Alguns anos atrás, Sam Nichols, repórter da revista Vice, notou uma coisa estranha: depois de conversar com um amigo sobre uma viagem ao Japão, ambos começaram a receber anúncios no Facebook sobre viagens de avião a Tóquio, o que a princípio parecia uma "coincidência assustadora".
Ele também citou o Dr. Peter Henway, consultor sênior de segurança da empresa de cibersegurança Asterix e ex-palestrante e pesquisador da Universidade Edith Cowan, que acabou por confirmar suas dúvidas.
O Sr. Henway ressaltou desde o início que, para o celular realmente levar em conta sua conversa, tem que haver um "disparador", por exemplo, as frases "Oi Siri" ou "Ok Google".
"Na ausência desses disparadores, os dados fornecidos são processados apenas por seu próprio telefone", disse.
Embora isso possa não parecer alarmante, todos os aplicativos de terceiros que você tem em seu telefone, como o Facebook, por exemplo, têm sempre acesso a esses dados "não disparados".
O especialista continuou explicando que tais aplicativos como o Facebook ou o Instagram podem ter milhares de disparadores. Uma simples conversa com um amigo sobre um novo par de jeans pode ser suficiente para ativá-lo. A palavra usada é "pode", porque empresas como o Facebook negam expressamente escutar as conversas dos seus usuários.
Sam Nichols decidiu então verificar por si mesmo. Duas vezes por dia, durante cinco dias, ele tentou dizer um monte de frases que teoricamente poderiam servir como disparadores. Frases do tipo que ele precisava de camisas baratas para o trabalho ou que ele estava pensando em voltar para a faculdade. E em seguida, ele observou cuidadosamente os posts patrocinados no Facebook.
"De repente, começaram a me falar sobre cursos de meio semestre em várias universidades e algumas marcas oferecendo roupas baratas. Uma conversa privada com um amigo sobre o fato de eu ter ficado sem espaço de dados resultou em um anúncio de espaços de dados baratos de 20 GB. E mesmo que fossem bons negócios, o total foi revelador e completamente aterrorizante", escreveu o jornalista.
"Como a maioria das empresas de tecnologia está sediada nos Estados Unidos, a NSA [Agência de Segurança Nacional], ou talvez a CIA, podem potencialmente divulgar suas informações, seja isso legal em seu país de origem ou não", disse Henway.
"Então, sim, nossos telefones estão nos ouvindo e tudo o que dizemos em torno deles poderia ser usado contra nós. Mas, segundo Peter [Henway], ao menos, não é algo que a maioria das pessoas deva ter medo", conclui o jornalista.
Diversos usuários da Internet têm relatado por várias vezes terem sido "vítimas" de tais práticas: eles argumentam que mesmo sem terem mencionado um tópico em uma conversa telefônica, o objeto de sua busca era exibido e proposto em anúncios nas redes sociais. Assim, a experiência do jornalista confirmou mais uma vez a teoria de que estaríamos permanentemente sob escuta.