Por que Espanha permite a navios russos entrarem em seus portos apesar da fúria da OTAN?

O que significa a recente autorização de entrar no porto de Ceuta, localizado em frente ao estreito de Gibraltar, dada pelas autoridades espanholas a navios da Marinha da Rússia? A Sputnik falou com especialistas para avaliar a situação.
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Na opinião do analista e consultor britânico Nile Gardiner, a "luz verde" concedida pelo governo espanhol aos três navios — um cruzador de mísseis guiados, um rebocador e um petroleiro — para entrarem no porto da cidade autônoma espanhola na África é uma faca cravada nas costas da OTAN, da qual o país faz parte. Seu colega e veterano do Exército americano, Luke Coffey, por sua parte, qualificou as ações de Madri como uma "irresponsabilidade extrema".

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A retórica dos britânicos contrasta muito com a da Espanha. "A frota russa volta a Ceuta três anos depois", escreve em um tom bem neutro o diário El País, sublinhando que a escala acontece "somente três dias após" a visita do chanceler russo, Sergei Lavrov, à capital espanhola.

Aliás, a edição, embora sua linha editorial é sempre bastante dura em relação ao Kremlin, deixa claro que a ausência dos navios russos em Ceuta desde 2016, como fruto da pressão por parte da Aliança Atlântica, representou perdas significativas para o país ibérico. A questão é que entre 2010 e 2016 esta cidade norte-africana da Espanha recebeu sessenta escalas de navios militares russos, envolvendo mais de 10 mil tripulantes que deixaram no local uns 4,5 milhões de euros (quase 20 milhões de reais), de acordo com os dados da Autoridade Portuária de Ceuta.

A imprensa local também nem tenta abafar a sua alegria pela notícia, assegurando que a chegada deste tipo de navios costuma trazer ainda mais benefícios que os navios de cruzeiro "com milhares de passageiros a bordo".

Ao falar com a Sputnik Mundo, o presidente da Academia da Diplomacia Espanhola, Santiago Velo de Antelo, manifestou que o regresso da Marinha russa a Ceuta é um regresso "à normalidade que se rompeu no ano de 2016".

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Comentando o porquê da raiva britânica, o entrevistado, que também é diretor da revista Diplomacia Século XXI, não descartou que aquela tenha a ver com o desejo londrino de ter um controle total do estreito de Gibraltar, possivelmente "o estreito mais importante do mundo".

O economista e advogado espanhol Guillermo Rocafort, por sua vez, se mostrou convencido de que "os britânicos estão muito indignados por estarem acostumados a tratar a Espanha como uma nação vassala".

"Preocupa-os a ideia de que a Espanha adote uma postura neutra ou até amigável para com um país tão importante como a Rússia", opinou.

Ele falou, ao mesmo tempo, da "hipocrisia" do Reino Unido, que "usurpou" da Espanha o Rochedo de Gibraltar e nem sequer consulta ninguém na hora de reparar lá "submarinos nucleares avariados".

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"A Espanha está lançando uma mensagem inequívoca não somente ao Reino Unido e aos EUA, mas a todo o mundo em geral, de que é uma nação soberana e só toma as decisões que atendem aos seus interesses", disse.

Em resumo, ele também observou que na Espanha estão crescendo as vozes, entre elas de pessoas tão "relevantes" como o coronel Pedro Baños, que defendem a "consolidação da relação de amizade" entre os dois países nas áreas econômica, humanitária ou militar, em vez de "estarem envolvidos em um confronto por imposição de nações estrangeiras".

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