A Sputnik Persa entrevistou o cientista político e diplomata iraniano, Seyyed Hadi Afghahi, para entender o porquê das recentes declarações do príncipe herdeiro saudita, bem como para se situar no impacto do passo empreendido por Riad sobre a situação na região.
O especialista assinalou que as vitórias da aliança, formada pelo Irã, Síria e Hezbollah, chamada Frente de Resistência, e as vitórias da Rússia na Síria preocuparam a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Egito, EUA e OTAN.
"Além disso, a derrota dos sauditas assustou Israel, já que Israel prestava apoio aos terroristas na luta contra a Síria, contribuindo para a desestabilização da situação na região […] É natural que a Arábia Saudita e Israel sintam que tanto suas posições na região, como seus interesses estejam ameaçados", explicou Seyyed Afghahi.
"Divulgar contatos beneficiaria Israel: ao afirmar que a Arábia Saudita não tem problemas com Israel, o país, em que se encontram centros sagrados para muçulmanos por todo o mundo, Tel Aviv encorajaria outros países muçulmanos a passar a estabelecer relações diplomáticas com ela. Nesta situação, a Arábia Saudita passou a ocupar uma postura aberta: saiu da clandestinidade […] e a nível oficial reconheceu o direito de Israel de existir", destacou.
O analista iraniano assinalou também que, em breve, devido ao medo das monarquias do golfo Pérsico de perderem suas posições na região, a Arábia Saudita e Israel começarão a reforçar suas relações diplomáticas.
"Está claro que o motivo de aproximação entre a Arábia Saudita e Israel é a ameaça política e estratégica que surgiu para a Arábia Saudita na região. Atrás destes dois países estão os EUA, cuja presença afeta a região de forma negativa. A declaração do presidente Donald Trump sobre a breve retirada de suas forças da Síria foi bem surpreendente e inesperada."
"Acredito que, daqui a pouco, a Arábia Saudita vá declarar oficialmente suas relações com Israel. Contudo, Riad vai além: o reconhecimento pela Arábia Saudita do direito de Israel existir faz parte do projeto ‘Acordo do Século’ contra o Irã e contra a 'Frente de Resistência'. Os encontros realizados entre o príncipe árabe e Israel a alto nível entram neste acordo", disse o analista.
Segundo Afghahi, o primeiro passo foi dado por Trump ao afirmar que os EUA vão transferir a embaixada norte-americana a Jerusalém. O segundo passo é o estabelecimento de laços entre a Arábia Saudita e Israel, já que os dois países tencionam juntar suas forças contra o Irã.
Quando perguntado se os passos empreendidos pela Arábia Saudita receberão apoio internacional, para o especialista, a resposta é óbvia.
"Este projeto não tem apoio mundial."