Japão e EUA procuram usar Sri Lanka para conter China na região Indo-Pacífico

O desenvolvimento de laços militares do Japão e dos EUA com o Sri Lanka se destina a reforçar a estratégia indo-pacífica e conter a China na região, declararam à Sputnik China especialistas, comentando a entrega pelo Japão ao Sri Lanka de duas lanchas patrulheiras no valor de 11 milhões de dólares.
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A informação sobre a ajuda militar gratuita do Japão ao Sri Lanka foi anunciada no decorrer da visita ao país do ministro da Defesa japonês Itsunori Onodera, que se tornou o primeiro ministro da Defesa do Japão a visitar o país. Segundo a AFP, no programa do ministro japonês está a visita aos portos de Hambantota e Trincomalee, que na época da Segunda Guerra Mundial foram alvos do exército japonês.

O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, expressou durante o encontro a sua satisfação pela visita a esses dois portos estratégicos na ilha. Por isso, a AFP lembrou que em dezembro de 2017 o Sri Lanka arrendou à China o porto de Hambantota por 99 anos. Esse porto serve a rota mais movimentada de cargas Leste-Oeste e dá à China a possibilidade de se fixar em uma região dominada pela Índia.

Colombo procura reduzir a inquietação da Índia, persuadindo que Hambantota não será usado como posto avançado militar da China. Em Nova Deli, porém, consideram o contrário.

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Os especialistas sublinham que a China tem disputado com o Japão a posição de grande doador financeiro para a construção de portos e outras infraestruturas na ilha. Com isso, o Sri Lanka se tornou um elo-chave do projeto chinês de infraestruturas Cinturão e Rota.

Além disso, a China tem reforçado os laços militares com o Sri Lanka. No início de agosto, a mídia comunicou que a China queria entregar à Marinha cingalesa uma fragata no âmbito do aprofundamento dos laços na esfera da defesa. Foi comunicado também que Pequim continua a formar militares cingaleses e a construir um centro de formação na Academia Militar do país. Entre fornecimentos militares chineses ao Sri Lanka estão sistemas de defesa antiaérea portáteis FN-6, aviões de transporte MA60 e Y-12 e navios de patrulha Type 062.

Sri Lanka se tornou um dos centros de confrontação dos interesses regionais da China, dos EUA e do Japão, considera o diretor do Centro de Pesquisa do Nordeste da Ásia da Academia de Ciências Sociais, Da Zhigang. "A atração do Sri Lanka para a órbita dos EUA e do Japão é obviamente uma reação à iniciativa chinesa Cinturão e Rota e à ideia de uma comunidade de destino comum da humanidade", pensa o especialista.

"As ações dos EUA e do Japão estão estreitamente ligadas à estratégia indo-pacífica. A estratégia do novo balanço de forças na região Indo-Pacífica da época de Obama foi transformada na época de Donald Trump em estratégia indo-pacífica. O Japão também é um dos iniciadores e adeptos dessa estratégia. Um objetivo importante da aliança americano-japonesa é o alargamento da influência geopolítica e econômica, o aumento do seu papel na esfera de segurança no Nordeste da Ásia e em toda a região, bem como a contenção da China", diz Da Zhigang.

Ele acrescenta que o Sri Lanka tem importância estratégica, por isso a aspiração dos EUA e do Japão a um aumento do nível de cooperação com o país é compreensível. Por um lado, ela é dirigida para realizar a mesma estratégia indo-pacífica e reforçar a influência militar na região em competição com a China. Por outro lado, o Japão e os EUA têm planos mais ambiciosos: eles procuram ocupar as posições principais na região para o caso de surgimento de problemas geopolíticos no futuro.

Na entrevista à Sputnik China, o diretor do Centro de Estudos do Japão do Instituto do Extremo Oriente da Academia de Ciências da Rússia, Valery Kistanov, qualificou a entrega pelo Japão de duas lanchas de patrulha ao Sri Lanka como jogada antichinesa. A estratégia indo-pacífica é usada para conter a China e precisa da participação de jogadores novos, tais como o Sri Lanka. A ajuda técnico-militar ao país é apenas um pretexto para exercer pressão sobre a China e tolher a atividade crescente da sua Marinha, sublinhou o especialista russo.

O ministro da Defesa japonês chegou ao Sri Lanka da Índia, onde discutiu a cooperação militar com a sua homóloga indiana, Nirmala Sitharaman, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. O último assinalou, no decorrer das negociações em 20 de agosto, que a defesa é uma das direções prioritárias nas relações bilaterais.

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No dia seguinte, Narendra Modi realizou em Nova Deli conversações com o ministro da Defesa chinês Wei Fenghe. Ele apelou ao reforço dos intercâmbios bilaterais entre os dois exércitos e à cooperação na defesa da estabilidade na fronteira. Wei Fenghe, por sua vez, expressou a esperança que a sua visita aprofunde a cooperação e trocas na esfera da defesa.

As visitas das entidades militares do Japão e da China à Índia refletem o reconhecimento da sua influência crescente na região Indo-Pacífico e na segurança da região. Entretanto, lá está tendo lugar uma grande alteração do ambiente geopolítico. O Japão, em particular, não abandonou a intenção de construir uma aliança com a Índia em contrapeso à China. A China, por sua parte, não pode permitir que a "nova época" nas relações indo-japonesas prejudique os interesses dessa potência. Tudo isso manterá a intriga no desenvolvimento das relações entre a China, o Japão e a Índia.

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