Analista: Não há chance da Coreia do Norte confiar nos EUA e desistir de arsenal nuclear

A expectativa mundial para o encontro entre o líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente estadunidense Donald Trump tende a acabar frustrada, sobretudo pela impossibilidade da Coreia do Norte em confiar nos Estados Unidos, afirmou um analista norte-americano.
Sputnik

Para o professor da Universidade de Chicago, John Mearsheimer, não há nenhuma chance de Pyongyang desistir totalmente do seu arsenal nuclear, medida esta considerada inegociável pela Casa Branca para que um acordo entre os dois países seja atingido.

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"A Coreia do Norte não vai desistir de suas armas nucleares e a China não empurrará os norte-coreanos a fazê-lo. O motivo é que, na política internacional, você nunca pode confiar em ninguém, porque você não pode ter certeza de quais são suas intenções", disse Mearsheimer.

Citado pela agência sul-coreana Yonhap durante a sua passagem por Seul, o professor dos EUA relembrou os episódios envolvendo países que confiaram em Washington para não perseguirem armas nucleares. Na Líbia, o líder Muammar Kadhafi acabou morto em 2011, ao passo que o Irã vive a incerteza sobre o acordo fechado em 2015.

"Não há como os norte-coreanos possam confiar nos EUA — eles desistiram de suas armas nucleares porque os EUA podem enganá-los. Se você fosse norte-coreano, você confiaria em Donald Trump? Você confiaria em qualquer presidente americano?”, questionou.

Na visão analítica de Mearsheimer, não há um país que mais precise hoje de armas nucleares do que a Coreia do Norte, já que a mudança de regime em Pyongyang nunca saiu do radar de Trump e seus assessores em Washington.

"Desistir de suas armas nucleares? Acho que não, especialmente porque a competição de segurança pode esquentar no leste da Ásia. Você quer segurar essas armas", continuou, referindo-se ainda ao interesse chinês de que Kim continue no comando norte-coreano.

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"Acho que está bem claro que, até agora, os chineses tinham um profundo interesse em garantir que a Coreia do Norte continuasse sendo um Estado soberano, um Estado-tampão separando a China da Coreia do Sul e seu aliado americano. Acho que, enquanto a competição de segurança entre a China e os EUA aumenta, o incentivo para a China garantir que a Coreia do Norte continue sendo um Estado soberano, aumenta", explicou.

O professor ainda alertou que as disputas na Ásia tendem a escalar nos próximos anos, e que um conflito armado não pode ser totalmente descartado. "Você vai ter uma intensa competição de segurança aqui no leste da Ásia. Acredito que seja inevitável. Acho que há uma séria possibilidade de uma guerra", completou.

Altas autoridades das duas Coreias irão se reunir no fim de abril em uma aguardada cúpula que pode, dentre outros assuntos, tratar pela primeira vez neste ano da desnuclearização norte-coreana. Em seguida, o encontro aguardado entre Trump e Kim pode ocorrer (possivelmente em maio), mas os dois países ainda não definiram data ou local para isso.

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