Bolsonaro tocou pouco no tema das relações internacionais ao longo de sua campanha. No entanto, quando ele dava indicativos do que seria a política externa de um governo seu, ele se posicionava contra o comunismo e os estados bolivarianos. Além disso ele prometia uma atuação bastante ideológica, próxima aos Estados e governos conservadores do Ocidente, como EUA e Israel, disse à Sputnik Brasil o Professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ, Pedro Rocha Fleury Curado,
"Ele citou muito esse dois países. Inclusive mencionou a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo o modelo de Trump, mas depois voltou atrás, como em outros assuntos — notadamente a saída do Acordo de Paris e a retirada do país da ONU", destacou o professor.
"Falou que ia fazer e voltou atrás".
"Esse era o discurso de Bolsonaro ao longo da campanha. Agora que ele venceu a eleição, do ponto de vista prático ele precisa lidar com questões que constrangem um pouco a aplicação sistemática do que ele vinha falando", explicou.
Esse é o caso da China, por exemplo. "Oficialmente comunista, é o principal parceiro comercial do Brasil". E a China vê com certa desconfiança a eleição de Bolsonaro, que acena um alinhamento quase automático com o governo de Trump.
No caso da Venezuela o quadro se repete. Apesar de Caracas ter sido atacada muitas vezes durante a campanha, o Brasil mantém um comércio extremamente vantajoso e superavitário com o país.
Quanto ao Mercosul, muitas críticas foram feitas também durante a campanha.
"Ele disse que Mercosul é muito ideológico. Ele gosta dessa palavra. Repete isso o tempo inteiro e diz que Mercosul precisa ser reformulado. Na prática, o que ele quer indicar, provavelmente, é uma continuidade do que a política externa do governo Temer já vem fazendo".
Ou seja, afastamento de uma política sul-sul, afastamento das organizações regionais e abandono da integração regional. O abandono da Unasul é um exemplo disso. Bolsonaro indica que vai seguir a linha atual do governo Temer.
Dessa forma, muitas declarações do presidente eleito, de fato, teriam sido ditas com intuito de mobilização eleitoral e serão encaradas de forma mais moderada na prática. Pelo menos no que tange a política internacional.
Para Pedro Curado a transferência integral da agenda norte-americana para o governo de Bolsonaro ainda é incerta. No entanto, a direção está clara. Nos próximos anos, deveremos ver um Itamaraty menos globalista e mais voltado para o Ocidente e Estados Unidos.