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Especialista: fome persiste por falta de decisão política e elevado grau de desigualdade

Começou nesta segunda-feira, em Montego Bay, na Jamaica, a 35ª Conferência Regional Para a América Latina e o Caribe. O encontro, promovido pela FAO, a divisão da ONU para Alimentação e Agricultura, vai até quinta-feira, 8. Os 33 países membros da agência para a Região discutem problemas cruciais como fome, excesso de peso e obesidade.
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De acordo com o representante da FAO para a América Latina e o Caribe, Júlio Bendegué, "mais de 42 milhões de pessoas dormem com fome todas as noites. Até recentemente, o mundo olhava para a região para replicar nossas políticas contra a fome. Mas, nos últimos anos, vimos um aumento da fome. O que queremos discutir com os países é como colocar nosso pé de volta no acelerador." 

Por sua vez, o economista Renato Maluf, professor do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), disse em entrevista à Sputnik Brasil não ter dúvidas de que a fome é motivo de vergonha generalizada para os países, já que há soluções para esse gravíssimo problema:

"É sempre importante reafirmar que a existência da fome nessa proporção é uma mazela que deve sempre envergonhar os países, porque trata-se de uma questão bastante diagnosticada, com soluções bastante exequíveis e que normalmente não acontecem por falta de decisão política, e também pelo elevado grau de desigualdade e pobreza das nossas sociedades, especialmente na América Latina e no Caribe, regiões em que estas desigualdades são conhecidas no mundo todo. É um continente das desigualdades sociais porque reúne países muito desiguais."

Ex-presidente do Consea, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, órgão de assessoramento direto da Presidência da República, Maluf afirma:

"A América Latina tem oscilado nesse tema. Até recentemente, estávamos (vamos dizer assim) numa onda boa, com indicadores melhorando em boa parte dos países. No Brasil, especialmente [isso aconteceu]. E como o Brasil é muito grande, proporcionalmente aos demais países, o que acontece no país incide muito nessa média. Quando o Brasil, em 2014, saiu do Mapa da Fome da FAO, o que significa que nós tínhamos eliminado a fome endêmica, isso foi uma conquista tardia – é bom que se diga porque não há nenhuma razão plausível que justifique o Brasil ter fome – mas foi uma conquista importante. Quando você reduz a fome ou elimina, como foi o nosso caso, o que significa que ela estava abaixo de 4% da população, ela [a fome] persiste em alguns grupos sociais mais vulnerabilizados. Estou me referindo a indígenas, quilombolas, população rural da Amazônia, uma parte do semiárido, etc. Esse tipo de quadro você ainda vai encontrar em boa parte dos países da América Latina, como na América Andina, no México e na América Central." 

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Além da fome, a Conferência da FAO também aborda as questões do sobrepeso e da obesidade. Segundo Júlio Bendegué, uma estimativa feita pelo Escritório Regional da FAO em 26 países latino-americanos e caribenhos mostrou que as doenças associadas à obesidade são responsáveis por trezentas mil mortes por ano, número que "contrasta com as 166 mil pessoas mortas por assassinatos".

A Sputnik Brasil buscou contatar o diretor-geral da FAO, o engenheiro agrônomo brasileiro José Graziano, para ouvi-lo sobre a Conferência Regional, mas não houve êxito. Em um breve comunicado, a assessoria de imprensa da FAO informou que o diretor-geral da FAO não poderia atender à nossa solicitação de entrevista.

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