"A notícia do dia para nós tem sido o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro", diz à Sputnik Brasil Manuel Carvalho, diretor do Público, um dos principais jornais de Portugal. "É a notícia que nossos leitores mais procuram. Estamos com uma equipe de jornalistas desde o início da manhã a acompanhar, para nós é o grande acontecimento do dia, trágico, infelizmente", explica o jornalista.
Criado por Dom João VI quando o Brasil ainda era colônia portuguesa, em 1818, o então Museu Real foi instalado no palácio da Quinta da Boa Vista, que serviu como casa da família real. Em 1822, depois da Independência, foi rebatizado como Museu Imperial e Nacional. Foi com a proclamação da República, em 1889, que se tornou o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Ao longo de 200 anos, o equipamento reuniu um acervo de 20 milhões de peças de arte e científicas.
Foi o ministro da Cultura um dos primeiros a alertar Portugal para a gravidade da situação. "Um mau momento para o Brasil", escreveu Luís Castro Mendes no próprio perfil no Facebook, enquanto acompanhava pela televisão o trabalho de combate ao incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro. O ministro está no Brasil em agenda oficial e a visita ao museu era parte dos compromissos. Em declarações à imprensa, Castro Mendes demonstrou a solidariedade do governo português.
O apoio vem também dos profissionais da museologia. "Estamos naturalmente abertos a toda necessidade que houver. Já mandamos e-mail para o diretor a prestar o nosso apoio", diz o conservador do Museu Nacional de Arte Antiga.
As manifestações de solidariedade e pesar multiplicam-se a todo momento. A Direção Geral do Patrimônio e Cultura, órgão que administra os principais equipamentos culturais de Portugal, diz que "hoje é um dia de luto". Um dos grandes nomes da literatura portuguesa da atualidade, o escritor Valter Hugo Mãe se diz "horrorizado" e chama a atenção para o descaso das autoridades brasileiras com o Museu Nacional.
Ainda não se sabe o que causou o incêndio. Para Manuel Carvalho, a investigação deve ajudar na prevenção. "O edifício vai ser restaurado, mas o mais importante não é a sua fachada, é a memória. Agora é hora de olhar para as riquezas patrimoniais que o Brasil conserva. Eu tive a oportunidade de visitar alguns museus no Rio e nota-se que há, claramente, problemas de conservação. A grande utilidade que todos nós, sendo ou não brasileiros, podemos ver numa tragédia dessas é que se olhe para o que aconteceu e se tente evitar em outros que ainda estão de pé".