Rússia está 'confortável' em usar armas nucleares e OTAN deve agir, diz conselho dos EUA

A Rússia está mais disposta a correr o risco de uma guerra nuclear do que o Ocidente, e a OTAN deve investir mais dinheiro no desenvolvimento de novas capacidades para impedir a agressão nuclear de Moscou, de acordo com analistas do grupo neoconservador Atlantic Council (Conselho Atlântico).
Sputnik

Em uma longa discussão sobre a preparação para a guerra nuclear com a Rússia, os especialistas pediram para que os EUA e a OTAN gastassem mais dinheiro em armas nucleares de baixo rendimento e outros métodos a fim de dissuadir a Rússia de usar um ataque nuclear limitado, a fim de "diminuir" a chance de conflito usando o fator do medo.

O grupo argumentou que a Rússia adotou uma política de "escalar para diminuir a escalada", o que reduz o padrão para o uso de armas nucleares. Sob essa política, a Rússia responderia a um ataque militar convencional em larga escala, empregando uma resposta nuclear limitada a fim de impedir novas agressões contra si mesma.

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Matthew Kroenig, vice-diretor de estratégia do Centro de Estratégia e Segurança Scowcroft do conselho, sugeriu que a Rússia está simplesmente "mais confortável usando e ameaçando as armas nucleares" do que o Ocidente.

Equívocos americanos

A chamada política "escalar para reduzir a escalada" da Rússia foi até mencionada na última Revisão da Postura Nuclear do governo do presidente estadunidense Donald Trump. Mas enquanto o conselho e a Casa Branca parecem convencidos de que a Rússia está quase procurando desculpas para usar armas nucleares, outros argumentam que o Ocidente de fato entendeu mal a política russa de uso nuclear.

Há poucas evidências de que a Rússia tenha realmente reduzido seu limite para o uso nuclear. A teoria de que a Rússia está mais disposta a usar armas nucleares provavelmente se origina em um artigo publicado em um jornal militar russo em 1999, que sugere que o uso de armas nucleares para combater um ataque convencional pode forçar o agressor a se afastar. O mesmo argumento foi feito por alguns especialistas russos nos últimos anos também.

Mas a política de "escalar para reduzir a escalada", da maneira como foi enquadrada no Ocidente, não chegou à doutrina militar russa. Isso sugere que "os proponentes de um limiar reduzido acabaram perdendo uma luta burocrática" em Moscou, segundo análises do site War on the Rocks.

De fato, a doutrina militar russa não exige especificamente o uso de armas nucleares, mesmo que Moscou esteja de fato perdendo uma batalha convencional. Ela afirma que as armas nucleares devem ser usadas apenas em resposta a um adversário que use armas nucleares ou outras armas de destruição em massa contra a Rússia ou seus aliados, ou em resposta a agressão não nuclear, mas apenas quando "a sobrevivência da Rússia estiver ameaçada".

A doutrina da Rússia de 2014 realmente introduziu o termo "sistema de dissuasão não nuclear", que é explicado como um foco na prevenção da agressão "principalmente através da dependência de forças convencionais (não nucleares)".

É mais do que provável que o Conselho Atlântico e os seus membros estejam plenamente conscientes disso, o que leva à pergunta: eles enganam as pessoas sobre as intenções da Rússia de fazer lobby por mais gastos militares na Europa Oriental? Na verdade, houve até implicações de que a Rússia tenha algum tipo de plano secreto para usar armas nucleares em um conflito convencional, que não incluiu em sua doutrina formal.

Crimeia, Coreia do Norte e Trump

Outro argumento feito pelo painel do conselho é que a "retórica" da Rússia sobre armas nucleares é uma evidência da intenção de usá-las, ou de alguma forma imprudente. Quando Kroenig afirmou que a Rússia está "mais confortável" ameaçando o uso de armas nucleares, ele pode estar se referindo ao comentário de do presidente Vladimir Putin de que a Rússia está pronta para colocar suas armas nucleares em alerta diante da crise na Crimeia em 2014 - mas isso não aconteceu.

De fato, para algumas ameaças realmente imprudentes sobre o uso nuclear, basta olhar para Washington. Nos últimos meses, Trump usou o Twitter para ameaçar a aniquilação nuclear da Coreia do Norte. Em 2016, Trump twittou que os EUA "devem fortalecer e expandir enormemente sua capacidade nuclear" - e ele rotineiramente faz comentários com o objetivo de lembrar os adversários da América sobre suas capacidades nucleares. Nesse contexto, sugerir que a Rússia é única nesse sentido é enganoso, na melhor das hipóteses.

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O Conselho Atlântico é financiado por empreiteiros militares como Lockheed Martin, Raytheon, Boeing e Northrop Grumman, e é composta por neoconservadores que consistentemente fazem lobby por ações militares e gastos com defesa.

Portanto, a questão é - o painel de discussão do conselho foi elaborado como um esforço para pressionar por uma escalada militar com a Rússia, de forma clara e falsamente deturpando o que sabemos sobre a doutrina militar russa?

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