Foi o que disse o ministro da Defesa iraniano, general Amir Hatami, em uma conferência de segurança em Moscou. Segundo ele, hoje o Oriente Médio está em constante desordem porque vários atores importantes como Israel, Arábia Saudita e Irã estão em constante confronto antagônico entre si.
Essa situação só estimula o extremismo e impede a integração regional, que permite que protagonistas estrangeiros, como os EUA, causem problemas na região enquanto buscam seu interesse próprio, acrescentou Hatami.
A menos que os muçulmanos da região consigam superar suas diferenças, eles serão vitimados, disse a autoridade iraniana. A atual transição do mundo para a multipolaridade, que inclina a balança de poder do Ocidente, oferece uma chance de fazer isso.
"O resultado mais importante da mudança é a transição do poder político e econômico do hemisfério ocidental para o oriental, do Atlântico para o leste da Ásia. Pela primeira vez em quatro séculos, as mudanças não dependem apenas da vontade do Ocidente", afirmou.
Hatami disse ainda que a mudança afetará seriamente "a região da Ásia Ocidental, que tem sido chamada de Oriente Médio por engano há algum tempo". As nações muçulmanas da região devem passar por um rápido crescimento do poder econômico e político à sua disposição, disse o general, e algumas nações, como os EUA, estão profundamente preocupadas com isso.
"Eles sabem muito bem que um mundo muçulmano unido formaria um poderoso centro de segurança e poder geopolítico. É por isso que eles se esforçam muito para semear discórdia e colocar os países uns contra os outros", argumentou.
'Caos controlado'
O iraniano disse que Washington vem trazendo problemas para o Oriente Médio há décadas e que a ascensão do grupo terrorista Daesh foi apenas um elemento dessa contenção das nações muçulmanas. Ele acrescentou que o fraco desempenho que a coalizão anti-Daesh, liderada pelos EUA, demonstrou antes de 2015 (quando a Rússia interveio na Síria para ajudar seu governo a lutar contra grupos islâmicos) era uma prova disso. Os EUA "jogaram um jogo de caos controlado para administrar esse grupo terrorista", segundo o general.
Hatami acrescentou que a derrota do grupo foi de fato um golpe às políticas americanas no Oriente Médio e que os EUA "tentarão preencher o vácuo" deixado pelo Daesh promovendo outros conflitos na Síria, colocando vários países de lá uns contra os outros.
"Enquanto o governo americano colocar seu interesse próprio como a pedra angular de sua política externa e evitar a responsabilidade por sua imprudência nas relações internacionais — o que é improvável que mude com Donald Trump e sua equipe — só podemos esperar mais ameaças e mais complicações para a região", avaliou.
Hatami foi um dos oradores em um painel na 7ª Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional, atualmente em curso na capital russa. O evento de alto nível na capital russa está sendo assistido por delegações de 95 países. Falando no mesmo evento estavam oficiais militares e civis e líderes da Rússia, Síria, Paquistão e Afeganistão, e das Nações Unidas.