Barroso e Goldman Sachs ou como bancos usam ex-burocratas de Bruxelas em seus interesses

Na semana passada, várias organizações não governamentais acusaram o ex-chefe da Comissão Europeia, o político português José Manuel Durão Barroso, de promover os interesses de seu novo empregador, o banco estadunidense Goldman Sachs, nas estruturas europeias. Analista comentou o assunto em entrevista à Sputnik.
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Associações anticorrupção se referem, em particular, ao encontro de Durão Barroso com o vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, em um dos hotéis de Bruxelas, em 25 de outubro de 2017, considerado pelas primeiras um ato de lobismo.

Tangui Morlier, ativista da associação francesa Regards Citoyens, acredita que o encontro em questão é um bom exemplo do chamado tráfico de influência (práticas de porta giratória), um dos principais métodos de "lobistas de Bruxelas".

Segundo Morlier, o mecanismo consiste em recrutar antigos altos funcionários europeus, sendo conhecido como pantouflage, em francês, ou revolving doors, em inglês.

"O essencial deste fenômeno é os responsáveis políticos compartilharem, a troco de pagamentos, contatos de sua agenda com as grandes empresas, revelando-lhes segredos das estruturas europeias. Neste caso, trata-se do banco norte-americano Goldman Sachs", explicou o ativista à Sputnik França.

O encontro de Barroso, avança Morlier, mostra que um banco estadunidense pode contatar diretamente com um membro da Comissão Europeia, enquanto organizações não governamentais ou cidadãos comuns teriam que aguardar por muito tempo para serem recebidos.

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Esta não é a primeira vez que as ações de Barroso causam disputas. Em 2016, Barroso foi contratado pelo banco estadunidense após ter liderado a Comissão Europeia durante 10 anos (2004-2014), o que gerou uma onda de críticas. Em seguida, um grupo de funcionários das instituições europeias apresentou uma petição a favor de normas éticas mais rigorosas em relação ao fenômeno de portas giratórias, ganhando mais de 152 assinaturas. Barroso negou todas as acusações de fazer lobby a favor do Goldman Sachs.

O vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, por sua vez, confirmou ao movimento ALTER-EU o encontro com Barroso, sublinhando que era de caráter pessoal.

Outra ativista anticorrupção, Margarida Silva, acha que a afirmação de Katainen faz acreditar que Barroso "esteja utilizando realmente sua posição para pressionar a UE no interesse do Goldman Sachs", pois "ninguém fora da estrutura tem habilidades, laços e influência ao mesmo nível que os do ex-presidente da Comissão Europeia".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, correu em ajuda de seu antecessor, afirmando, em 21 de fevereiro, que Durão Barroso nunca foi proibido de se encontrar com comissários europeus.

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