Príncipe exilado acredita que a Arábia Saudita pode mergulhar no caos

O príncipe, que se nomeia como “membro da oposição” e vive na Alemanha há vários anos sem contato direto com a Família Real Saudita, costuma dar entrevistas fornecendo “insights” provocativos sobre a vida dos governantes do Reino.
Sputnik

Membro distante da Família Real Saudita, o príncipe Khaled bin Farhan Al Saud, que não pisa no país desde 2013, compartilhou sua posição sobre a situação na Arábia Saudita em uma entrevista exclusiva na segunda-feira.

Vulcão metafórico da Arábia Saudita

“Eu gostaria de dizer aos europeus que a situação na Arábia Saudita lembra um vulcão que está prestes a entrar em erupção. E se esse vulcão entrar em erupção, isso não afetará apenas a situação na Arábia Saudita ou a região árabe, mas afetará vocês também. Isso ocorre porque a Arábia Saudita é diversificada em termos de composição, seja tribal, social ou mesmo geracional”, disse o príncipe Khaled bin Farhan ao portal Middle East Eye.

Arábia Saudita com armas nucleares causaria 'corrida atômica' no Oriente Médio?
Ele prosseguiu explicando que um golpe na Arábia Saudita poderia “facilmente” tornar o Reino um centro para o terrorismo global, já que há uma falta de coesão intra-saudita.

"Se a Arábia Saudita cair em um estado de caos, haverá um caos global, e a Arábia Saudita será uma fonte de terrorismo para o mundo todo, uma vez que apoiará e manterá o terrorismo internacional", afirmou.

O príncipe também alertou que a Europa e os EUA teriam que "pagar a conta" do colapso do Estado saudita, em sua opinião a direção que o país está tomando.

Prisões minadas na legitimidade de bin Salman

Discutindo a campanha contra a corrupção do ano passado, liderada pelo herdeiro Mohammed bin Salman considerado "moderado e liberal" por líderes mundiais, o príncipe Khaled bin Farhan disse: “Foi um choqueporque figuras proeminentes da família foram detidas de uma forma que provocou muita humilhação. A família está agora enfrentando o enfraquecimento de sua posição aos olhos das pessoas. E isso inevitavelmente prejudicará sua legitimidade”.

Bin Farhan revelou que príncipes e empresários foram atraídos para o hotel sob o pretexto de conhecer o rei.

“E [as autoridades] registram suas conversas, seja por telefone ou diretamente com uma pessoa. Então eles estão sob vigilância pessoal, severa e humilhante dentro da Arábia Saudita e não estão autorizados a sair”, afirmou o Khaled bin Farhan.

Autoridades da Arábia Saudita prendem príncipes e ministros por corrupção
Porém, de acordo com o próprio exilado, as autoridades sauditas não confirmaram que impediram que qualquer dos ex-detidos do hotel Carlton Ritz deixassem o Reino.

"Políticas irracionais, erráticas e estúpidas" e louvor reservado

O príncipe criticou duramente a principal campanha anticorrupção de Mohammed bin Salman, dizendo: “É claro que a prisão dos príncipes criou um estado de trauma psicológico em toda a família, que é representado por duas coisas. Em primeiro lugar, eles temem pelo seu próprio futuro como uma família dominante na Arábia Saudita. E em segundo lugar, eles não estão satisfeitos com as políticas que estão sendo adotadas atualmente, que são irracionais, erráticas e estúpidas”.

No entanto, ele aplaudiu duas das reformas de bin Salman, especificamente, sua decisão de conceder às mulheres o direito de dirigir e sua tentativa de conter o poder das autoridades religiosas na Arábia Saudita.

“A primeira coisa é permitir que as mulheres dirijam carros. Isso não é generosidade, é direito da mulher dirigir, é seu direito básico. Em segundo lugar, ele restringiu a influência da autoridade religiosa saudita. Esta autoridade religiosa é uma organização governamental. É favorável a isso mesmo em questões que violam a lei islâmica, se estamos falando sobre a lei islâmica ”.

Estados Unidos aprovam venda de mais de US$1 bi em armas para a Arábia Saudita
O príncipe disse acreditar que Salman não implementou as reformas mencionadas para beneficiar a população saudita, mas apenas para "ganhar popularidade" com os EUA e a Europa.

Bin Farhan — um autoproclamado “membro da oposição” vive exilado na Alemanha desde 2013, quando recebeu asilo político dentro de dois meses depois de chegar ao país.

Desde então, ele deu várias entrevistas a meios de comunicação, fornecendo o que ele apresentou como insights sobre a vida da família real do Reino da Arábia Saudita.

A desavença do príncipe com a Família Real teria começado depois que o pai de Khaled, que ficou conhecido como o Príncipe Vermelho, foi colocado atrás das grades na década de 1980 por defender uma monarquia constitucional. O pai de Khaled é descendente de um clã que não tem acesso ao poder. Khaled, que se formou no Egito, não vislumbra ter qualquer contato direto com a Família Real no momento. Sua irmã, no entanto, está atualmente vivendo na Arábia Saudita, já que, de acordo com a lei Sharia, ela não pode sair do país a menos que tenha permissão do pai ou do irmão.

Comentar