Recentemente, em declarações à imprensa, o ministro brasileiro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, demonstrou grande preocupação com as possíveis consequências dessas disputas entre Washington e Pequim no comércio, sobretudo para o agronegócio brasileiro. Segundo ele, tal escalada só atrapalharia o Brasil, elevando os custos da soja e impactando negativamente o setor de carnes.
"E vamos perder esses mercados (de carnes) para os americanos ou qualquer um outro lá fora. Perdemos competitividade na área de proteína animal. Quando vamos recuperar isto? Quando os EUA e a China sentarem e resolverem…", disse ele, citado pela Reuters.
As sobretaxas anunciadas por Washington e Pequim são de 25% e afetam 818 produtos chineses e 545 produtos americanos. A ideia da CNI é no sentido de que Brasília poderia se aproveitar disso para suprir a demanda por parte desses itens que deixariam de ser importados — ou seriam importados em menor quantidade — devido aos custos elevados.
Dados divulgados pelo @MdicGov revelam que a balança comercial brasileira fechou o primeiro semestre do ano com superávit de US$ 30 bilhões. Destaque para o aumento das exportações de produtos manufaturados, semimanufaturados e básicos. Leia: https://t.co/yng90j9BB6pic.twitter.com/vHSwxkafGB
— Planalto (@planalto) 4 de julho de 2018
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em geografia econômica e BRICS Diego Pautasso, professor do Colégio Militar de Porto Alegre, disse que o fato de essa tensão envolver os dois maiores motores da economia mundial não deixa dúvidas de que essa guerra comercial terá efeitos significativos em todo o mundo, beneficiando alguns países, como o Brasil, em um ou outro setor, abrindo mercados, mas também prejudicando em outros, devido a triangularidades do comércio.
"Determinados insumos que vão para o mercado americano para depois irem para a China podem sofrer prejuízos, enquanto outros podem se beneficiar dessa guerra comercial", afirmou.
Segundo Pautasso, a diversificação do Brasil tanto em termos de produtos quanto — e principalmente — de parceiros deixa o país numa posição de menor vulnerabilidade do que outras nações em meio a mudanças de cenário como essa.
O especialista lembra que, obviamente, as oportunidades que se apresentam para o Brasil nesse momento também podem ser aproveitadas por outros países, aumentando a competitividade entre eles.
Enquanto os EUA incentivam o protecionismo, a China contribui para a liberalização do comércio e a cooperação mutualmente vantajosa com outros países, dizem analistashttps://t.co/dmpkbAdI36
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) 3 de julho de 2018
"O caso, por exemplo, da guerra comercial entre Europa e Rússia, das sanções à Rússia depois respondidas por Moscou, abriu oportunidades aqui para a América Latina para vender, fornecer produtos que até então eram fornecidos pelo mercado europeu. Só como um exemplo. Mas cada caso é um caso, cada cadeia produtiva tende a sofrer impactos distintos, alguns positivos e outros negativos. Difícil analisar a priori isso."
Em relação ao pessimismo do ministro Blairo Maggi sobre os efeitos dessas sobretaxações de EUA e China para o agronegócio brasileiro, o professor acredita no grande poder de competitividade do setor para se recolocar mais rapidamente no mercado.
"No setor da soja ou mesmo no setor mineral, o Brasil é muito competitivo. Então, eu creio que, mesmo com as eventuais sobretaxas, o setor pode perder menos do que, eventualmente, em uma oscilação de preços típica da volatilidade das commodities."
OMC registra aumento das restrições ao comércio nos países do G20 https://t.co/LXBnJCKgGE 📷Divulgação pic.twitter.com/0IWb6itxk3
— Agência Brasil (@agenciabrasil) 4 de julho de 2018
De acordo com o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, apesar do aumento do protecionismo no mundo, o comércio internacional mantém seu dinamismo e traz grandes oportunidades para este ano. Segundo ele, dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que a exportação de 70 países, que juntos representam 90% do comércio internacional, aumentou 13% no primeiro quadrimestre de 2018, superando o que foi registrado no ano passado, com aumento de 10,1%. No caso do Brasil, as exportações cresceram 16% nesse período.
"Estamos acima de importantes países como Canadá, México, Colômbia, Peru, Alemanha, França, África do Sul, Austrália e Índia. Esses números reforçam que o caminho traçado por nós está correto, apesar de ainda ter muito o que ser feito para o fortalecimento de nosso setor produtivo", disse ele, citado pela assessoria do Ministério.
Já o chanceler Aloysio Nunes, indo ao encontro do que destacou Pautasso sobre diversificação, disse à imprensa na última sexta-feira que a atual conjuntura tem permitido ao Brasil andar com cautela e buscar aproximação com diferentes parceiros, que, assim como o Brasil, esperam depender cada vez menos das grandes potências.