O alerta é da museóloga Maria Ignez Mantovani, membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico Brasileiro do Instituto Brasileiro de Museus. Em entrevista à Sputnik Brasil, Mantovani critica a falta de uma política governamental de conservação do patrimônio público.
"A ausência dos nossos governantes simboliza a não priorização das questões patrimoniais, e é esta chave que a sociedade brasileira precisa inverter com muita rapidez, porque nós temos tido perdas sucessivas. Se nós não conseguirmos fazer uma intervenção rapidamente, poderemos ter outras perdas", ressalta a especialista, que é também ex-presidente do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus.
Nos últimos 10 anos o Brasil já assistiu à destruição de inúmeros artefatos em incêndios em diversos prédios, como o Instituto Butantã, o Memorial da América Latina, o Museu da Língua Portuguesa e a Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Para a museóloga, a catástrofe de domingo era uma tragédia anunciada.
"O Museu Nacional vinha sendo fragilizado por falta de recursos, por questões da sua própria estrutura física, que precisava de uma requalificação há boas décadas. O que aconteceu ontem, infelizmente, era um assunto vastamente conhecido e que nunca conseguimos que fosse tratado com a importância que merece", lamenta Mantovani, que tem recebido comunicados de pesquisadores e instituições do mundo todo "lamentando e tentando se solidarizar com a sociedade brasileira por uma perda dessa importância. Mas lastimando também um patrimônio mundial que se vai".
Em declarações à imprensa, representantes do Corpo de Bombeiros relataram que não havia estrutura de combate ao incêndio no local e que a unidade havia procurado a equipe técnica da corporação há cerca de um mês para regularizar a situação, após ter conseguido os recursos necessários. Não deu tempo.
Maria Ignez Mantovani defende a necessidade da instalação de combate a incêndio para evitar tragédias como a que aconteceu no domingo.
"Cada museu brasileiro tem que ter a instalação de combate ao incêndio completamente equipada e a capacidade de manter essas instalações. Existem regras internacionais para isso, e nós já dominamos isso. Precisamos de políticas que priorizam essas instalações", defende a museóloga, lembrando que incidentes como esse podem ser evitados: "O incêndio como esse, seja qual for o início dele, poderia ter sido imediatamente atendido se houvesse os equipamentos e brigadas treinadas atuando naquele momento no museu", completa.
A porta-voz do Fórum Brasileiro pelos Direitos Culturais ainda faz uma crítica ao descaso dos governantes e chama a população para cobrar no período eleitoral empenho na preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro. "Nós temos pouquíssimos presidenciáveis que tenham colocado a cultura como prioridade. Então acho que essa deve ser uma pauta do eleitor", finaliza a museóloga.