O colunista Bernhard Schwarz da Sputnik Alemanha expressou opinião de que a avalanche migratória alimentou a mídia por todo o mundo: na manhã da quinta-feira passada, as Guardas Civis da Espanha e Marrocos tentaram conter a entrada de centenas de migrantes na fronteira da União Europeia com Marrocos, mais especificamente no enclave espanhol de Ceuta. Como resultado do possível ataque planejado, guardas foram atacados com lança-chamas, fezes e substâncias químicas.
Muito provavelmente, a crise migratória atingiu o auge, apesar de o número de pedidos de asilo estar diminuindo. Centenas de migrantes se mostram firmes no desejo de entrar na UE a qualquer custo, e ninguém poderá contê-los.
Por enquanto, Bruxelas não reagiu ao incidente, mas, se em breve não for adotado um plano de ação concreto, há riscos de a violência e a anarquia se estourarem no coração da Europa.
Ainda antes do início da guerra civil em 2011, o ex-líder líbio, Muammar Kadhafi, avisou: "Vocês devem me entender corretamente. Se querem me oprimir e desestabilizar, vão aumentar a confusão, farão o jogo de [Osama] bin Laden e ajudarão grupos armados de rebeldes. Vai acontecer o seguinte: serão abalados com uma onda de migração da África que se dirigirá da Líbia à Europa. Ninguém estará aqui para contê-los."
Kadhafi talvez não imaginasse que seria assassinado pelos rebeldes na rua após intervenção da OTAN. Mas o seu aviso estava rodeado de razão.
A Líbia era um dos países com maior número de imigrantes. Hoje a Líbia é um Estado destruído, onde há dois governos, mas não há ordem. A degradação da Líbia também desestabilizou países vizinhos; situação instável é percebida do Níger à Somália. No decorrer da guerra civil, França e EUA forneceram ativamente armas aos rebeldes líbios que, logicamente, não as devolveram depois do fim da guerra. O equipamento militar do arsenal de Kadhafi foi roubado. Assim, na Líbia surgiu uma verdadeira "feira de armas". A organização Human Rights Watch advertiu abertamente após o fim da guerra civil: "Trata-se da maior proliferação de armas já vista. Nas próximas décadas, ameaçará toda a região." Desenvolvimento parecido da situação foi percebido também depois das intervenções norte-americanas no Iraque, no Afeganistão, e antes do envolvimento da Rússia, na Síria.
Na Alemanha, grande parte dos pedidos de asilo vem de refugiados dos países acima mencionados. Pessoas, em sua maioria, deixam o Níger, Eritreia, Somália e Chade em busca de melhorias no continente europeu. Mais de 75% dos refugiados, que se dirigem à Europa pelo mar, saem de portos líbios.
A política da chanceler alemã, Angela Merkel, de "consertaremos de qualquer forma" lembra a fraqueza do Império Romano pouco antes do colapso. Romanos não conseguiram frear a crise migratória, quando os godos no limiar e durante a queda dos hunos fugiram ao Império Romano. Em primeiro lugar, os godos foram acolhidos pacificamente, recebendo comida, mas, quando o fluxo ganhou grandes proporções, os romanos iniciaram a guerra para pará-los.
Hoje, depois do ataque a Ceuta, surge uma pergunta importante: como os centros que recebem pedidos de asilo devem se proteger, levando em conta que a população da África está exponencialmente crescendo. Até 2050 ela corresponderá a 2,5 bilhões de pessoas, sendo o dobro da quantidade atual. O fluxo de refugiados, por causa da fome, da economia fraca, da corrupção e da falta de perspectivas, pode aumentar. Além disso, os refugiados muito provavelmente não aceitarão rejeição de pedido de asilo e tentarão entrar na Europa com ou sem pedido.
Uma luz de esperança é avistada na Síria, de onde atualmente sai o maior número de refugiados para a Europa. Com o apoio da Rússia, o presidente sírio, Bashar Assad, conseguiu limpar a maior parte do território dos terroristas do Daesh (organização proibida na Rússia), e a guerra civil está prestes a acabar.
Depois da visita da delegação russa, Assad confirmou para todos os refugiados que "é garantido o regresso seguro". Já está em curso o trabalho ativo para o retorno dos refugiados sírios dos países vizinhos — Turquia, Líbano e Jordânia — para participação da restauração do país árabe. Muito provavelmente, no futuro, serão realizadas negociações com Assad para firmar acordos parecidos de regresso de refugiados.
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