O problema se desenvolveu entre o primeiro presidente da Federação da Rússia, Boris Yeltsin, e os opositores antirreformistas liderados pelo vice-presidente Aleksandr Rutskoy e pelo presidente do Presidium do Soviete Supremo, Ruslan Khasbulatov.
O conflito evoluiu em outubro para confrontos armados no centro de Moscou, atingindo seu clímax com os ataques contra a prefeitura e o posicionamento de equipamentos militares, assim como bombardeios à Casa Branca, resultando na morte de cerca de 160 pessoas e provocando centenas de feridos.
Ponto fraco do tribunal
O chefe da administração do presidente Yeltsin entre 1993 a 1996, Sergei Filatov, destacou durante entrevista concedida à Sputnik que os eventos tiveram sua origem muito antes da data referida.
"O Soviete Supremo queria remover as figuras-chave do poder, fazer com que as reformas passassem sob seu controle, o que, é claro, era impossível, já que Yeltsin foi eleito em 1991 para fortalecer o poder executivo e acelerar as reformas. Tudo estava sendo feito para este fim, e entregar tudo à outra força era terrivelmente perigoso", disse.
"Mas o Tribunal Constitucional interferiu — basicamente ele se apressou a colocar uma rasteira quando anunciou que os resultados do referendo não tinham força legal, e eles só poderiam ser considerados como uma pesquisa de opinião", contou.
Segundo explicou o ex-chefe da administração do primeiro presidente, a dissolução do parlamento após o referendo teria acontecido tranquilamente e não teria aumentado a tensão no país, e que por esta razão os responsáveis pelos eventos foram os membros do Tribunal Constitucional.
Tanques eram necessários?
Além disso, ele acredita que foi desnecessário o posicionamento de tanques perto da Casa Branca, onde estavam os deputados insurgentes do Soviete Supremo.
"Temíamos que houvesse muitas pessoas ao redor da Casa Branca, que elas viessem protegê-la, mas todas elas foram embora e, no momento do bombardeio, não havia quase ninguém, apenas deputados e bandidos paramilitares […] Certamente, isso era perigoso, mas não o suficiente para enviar tanques e disparar tiros de intimidação", enfatizou.
"A situação na época era a mais grave, aqueles que passaram por isso sabem como foi […] Quando eles atacaram Ostankino [canal de televisão local], morreram 140 pessoas, a maioria pessoas inocentes, e no dia seguinte mais 10 pessoas foram mortas perto da Casa Branca", disse Korzhakov.
O jornalista Nikolai Svanidze, que cobria os acontecimentos desse outono, revelou que Yeltsin não teve escolha a não ser emitir o Decreto nº 1400 (sobre a reforma constitucional por etapas na Rússia), a fim de evitar uma guerra civil.
Anistia em vez de julgamento
Partidários de Yeltsin, que participaram dos eventos de 1993, confessaram que lamentavam que os principais instigadores, que apelavam a uma solução militar para o conflito e ao golpe, não fossem a julgamento e que tivessem sido anistiados.
"Se você reconsiderar esses eventos, você não tem que condenar todos eles. Mas eu condeno três deles — Aleksander Rutskoy, Ruslan Khasbulatov e Albert Makashov, que deveriam ter sido julgados: a morte das pessoas estão em suas consciências", salientou Korzhakov.