Haim Tomer, ex-funcionário do Mossad que disse liderar o setor de Inteligência, Contra-Terrorismo e Divisões Internacionais, falou explicitamente sobre possíveis opções para a mudança de regime em Teerã durante uma entrevista ao jornal israelense Jerusalem Post.
Afirmando que o "Estado islâmico de Khomeini" quer destruir Israel, Tomer argumentou que Tel Aviv pode dar conta da própria segurança.
"Podemos lidar com a ameaça em si: armas nucleares, mísseis iranianos convencionais. Podemos nos defender contra eles", declarou.
O ex-chefe de inteligência foi mais longe, dizendo que a política do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre o Irã "criou uma grande abertura […] para pesar cuidadosamente a pressão pela mudança de regime como uma meta formal".
Tomer descreveu como seria um possível golpe no Irã. Israel poderia "ajudar clandestinamente a facilitar a mudança de regime" e os EUA "poderiam apoiá-lo em várias frentes", enquanto os sauditas poderiam financiar o esforço.
Questionado sobre o que exatamente Israel poderia tentar, ele disse que "ações clandestinas podem levar a mudanças […] Há muito o que o Mossad pode fazer quando recebe uma missão".
"Não posso entrar nos detalhes […] mas seria clandestino", prosseguiu.
Ataques no passado
Tomer, que agora trabalha como consultor de investimentos e tecnologia, disse sem rodeios que o governo iraniano — presidido pelo aiatolá Ali Khamenei — é impopular junto ao público iraniano, e que o próprio líder supremo é velho e tem problemas de saúde.
Ele disse também que o Mossad, que acredita-se ter realizado várias operações clandestinas em solo iraniano no passado, pode desempenhar um papel crucial na conspiração contra a República Islâmica.
"O Mossad realiza operações substanciais e complexas — e realizou muitas", referindo-se aos relatórios de 2013 de que a instalação nuclear iraniana em Natanz foi devastada por um malware, o Stuxnet.
"O Mossad já fez muitas coisas no Irã antes. Este foi um dos mais importantes, mas tem havido operações como essa e talvez ainda mais importantes", comentou.
O ex-funcionário do Mossad também afirmou que a agência de inteligência israelense é uma das poucas que realiza assassinatos seletivos.
"[Quanto a] assassinatos seletivos, muito poucas [agências de inteligência estrangeiras] fazem isso. Israel é quem faz, de acordo com fontes estrangeiras", acrescentou. No entanto, ele reconheceu a força iraniana.
"Eu não estou dizendo que vai ser moleza — o Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana e as milícias Basiji são muito fortes", comentou. Mas mesmo que não tenha sucesso, "é melhor ter os iranianos lutando entre si mesmos", concluiu, dando a entender que uma guerra civil seria do interesse de Tel Aviv, Washington e Riad.
História
Os líderes israelenses já fizeram declarações semelhantes sobre o assunto no passado.
"Quando este regime [o governo iraniano] finalmente cair, e um dia acontecerá, os iranianos e israelenses serão grandes amigos novamente", disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em janeiro, em meio a violentos distúrbios no Irã. Ele elogiou os manifestantes que se uniram à época, dizendo que buscavam "liberdade e justiça".
O Irã já foi alvo de um golpe orquestrado pela CIA que derrubou o primeiro-ministro democraticamente eleito, Mohammad Mosaddegh, em 1953. A CIA e o Departamento de Estado dos EUA deram sinal verde para derrubar Mosaddegh, codinome da Operação Ajax, depois que ele nacionalizou importantes ativos petrolíferos.
O golpe de Estado seria pensado para dar origem a um novo nacionalismo iraniano, que, no passado recente, abriu caminho para a Revolução Islâmica de 1979 — um grande evento que envenenou as relações EUA-Irã no século 21.