Por que analogia com Líbia traçada pelos EUA provoca tanta indignação na Coreia do Norte?

Por que motivo a evocação do modelo de desnuclearização aplicado à Líbia se converteu em um obstáculo no processo diplomático entre os EUA e Coreia do Norte?
Sputnik

A professora associada de ciências políticas da Universidade de Oslo, Malfrid Braut-Hegghammer, explicou ao diário The Washington Post que, entre outras razões, Pyongyang não quer passar pela mesma experiência que a Líbia, que deu o primeiro passo mas depois não chegou a receber as contrapartidas prometidas.

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O assessor de segurança da Casa Branca, John Bolton, sugeriu nos finais de abril aplicar o "modelo líbio de 2003-2004" na desnuclearização da península coreana, o que desencadeou a indignação de Pyongyang.

Braut-Hegghammer, que escreveu um livro sobre a desnuclearização da Líbia e sobre o Iraque, recordou que, em 2003, Muammar Kadhafi decidiu abandonar o programa nuclear em troca da eliminação das sanções econômicas, mas as autoridades líbias se queixaram de não ter recebido as compensações militares e econômicas que os EUA e Reino Unido lhes prometeram durante as negociações. A isso se juntou o atraso no cancelamento das sanções, aponta a professora.

A primeira causa do descontentamento de Pyongyang sobre a analogia com a Líbia é que este modelo exige primeiramente o desarmamento total e, somente depois, oferece a compensação, indica a especialista, notando que poucos países confiam na rápida materialização das compensações depois do que aconteceu na Líbia.

Entretanto, a especialista sublinha que outra razão pode ser o que passou depois do fim do regime de Kadhafi. As operações da OTAN de apoio aos rebeldes na Líbia precipitaram o derrube do governo e, em 20 de outubro de 2011, após meses de protestos, seguidos por um conflito civil e intervenção estrangeira, Muammar Kadhafi foi capturado e brutalmente assassinado pelos rebeldes.

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Além do mais, a autora ressalta que, enquanto o programa nuclear na Líbia nunca foi prioridade para a sobrevivência do país, no caso da Coreia do Norte é bem diferente. O país asiático é uma potência nuclear e não quer que o vejam como um país obrigado a participar de negociações sob ameaças militares ou sanções econômicas.

Braut-Hegghammer também explica que o comentário de Bolton foi por si mesmo uma provocação que ofendeu Pyongyang, porque a Coreia do Norte tem repetidamente assinalado que não deseja passar pela mesma situação que a Líbia.

Segundo informou a agência de notícias norte-coreana KCNA, o primeiro vice-ministro do Exterior, Kim Kye-gwan, explicou que o seu país não tem interesse em realizar a cúpula com os EUA, que acabará por ter um caráter "unilateral". Segundo ele, a Coreia do Norte se recusa a levar a cabo a desnuclearização segundo o cenário líbio.

Por sua vez, o presidente norte-americano, Donald Trump, declarou que não considera o chamado "modelo líbio", mas frisou que esse modelo só seria implementado se não fosse firmado um acordo com Pyongyang.

No entanto, o Departamento de Estado não comenta as palavras de Trump. O analista russo Vladimir Kolotov, na entrevista ao serviço russo da Rádio Sputnik, sublinhou que as declarações de Washington muitas vezes se contradizem uma às outras.

"Os acontecimentos dos últimos anos mostram que não se pode confiar nos EUA, em especial na esfera de defesa e segurança. Isso porque foram os EUA que bombardearam a Iugoslávia, sem terem quaisquer direitos de o fazer, invadiram o Iraque sob um pretexto, derrubaram Kadhafi, atualmente tentam depor o presidente sírio e, sob um pretexto inventado, saíram unilateralmente do acordo iraniano", ressaltou.

"Os EUA destruíram completamente o sistema de direito internacional, e agora no palco mundial funciona a 'lei da selva', o que provoca a corrida armamentista com todas as suas consequências. Quaisquer declarações que façam, em qualquer momento podem se recusar a cumpri-las", resumiu Vladimir Kolotov.

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