A embarcação, de 85 metros de comprimento e 1.380 toneladas de peso, foi construída em 1973 e ficou em serviço na Marinha Portuguesa durante 40 anos, de 1975 a 2015. O navio foi afundado ao sul do Cabo Girão, área de preservação ambiental na Ilha da Madeira, e faz parte de uma estratégia do governo local para aumentar o roteiro de recifes artificiais. Em nota, o governo afirma que a corveta Afonso Cerqueira passa a contribuir "incrementando o potencial turístico na área do mergulho amador, a recuperação dos recursos piscícolas e o aumento da biodiversidade na área".
Para afundar a corveta foram utilizadas 16 cargas de explosivos, mas acionar o mecanismo é apenas o último passo de uma operação delicada. "Um recife artificial pode ser definido como qualquer estrutura não poluente inserida de forma planejada em um ambiente subaquático, para criar um novo habitat para fauna e flora. Essa é uma prática que precisa ser planejada, já que há uma interferência direta naquele ambiente marinho", explica à Sputnik Brasil a bióloga Larissa Barbosa, mestre em conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
A fase final é a preparação dos explosivos. As cargas são colocadas em pontos estratégicos para que, depois da explosão, a água entre de maneira controlada. A última etapa do processo na corveta Afonso Cerqueira durou três dias. Depois da detonação, o navio levou pouco mais de dois minutos para afundar completamente.
A embarcação está, agora, a 30 metros de profundidade, e o sucesso do afundamento foi confirmado pelos mergulhadores, que desceram logo em seguida "para verificação das condições de segurança do navio, nomeadamente no que diz respeito à certificação de que todas as cargas explosivas foram detonadas e não constituem perigo", explica a Marinha. Os mergulhadores também confirmam o posicionamento correto da embarcação.
"Imagine que o navio afunda e não fique direitinho. Poderia constituir um risco para mergulhadores recreativos, já que poderia se inclinar para qualquer lado. Por isso depois do afundamento há a vistoria, para ver se o navio ficou em posição estável e não possa balançar e prejudicar ninguém. A partir do momento em que está afundado e é declarado seguro fica aberto para empresas que levam grupos e demais mergulhadores", explica o fundador da Escola de Mergulho de Lisboa, Ricardo Calado.
A corveta Afonso Cerqueira é o terceiro navio da Marinha Portuguesa afundado no mar do arquipélago da Madeira desde 2016. O governo local espera realizar mais dois afundamentos, nas regiões de Santa Cruz e Machico, no prazo de um ano.
Para a bióloga Larissa Barbosa, a atração, que nasce em torno das embarcações afundadas, precisa ser monitorada para que não favoreça a exploração incorreta dos novos recifes. "Como é um ambiente criado com o intuito de atrair peixes, moluscos e crustáceos, esses ambientes tornam-se vulneráveis à pesca ilegal. Por isso é indispensável um estudo que analise os objetivos de implementação do recife, seja para fins de conservação da biodiversidade, para fins de pesca ou qualquer outro tipo de exploração, como para o ecoturismo".