Rússia pode se defender das 'sanções infernais' dos EUA através da desdolarização

Embora o Kremlin tenha poucos recursos para impedir a introdução de novas sanções por Washington, ele pode tentar minimizar suas consequências, opinou o cientista político Gevorg Mirzayan.
Sputnik

Os congressistas norte-americanos ameaçam constantemente Moscou não apenas com novas sanções, mas também com medidas realmente drásticas, lembrou o cientista político Gevorg Mirzayan em um artigo para a revista russa Expert.

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Uma de suas últimas ameaças é o chamado projeto de lei sobre a proteção da segurança americana contra a agressão do Kremlin (DASKA, na sigla em inglês).

Este documento prevê proibir os bancos estatais russos de realizarem transações em dólares. O seu objetivo é punir a Rússia porque "o regime atual de sanções não conseguiu impedir a Rússia de interferir nas eleições de meio de mandato de 2018", segundo o republicano Lindsey Graham, que chamou o documento de "lei de sanções infernais".

Embora muitos especialistas considerem que é praticamente impossível introduzir algumas das medidas previstas no DASKA, a mera discussão deste projeto tem um efeito desestabilizador para a economia russa.

Mirzayan acredita que seria melhor para a Rússia começar a reduzir sua dependência do dólar agora, para não continuar sofrendo por culpa dos rumores e para proteger a economia se os senadores mais hostis conseguirem realizar suas ideias radicais.

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Plano de desdolarização da Rússia

O projeto de desdolarização da economia russa foi anunciado em setembro pelo presidente do banco russo VTB, Andrei Kostin. Essa medida, segundo Kostin, poderia minimizar o efeito negativo das sanções dos EUA para a economia russa.

 Anton Siluanov, ministro das Finanças da Rússia, comentou que o processo de desdolarização não será parecido com o cenário argentino (o câmbio de ativos em dólares por ativos em moeda nacional), ou o do Uzbequistão (o veto à livre circulação de moedas estrangeiras).  Segundo Siluanov, as autoridades russas estão trabalhando para evitar o uso do dólar no comércio exterior, passando a realizar as transações em euros, rublos e outras modas.

"Vamos apresentar preferências fiscais, falaremos sobre o rápido reembolso do imposto sobre o valor acrescentado nas exportações", explicou Siluánov.

"A lista de países que querem reduzir sua dependência da moeda norte-americana é grande e inclui todos os Estados que já sofreram ou aqueles que temem sofrer com o extremismo do dólar", revelou o autor.

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"Os europeus se beneficiariam se a Rússia passasse a usar o euro, porque agora têm que tomar em conta todos os riscos ligados à volatilidade das taxas de câmbio. Os países do BRICS, assim como o Irã e a Turquia, também querem evitar o dólar", afirmou Anatoly Aksakov, presidente do Comitê da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo) para os Mercados Financeiros.

Mirzayan, por sua vez, sublinhou que a desdolarização do comércio exterior russo é uma medida bastante razoável do ponto de vista político. No entanto, economicamente é difícil de realizar.

"Para poder passar a usar as moedas nacionais no comércio bilateral, é necessário que esse comércio seja feito sem desequilíbrios", ressaltou o especialista.

Atualmente, as exportações russas à Turquia ultrapassam 18 bilhões de dólares (R$ 70 bilhões) e suas importações chegam a apenas três bilhões de dólares (R$ 11,5). Neste caso, segundo Mirzayán, se ambos os países continuarem a usar as moedas nacionais no comércio, a Rússia poderá acumular muitas reservas de liras, enquanto a Turquia não terá rublos.

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Apesar desse risco e do fato de que tanto o rublo quanto as moedas nacionais de outros países não são atualmente ativos suficientemente seguros, os autores da desdolarização indicam que, por enquanto, essa é apenas uma iniciativa que está em seu início. Segundo Kostin, a implementação deste projeto na Rússia levará pelo menos cinco anos.

"Quanto mais Washington abusar de seu controle sobre o dólar, mais as autoridades russas, e não apenas as da Rússia, se convencerão que a desdolarização vale a pena", conclui o analista.

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