Chuva violenta e relâmpagos no céu de primavera da capital russa não impediram que a rua na qual se situa a missão diplomática ucraniana em Moscou fosse tomada por numerosos cidadãos preocupados com o futuro do jornalista russo, acusado pelo governo ucraniano de "alta traição" e ameaçado com até 15 anos de custódia.
De casacos à prova d'água e com cartazes apelando à libertação de Vyshinsky, os participantes da ação pública sancionada, entre eles jornalistas eminentes e políticos, manifestaram sua indignação com o caso, assinalando que este já não é o primeiro na história do atual governo ucraniano.
Porém, apesar de várias entrevistas, evento foi apresentado como um "protesto silencioso", isto é, com o uso de cartazes ao invés de gritos de guerra.
Entre as fileiras dos ativistas estavam inclusive a editora-chefe da Sputnik e da RT, Margarita Simonyan, e o diretor-geral da agência de notícias Rossiya Segodnya, Dmitry Kiselev. Eles inclusive aproveitaram um momento para falar com a imprensa e expressar o que têm feito em relação ao ocorrido.
Simonyan, particularmente, relembrou que por ter sido estudante da época pós-soviética, ela estudava jornalismo através dos manuais ocidentais que falavam sobre a liberdade de expressão e diversidade de fontes.
"Foi isso que a Europa nos ensinou. Por que, então, esta Europa está calada e trai os mesmos valores que uma vez nos ensinou? Gostaria muito de ouvir a resposta", disse ela, sublinhando que nos países europeus o caso de Vishynsky não gerou repercussão esperada.
Uma das participantes do protesto, natural de Odessa, confessou que tem "vergonha" daquilo que está passando no seu país de origem, dado que não é a primeira vez que acontece.
"[A Ucrânia] está cometendo um crime de guerra. Vishynsky foi um daqueles que falava disso. Todos nós falávamos disso. […] Eu mesma sou ucraniana, me chamo Galina Zaporozhtseva, não abafo meu nome. Eu fui obrigada deixar Kiev porque sabia que estava correndo o mesmo risco que Oles Buzina [escritor e jornalista ucraniano, morto a tiros em Kiev em 16 de abril de 2015 alegadamente por suas ideias pró-russas] e Oleg Kalashnikov [também morto a tiros em 15 de abril de 2015 em Kiev, supostamente por suas visões políticas], que foram simplesmente assassinados. Elas [autoridades ucranianas] ora matam, ora põem na prisão", desabafa a mulher que se trabalha com ativismo no campo de direitos e liberdades humanos.
Galina também relembrou outro caso de um cidadão russo que ficou detido na Ucrânia por quatro anos seguidos.
"Yevgeny Mefedov, que esteve ocasionalmente em Odessa em 2 de maio [um dos dias mais trágicos no então confronto entre os opositores e apoiadores de Maidan], foi posto em custódia apenas por ter a cidadania russa. Ele está preso há 4 anos. O Tribunal ucraniano o libertou 5 vezes, mas logo o colocam novamente na prisão e dizem: vamos trocar você por nossos irmãos presos na Rússia acusados de terrorismo", contou.
Na opinião da ativista, tais medidas repressivas por parte das forças de segurança ucranianas revelam uma política de verdadeiro "terrorismo".
"Isto, de fato, é um Estado terrorista, porque aquele Estado que rouba as pessoas, e as faz de reféns se chama de terrorista. E hoje em dia tenho vergonha, sendo cidadã ucraniana, de que aqueles que chegaram ao poder através de um golpe de Estado estejam humilhando meu país, lindo, rico e muito inteligente. Este grupo de miseráveis deve ser condenado pela comunidade internacional", manifestou Galina.
Durante o protesto, nenhum representante da embaixada compareceu perante a multidão, enquanto Dmitry Kiselev prometeu que tais eventos vão se repetir até que a justiça seja feita em relação a Vishynsky, que ontem (17) foi posto em custódia por 60 dias de acordo com a decisão do Tribunal de Kherson.