As notícias sobre aproximações perigosas entre navios e aviões militares de diferentes países, muitas vezes antagonistas, marcam frequentemente as manchetes da mídia internacional. De costume, são seguidos por trocas de acusações mordazes, porém, raramente resultam em conflitos reais.
Tensão sino-americana
A tendência foi quebrada em 2 de outubro, quando o destróier estadunidense USS Decatur e o navio de guerra chinês Luyang se enfrentaram perto do recife Gaven, que faz parte das Ilhas Spratly. Neste caso, os militares chineses decidiram, em vez de não reagirem e se limitarem a um subsequente protesto oficial, empreender medidas resolutas ou, de fato, "expulsar" o visitante inoportuno das águas em disputa.
Isso, sublinham especialistas, deve ser entendido como um fator de grande importância para a política exterior chinesa, mesmo que parecendo um evento menor. O país, que nunca na sua história moderna se envolveu em quaisquer provocações de caráter militar e sempre se posicionou muito reservado nessas questões, o que por muitos era considerado como indicador de fraqueza, parece estar começando a defender seus interesses em todos os níveis.
Vale ressaltar que nesta situação peculiar o problema-chave, que pode acarretar grandes riscos no futuro, consiste na ausência de fato de uma regulamentação legal das movimentações das diferentes marinhas no mar do Sul da China. Sendo um território reclamado por Pequim, apesar das decisões de órgãos internacionais, as respectivas águas recentemente viraram alvo da política de liberdade de navegação promovida pelos EUA, com apoio por parte dos seus aliados e com uma evidente tentativa de conter o reforço da China como potência, tanto econômica como militar.
Casos semelhantes
Hoje em dia, os dois atores no espaço marítimo e aéreo que parecem estar gerando o maior número de incidentes são a OTAN, muitas vezes representada pelos EUA, e a Rússia. Embora o relacionamento entre as duas últimas potências nesta esfera seja regulado desde 1972 pelo Acordo sobre Prevenção de Incidentes no Mar Aberto e no Ar, tais casos têm sido regulares ainda desde a época soviética.
A frequência com que esses incidentes acontecem levou vários altos responsáveis oficiais a falarem sobre a necessidade de se renovar o documento, porém, as relações perturbadas entre os dois países parecem não ter contribuído para a iniciativa, que acabou não sendo realizada. O fator da Síria, onde os militares russos e estadunidenses também estabeleceram um canal especial para troca de informações, também pode ter desviado a atenção.
Entre os casos dessa espécie mais repercutidos podemos relembrar os relacionados com o destróier estadunidense USS Donald Cook, equipado de mísseis Tomahawk. Por exemplo, em 10 de abril de 2014 o navio, que tinha acabado de entrar nas águas do mar Negro, foi sobrevoado por bombardeiros táticos russos Su-24 em proximidade perigosa, o que causou relatos sobre "desmoralização" dos marinheiros norte-americanos e consequente protesto por parte do Pentágono. Episódios parecidos também ocorreram no período posterior.
De fato, a lista pode ser extremamente longa, e parece seguir cada vez quase o mesmo cenário — demonstração de força (sem quaisquer danos materiais) e ulterior troca de declarações fortes. Alguns especialistas consideram o fenômeno como repetição dos padrões da Guerra Fria, outros — como uma realidade normal que não pode ser evitada no caso de grandes potências com ambições marítimas. Ao mesmo tempo, ambos concordam que os incidentes são frequentemente exagerados graças à cobertura midiática pretenciosa.
Por que isso acontece?
Na verdade, dado o nível de desenvolvimento dos equipamentos de bordo hoje em dia, a chance de um encontro "por acaso" no mar ou no espaço aéreo parece algo surreal. Por isso, os respectivos casos servem frequentemente de simples demonstração, ou seja, a pretensão de um ou outro país à sua presença em certa região. É algo muito menos grave do que uma confrontação militar real, mas, ao mesmo tempo, mais convincente que meros discursos diplomáticos.
Nessa lógica, as aproximações perigosas de fato não passam de um "espetáculo". Porém, este não deixa de ser perigoso. Uns 40-50 metros entre grandes navios de guerra é uma distância crítica, que pode terminar tragicamente mesmo contra a vontade dos envolvidos. Por isso, seria melhor que ambos lados não adquirissem um gosto por isso…