais dificuldades e, por outro lado, fatores positivos para a realização deste amplo projeto de integração, isto é, a União Euroasiática?
O diplomata fez lembrar que o rumo euroasiático, bem como a parceria no âmbito da Comunidade de Estados Independentes, criada na sequência do colapso da URSS para preservar os laços entre as ex-repúblicas soviéticas na época, representa uma prioridade para a política exterior russa, o que se sublinha inclusive em todos os documentos oficiais da chancelaria.
"É certo que, tendo as relações boas, reciprocamente vantajosas, abertas e construídas a pé de igualdade com os nossos vizinhos, poderemos crescer de modo muito mais sustentável e eficiente", observou o especialista.
Entretanto, muitas vezes os políticos ocidentais tentam apresentar, de modo deliberado ou não, esta união como uma tentativa de fazer ressurgir de fato a União Soviética. Por exemplo, em 2012 a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou para prevenir as tentativas russas para dar a vida a tal projeto por o considerar como um ato de "resovietização".
Ademais, Kolpakov frisou que Moscou continua aberta para todo o tipo de diálogos e empreende esforços para promove-los, inclusive entre a União Econômica Eurasiática e a União Europeia.
"Infelizmente, os estereótipos e a simplificação existem nesta etapa, especialmente no espaço midiático. Mas uma pessoa que realmente se debruça sobre a economia e a política internacionais nunca iria afirmar que isto [projeto da União Euroasiática] é ressurgimento da URSS, pois é impossível em princípio, por muitas razões. A outra coisa é que toda essa retórica pode inclusive refletir algumas manobras dos concorrentes, quanto [para eles] é desvantajoso que todo o potencial do espaço pós-sovíetico se use em plena forma", adiantou.
O alto responsável revelou também a iniciativa importante lançada pela entidade que preside, isto é, o Fórum de Jovens Diplomatas dos BRICS, e destacou expressamente os contatos frutíferos com a parte brasileira.
"Com o Brasil, em particular, tivemos muito prazer em trabalhar desde a primeira cúpula, pois nossos colegas do Itamaraty são muito ativos, criativos, altamente qualificados. Tanto em Moscou quanto em Calcutá [na Índia] e na China a delegação brasileira demonstrou um patamar muito alto. Até acordamos que eles vão tentar criar uma organização semelhante lá, na chancelaria brasileira. Agora estamos em fase de negociação, e, talvez, logo tenhamos uma cooperação bilateral entre o Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia e uma entidade parecida do lado brasileiro", contou.
KK: Já faz 4 anos que organizamos tal evento como o Fórum de Jovens Diplomatas dos BRICS. Esta iniciativa foi promovida pelo Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia com o apoio do Ministério do Exterior do país, recebeu um feedback positivo de todos os países-participantes. […] Cunhamos até tal termo como a "diplomacia leve". Existe, por exemplo, a diplomacia "pública" ou "suave", esta é a diplomacia "leve" que é de fato a mesma que comum, mas difere pela idade dos envolvidos. Trata-se dos jovens especialistas que não ultrapassam o nível do primeiro secretário e não são maiores a 35 anos. […] Este formato nos permite, em patamar menos alto, conhecer nossos colegas, saber como eles veem as perspetivas da nossa cooperação. E se nós também recebermos uma proposta de amplia-lo em dito formato BRICS+, estaremos muito interessados, pois isto corresponde a nossas aspirações de criar uma Associação Internacional de Jovens Diplomatas, iniciativa lançada em outubro de 2017.
Ao resumir, Kolpakov ressaltou que tal configuração torna a parceria muito mais multifacetada, pois ajuda as partes a construírem os canais de comunicação mais informais e os usar nos momentos de crises.