Se confirmadas as previsões, o agronegócio vai puxar o Produto Interno Bruto (PIB), assim como aconteceu no ano passado, ajudando a tirar o Brasil da recessão de dois anos seguidos (2015 e 2016), influindo na redução da inflação e, por consequência, das taxas de juros. Só em março, as exportações do agronegócio chegaram a US$ 9,08 bilhões, alta de 4,1% em relação a igual mês de 2017. Hoje, os produtos do agronegócio já representam 45,2% do total das exportações brasileiras.
A Ásia se mantém como principal destino das vendas de soja, com embarques de US$ 4,65 bilhões no mês passado, enquanto a União Europeia vem em segundo lugar. Os produtos mais exportados em março foram celulose, com alta de 162,6%, soja em grão (+59,7%), suco de laranja (+38,8%), fumo não manufaturado (+120,2%) e farelo de soja (+12,9%).
No campo, o entusiasmo dos produtores de soja é compartilhado com uma preocupação: embora a produção tenha crescido — mais pela produtividade no campo do que pela área plantada —, a remuneração do plantador vem diminuindo. Em entrevista à Sputnik Brasil, Marcos da Rosa, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), fala sobre as perspectivas do mercado e os desafios que impedem que a produção nacional possa crescer três vezes nos próximos anos.
O dirigente explica que o produtor tem que aumentar a produtividade porque os custos de produção vem crescendo bastante nos últimos anos, embora beneficiada também pelo bom clima das duas últimas safras. Segundo ele, as despesas com defensivos agrícolas têm dobrado devido ao aumento do número de aplicações necessárias nas lavouras, principalmente no combate ao fungo Ferrugem Asiática, que tem um efeito devastador sobre as plantações. Também as sementes, em função das novas tecnologias, passaram a ter um custo mais elevado, quase o dobro do que custavam há cinco anos. O dirigente da Aprosoja Brasil também se queixa da nova política de preços adotada pela Petrobras que elevou substancialmente o preço do diesel, de lubrificantes e outros insumos utilizados no campo. O litro do óleo diesel, por exemplo, passou de R$ 2,40 para R$ 3,60.
"Antigamente colhíamos 40, 45 sacas de soja por hectare, mas tínhamos uma sobra de renda para o produtor de no mínimo dez sacas. Hoje colhemos 56 em média no país e o custo de produção está em quase 60. O preço final não é o produtor que determina, é o mercado. Não sabemos por quanto vamos vender. Esses preços no mercado internacional, embora a demanda seja grande, quem faz é a Bolsa de Chicago, e ainda há um órgão americano, o FDA (Food and Drugs Administration) que faz relatórios que são inconvenientes com a verdade", reclama o dirigente.
Marcos da Rosa diz que a agricultura ocupa apenas 7,5% do território brasileiro, dos quais apenas 3,5% correspondem à soja, enquanto na Europa e na própria China são utilizados mais de 60% do território. Segundo ele, a população mundial vai aumentar para 9 bilhões de pessoas e vai faltar comida em 2050, mas o Brasil pode triplicar sua produção.
Os Estados Unidos continuam sendo os maiores produtores mundiais de soja, com uma colheita de 117 milhões de toneladas, contra 114 milhões do Brasil. Segundo a Aprosoja Brasil, há a perspectiva de uma pequena redução na produção americana na atual safra, o que permitirá que o Brasil se iguale ou mesmo ultrapasse os EUA. Na produção geral do agronegócio, no entanto, a diferença é expressiva: cerca de 400 milhões de toneladas dos americanos contra a previsão de 230 milhões do Brasil. A China, por sua vez, produz 500 milhões de toneladas de grãos. Com relação à soja transgênica, ela corresponde hoje a 82% do total produzido no Brasil. O país exporta para a Europa 13 milhões de toneladas do tipo não transgênico e para a China, 65 milhões de toneladas da transgênica.
Por fim, o presidente da Aprosoja Brasil critica o sistema de transporte e a logística no Brasil, responsáveis por elevadas perdas para o produtor e perda de divisas para o país, na medida em que encarece o preço do produto para exportação.
"A logística de infraestrutura no Brasil, seja do que for, é uma vergonha. Somos 25 pessoas dentro de um Fusca. O Brasil, mesmo só produzindo em 7% de seu território, causa um medo muito grande na comunidade internacional. Aí colocam pressão dentro da Funai, dentro do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente, que é dominado por ONGs internacionais, para o Brasil não crescer. Com isso, não sai licença para ferrovias e hidrovias, onde iríamos diminuir muito nosso custo de produção e sermos muito mais competitivos do que somos", conclui Marcos da Rosa.