Colapso do acordo nuclear pode provocar novos conflitos no Oriente Médio

O Oriente Médio e o mundo enfrentam novos desafios. O presidente dos EUA, Donald Trump, deve vir a tomar decisão unilateral de abandoar o acordo nuclear relativo ao Irã ou a confirmar sua participação.
Sputnik

Em junho de 2015, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Rússia, EUA, França, Grã-Bretanha e China – juntamente com a Alemanha chegaram a um acordo sobre a resolução da questão nuclear iraniana, adotando o Plano de Ação Conjunto (JCPOA, sigla em inglês). O acordo entrou em vigor em janeiro de 2016.

Entretanto, em 2016, o então candidato presidencial Trump, durante campanha eleitoral, atacou sistematicamente o plano, afirmando que ele não era lucrativo para os EUA. Ao assumir a presidência, Trump transformou suas palavras em ações.

A princípio, ele encontrou quatro "falhas" no acordo: impossibilidade de inspetores internacionais controlarem as instalações por completo, incluindo as militares; a falta de garantia de que o Irã nunca desenvolverá armas nucleares; o limite do prazo do plano de 10 a 15 anos; e a ausência de um impedimento à criação iraniana de mísseis balísticos capazes de transportar armas nucleares. Além disso, Trump acusa Teerã de estar querendo se expandir no Oriente Médio.

Em janeiro deste ano, o presidente norte-americano anunciou que as sanções contra o Irã persistirão e que os EUA abandarão o plano em 12 de maio, se a França, Alemanha e Reino Unido não concordarem com as "alterações substanciais".

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Nas capitais desses países europeus, que estão extremamente interessados em desenvolver relações de negócio com Teerã, surgiu um pânico. Deram início a consultas imediatas com os Estados Unidos. Foram realizadas cinco rodadas de negociações. Como resultado, de acordo com relatos da mídia, os dois lados concordaram ser necessário dividir o acordo nuclear e outros "equívocos" de Teerã, que o Irã deverá ser ameaçado com novas sanções por seus testes de mísseis e política regional agressiva. No entanto, o acordo nuclear permanecerá intacto, apesar de algumas de suas partes serem interpretadas de um novo modo.

A chefe da política externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, em 16 de abril, declarou que a UE cumpre a transação nuclear com o Irã integralmente.

No dia 24 de abril, o presidente da França, Emmanuel Macron, desembarcou em Washington. O plano se tornou um dos assuntos principais. Para aproximar as posições francesas e norte-americanas, ele sugeriu começar a desenvolver um novo documento em relação ao assunto nuclear do Irã, levando em consideração o programa nuclear e os fatores de impedimento de expansão iraniana no Oriente Médio.

Em 27 de abril, a chanceler alemã Angela Merkel estará na capital norte-americana. O assunto das negociações será o mesmo. Os analistas estão se perguntando se a reunião entre a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e o presidente dos EUA, Donald Trump, será presencial ou por telefone. O fato é que a conversa anglo-americana sobre a questão nuclear iraniana definitivamente acontecerá.

Será que os europeus conseguirão persuadir o presidente dos EUA a não abandonar o plano? É difícil dizer. Provavelmente, não (apesar de o presidente Trump ser imprevisível, é impossível calcular seus movimentos). Mas hoje as perspectivas são pessimistas. A administração dos EUA deixou claro que a Casa Branca continua firme em relação ao acordo nuclear. Apenas uma opção é considerada, dando esperança de que os EUA permanecerão no plano, somente se os europeus conseguirem concessões do Irã.

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No entanto, infelizmente, é praticamente impossível. Assim, qualquer interpretação das disposições do plano é inaceitável para o Irã. Mesmo durante o processo de negociação em 2014-2015, as autoridades iranianas chamaram a atenção para a singularidade absoluta da interpretação de cada palavra do documento, observando atentamente a tradução do texto e enfatizando repetidamente a inadmissibilidade de duplo sentido.

Além disso, Irã não aceita nenhuma alteração ou correção do documento. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, explicou a posição iraniana sobre o ajuste do texto como "tudo ou nada".

Os líderes europeus devem estimular o presidente Donald Trump não apenas a permanecer no acordo nuclear, mas, mais importante do que isso, a cumpri-lo "adequadamente". Portanto, não há esperança de amenizar a posição de Teerã. Assim, os esforços dos europeus serão inúteis. Trump retirará os EUA do plano. E Teerã está pronta para isso.

"O Irã está pronto para todas as situações possíveis […] Se eles [EUA] não cumprirem suas obrigações, o governo iraniano vai reagir decisivamente […] Se alguém romper o acordo, eles devem saber que enfrentarão sérias consequências", disse Hassan Rouhani, presidente do Irã.

Previamente, Mohammad Javad Zarif observou que o Irã rapidamente restaurará seu desenvolvimento nuclear se os EUA se retirarem do acordo, advertindo que o Irã poderia levar o enriquecimento de urânio a um nível de 20% em quatro dias (o plano prevê restrições ao enriquecimento de urânio, menos de 4%).

O ministro iraniano das Relações Exteriores destacou que "o Irã tem uma ampla gama de possíveis opções de ação, dentro ou fora do plano. E, certamente, a reação do Irã e da comunidade mundial será desagradável para os Estados Unidos".

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Por sua vez, o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, afirmou que a resposta por parte do Irã poderá ser "inesperada".

Deve-se enfatizar que a infraestrutura nuclear iraniana não sofreu mudanças radicais nos últimos três anos segundo o acordo nuclear. Portanto, o potencial nuclear existe e está pronto para se transformar na energia nuclear do Irã. Isso é especialmente importante considerando o programa nuclear norte-americano e a reação de Trump.

Quanto ao destino do plano, o colapso desse acordo nuclear certamente levará a novas crises políticas e militares em torno do Irã e do Oriente Médio em geral. Há grandes dúvidas de que Israel, Arábia Saudita e até mesmo os EUA observem com calma o crescente perigo nuclear iraniano. Se o programa nuclear se desenvolver ativamente, principalmente, na área militar, podem ocorrer ataques militares a instalações nucleares do Irã e isso já é uma grande guerra no Oriente Médio.

*Artigo originalmente publicado pela Sputnik Persa

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