Guerra sem fronteiras: Mercosul conseguirá combater o crime em conjunto?

O Mercosul aprovou uma proposta de um acordo que permitirá a atuação policial dentro das fronteiras de outro país do grupo. A Sputnik Brasil conversou com o ex-secretário nacional de Segurança Pública do governo FHC sobre a viabilidade deste projeto.
Sputnik

A 42.ª Reunião de Ministros de Interior e Segurança do Mercosul e Estados Associados, realizada em Montevidéu, Uruguai, aprovou a proposta apresentada pelo governo brasileiro de um acordo de cooperação policial nas fronteiras que permitirá, entre outros pontos, a continuação da perseguição policial mesmo após o ingresso em território de outro país do grupo. 

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Em entrevista à Sputnik Brasil, o coronel da reserva da PM-SP e secretário nacional de Segurança Pública do governo Fernando Henrique Cardoso, José Vicente da Silva, declarou que as tentativas de combate ao crime transfonteiriço são boas intenções, mas dificilmente realizáveis no plano prático. 

"Uma decisão como essa vai ter que ser respaldada por leis que permitam isso, os ministros não estão acima da lei, obviamente; os governos também precisam endossar isso, pra aceitar um projeto de lei ou endossar algum projeto em andamento", afirmou. 

Segundo ele, "é uma medida que requereria, mesmo que bem intencionada, um conjunto de outras ações em cada um dos governos, que seriam os signatários de um eventual tratado como esse".  

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O ex-secretário nacional de Segurança Pública destacou que a proposta é uma ideia interessante, mas destacou que "para se chegar a uma via prática, como já se tentou há décadas, é uma longa distância".

"Um sistema que nós não temos sequer em âmbito nacional é um sistema de banco de dados de criminosos compartilhado com outros países. Nós não temos nem nos bancos estaduais compartilhados com os estados vizinhos, quanto menos compartilhado com a Polícia Federal", observou José Vicente. 

"Na minha avaliação é uma tentativa ocorrida em Montevidéu, cheia de boas intenções, mas no plano prático pra desdobrar isso, com uma facilidade que os policias façam o trabalho de atravessar fronteiras, realmente não vai ter sentido se pensar que isso vai ser alguma coisa séria", completou de maneira cética. 

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